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    Priscila Yazbek
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    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    Macron visita o Brasil entre 26 e 28 de março em meio a divergências com Lula

    Presidente da França e Lula se encontram em meio ao esfriamento do acordo Mercosul-UE, às guerras em Gaza e Ucrânia e eleições na Venezuela

    O presidente da França, Emmanuel Macron, fará sua primeira visita oficial ao Brasil entre os dias 26 e 28 de março. Também é a primeira viagem oficial de um presidente francês ao Brasil depois de dez anos, desde quando François Hollande visitou o país em 2013, na gestão de Dilma Rousseff.

    A viagem já tinha sido antecipada por Macron e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Fontes diplomáticas disseram à CNN que a viagem será entre os dias 26 e 28 deste mês. O Senado brasileiro também divulgou uma nota afirmando que a viagem acontecerá no fim de março e que Macron será recebido pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, no dia 28.

    Macron deve iniciar o itinerário por Belém, depois da viagem à Guiana Francesa, e deve visitar também Itaguaí – base do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) no Rio de Janeiro -, Brasília e São Paulo.

    A viagem acontece em meio ao esfriamento do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE), às guerras em Gaza e Na Ucrânia e à repressão à oposição nas eleições venezuelanas.

    Macron e Lula têm posições divergentes nesses temas, por isso as diplomacias de ambos os países são cautelosas ao falar sobre as pautas da viagem e preferem dizer que o foco será em temas bilaterais.

    Fontes afirmam que mais de dez acordos devem ser realizados entre os países em áreas como: cooperação técnica para gestão pública; meio ambiente; cooperação transfronteriça, para tratar da segurança na fronteira com a Guiana Francesa e de medidas penais e de extradição; direitos humanos; saúde; e reformas de governança global – a França apoia o pleito do Brasil por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

    Em novembro, Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esteve em Paris para participar de uma conferência sobre Gaza.

    Na ocasião, teve uma reunião com Macron na qual discutiram os assuntos da viagem do presidente francês ao Brasil.

    Diante do imbróglio sobre o acordo Mercosul-UE, fontes que acompanharam as discussões afirmam que o foco das conversas será a relação Brasil-França.

    Os dois países concordaram em realizar um novo ano do Brasil na França e da França no Brasil em 2025, iniciativa com o objetivo de aprofundar as relações bilaterais no âmbito cultural, acadêmico e econômico.

    Acordo Mercosul-UE

    Em janeiro, Emmanuel Macron disse em entrevista exclusiva à CNN Brasil que não apoia o acordo entre Mercosul e UE da maneira como ele está colocado e condicionou o avanço das negociações à inclusão de cláusulas-espelho, mecanismo que prevê que produtos entrem na União Europeia apenas se seguirem as condições impostas internamente no bloco.

    Com as recentes greves de produtores rurais na França e em toda a Europa, o tema se tornou ainda mais espinhoso.

    Ao participar da Feira Agrícola de Paris em fevereiro, Macron foi vaiado por grupos de agricultores, que entre outras demandas pedem o fim de acordos comerciais com países com forte vocação agrícola e mencionam especificamente o acordo Mercosul-UE.

    Presidente francês, Emmanuel Macron, recebe Lula para jantar oficial em Paris – 22/06/2023 / Antoine Gyori – Corbis/Corbis via Getty Images

    Venezuela

    Stéphane Séjourné, ministro de relações exteriores da França, esteve no Brasil em janeiro para participar do G20.

    Na ocasião, teve uma reunião com seu homólogo brasileiro, o chanceler Mauro Vieira. Os franceses afirmaram que conversaram sobre a preparação para a visita de Macron ao Brasil “com objetivos de fortalecer o relacionamento bilateral”.

    E também informaram que houve “discussão sobre a situação na Venezuela e forte apoio aos esforços de mediação do Brasil”.

    Enquanto a França apoia eleições livres na Venezuela, Lula tem enviado sinais dúbios sobre a situação no país vizinho, liderado pelo seu amigo de longa data Nicolás Maduro.

    A polêmica mais recente envolveu um comentário de Lula sobre a opositora de Maduro, Maria Corina Machado, impedida de concorrer às eleições.

    Lula disse que não ficou “chorando” quando foi impedido de concorrer às eleições em 2018, comentário visto como uma referência à Corina, o que o Palácio do Planalto posteriormente negou.

    Na reunião entre Séjourné e Vieira no G20, foi anunciado que Macron chegaria ao Brasil por Belém, sede da COP25, e passaria por outras três cidades: Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde visitará um dos projetos navais mais avançados do Brasil, depois Brasília e São Paulo.

    A nota do Palácio do Eliseu desta terça-feira diz que um comunicado posterior será divulgado com informações detalhadas sobre o cronograma da viagem.

    Guerras na Ucrânia e em Gaza

    Os grandes conflitos do momento em Gaza e na Ucrânia também devem estar na pauta. Na viagem a Paris em novembro, Amorim conversou com o presidente francês sobre a guerra na Ucrânia, manifestando a posição brasileira de tentar mediar uma solução pacífica para o conflito.

    O Brasil defende que a estratégia de países europeus e dos Estados Unidos de fornecer armamentos aos ucranianos contribui para prolongar a guerra, enquanto a França tenta liderar os esforços da União Europeia para envio de mais armas a Kiev.

    Macron chegou inclusive a aventar a hipótese de envio de tropas à Ucrânia, causando desconforto entre potências ocidentais.

    Sobre a guerra em Gaza, enquanto a França inicialmente condenou de forma mais veemente os ataques do Hamas, o Brasil defende que o conflito é resultado de anos de ocupação israelense em territórios palestinos.

    E recentemente, Lula comparou a ofensiva israelense ao holocausto, levando Israel a declarar o presidente brasileiro como “persona non grata”.

    Convites reiterados

    O convite para Macron visitar o Brasil tem sido reiterado desde o início do mandato do governo Lula. Fontes afirmam que o presidente Lula chegou a ir a Paris para a cúpula de Macron sobre um pacto financeiro global, em junho de 2023, justamente para insistir que o presidente francês participasse da Cúpula da Amazônia, realizada em Belém em agosto do ano passado.

    Mas o presidente francês não foi a Belém porque as datas batiam com suas férias, segundo fontes. Desde então, as diplomacias dos dois países buscavam uma data para a primeira viagem oficial de Macron ao Brasil acontecer.

    *O texto foi atualizado às 16h44 de 12/03/24. Diferentemente do que foi publicado anteriormente, o Palácio do Eliseu ainda não confirmou as datas oficialmente.