Rússia tortura sistematicamente prisioneiros de guerra ucranianos, diz órgão da ONU
País nega tortura ou outras formas de maus-tratos; situação pode constituir crime contra a jumanidade
Nota do editor: o texto abaixo contém relatos sensíveis; recomenda-se discrição
Uma comissão de inquérito da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Ucrânia disse nesta sexta-feira (15) que reuniu mais provas de que a Rússia tem torturado sistematicamente prisioneiros de guerra ucranianos, documentando ameaças de estupro e o uso de choques elétricos nos órgãos genitais.
O grupo, composto por três membros, afirmou em um relatório que a gravidade dos casos de tortura pode ser equivalente a abusos mais graves, classificados como crimes contra a humanidade, descrevendo a ocorrência como “generalizada e sistemática”.
“Os relatos das vítimas revelam um tratamento brutal implacável, infligindo dor e sofrimento severos durante a detenção prolongada, com flagrante desrespeito à dignidade humana”, afirmou o presidente da comissão, Erik Møse, aos repórteres em Genebra.
O relatório foi apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, com 47 membros, em Genebra, que decidirá em sua sessão atual se renovará o mandato da comissão por mais um ano.
A Rússia nega tortura ou outras formas de maus-tratos aos prisioneiros de guerra. A missão diplomática da Rússia em Genebra não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o novo relatório.
O órgão da ONU havia documentado anteriormente alguns casos de maus-tratos por parte das forças ucranianas contra prisioneiros russos, e Kiev pontuou que investigaria quaisquer violações.
Segundo o documento divulgado nesta sexta-feira, alguns prisioneiros ucranianos estavam com tanta fome nos centros de detenção russos que recorreram a comer sabão, vermes e restos de comida de cachorro.
Um soldado ucraniano foi espancado com tanta força que sangrou pelo ânus e foi forçado a dar saltos repetidos sobre um pé machucado, o que levou ao desenvolvimento de gangrena, informou o relatório.
Ele foi espancado ainda mais por tentar suicídio na cela usando seu próprio uniforme, segundo o relatório, o que resultou em um dedo do pé e cóccix quebrados. Ele precisou de 36 hospitalizações desde sua libertação.
“O que descobrimos reforçou nossas conclusões anteriores (sobre tortura) e as torna ainda mais sólidas”, destacou Møse.
Perguntado sobre o que mais era necessário para determinar formalmente os crimes contra a humanidade, ele ressaltou precisam de mais provas de que a tortura fazia parte de uma política russa.