Roteiro 48 horas: uma viagem gastronômica por Buenos Aires
Com a desvalorização do peso, a grande oferta de voos e a facilidade de entrar no país, a capital da Argentina tornou-se o destino internacional mais visado pelos brasileiros em 2022
Sua mãe sempre te ensinou: não é porque todo mundo vai que você precisa ir também. A questão é que com os posts nas mídias sociais, o câmbio favorável e as promoções de voos, passar um final de semana em Buenos Aires virou uma necessidade. Ao menos para quem é glutão!
Além de acalmar estômagos insaciáveis, a cidade satisfaz a busca por diversidade e arte. Dois dias podem até não ser suficientes para descobrir tudo, porém, de restaurante em restaurante, um final de semana te surpreenderá.
Dia 1
As 48 horas só começam a correr ao pisar na capital argentina. E, sim, elas voam. Portanto, certifique-se de escolher uma localização estratégica como a do Home, um hotel boutique em Palermo Hollywood, com diárias a partir de US$ 130 e um belo jardim com piscina.
Outra vantagem é que seu café da manhã é à la carte, o que te fará refletir se vale a pena pedir ovos benedicts, iogurte de búfala e medialuna (o croissant adocicado venerado pelos portenhos) de uma só vez ou guardar espaço para os cafés que pululam pela cidade.
Supondo que você chegará às duas da tarde da sexta para o check-in, apresse-se em deixar a bagagem e caminhe até o Picaron. São menos de 20 minutos para te deixarem prontinho para os picarones (um bolinho de chuva de batata doce laranja), a berinjela queimada, o maialino (pancetta curada) tonnato, o abacate assado e o sorvete de chocolate com missô e gergelim.
Pela curta distância e a grande fome, você pode não ter reparado, mas já não está em Palermo e sim em Chacarita, o bairro mais efervescente da gastronomia local. Calma! Nem por isso você deve correr a outro restaurante. A maratona só está começando e você está ao lado da Falena.
Os títulos de poesia, moda, artes plásticas e cozinha são escolhidos a dedo por Marcela Giscafré que, ao mesmo tempo, cuida do jazz na vitrola, do fogo na lareira, da galga que habita o lugar e ainda oferece um café.
Ou uma tacinha de vinho: “Apesar de ser preciso tocar a campainha, não é uma livraria a portas fechadas. É uma biblioteca sem guarita, que permite que quem entre sinta intimidade com os livros”.
Saindo de lá, dê alguns passos rumo a happy hour. No La Fuerza, os vermutes artesanais protagonizam versões de negroni, spritz e até caipirinha de tangerina. Vão tão bem com a fainazetta (massa de grão de bico com mozzarella, cebola carameliza e cebola roxa crocante), que provocam o apetite!
Por sorte, você está a poucos metros do ApuNena, o acolhedor filipino que serve tapas asiáticas inspiradas nas receitas da avó da chef Christina Sunae.
Vale pedir o bola bola (bao recheado com porco, camarão e shitake), a kaliskis (“empanada” folhada de lula) e o lumpia y maní (rolinhos de vegetais, macarrão de arroz, ervas frescas e molho de amendoim). Tudo casa perfeitamente com o branco (torrontés) da casa e não pesa.
Em outras palavras, o tour pode continuar pela vizinhança mesmo. Que tal no NaNum? Nesse coreano-portenho de Marina Lis Ra há kimchi quente e de verduras da estação.
A mesma originalidade se nota no ceviche de mexilhões (com suco de kimchi, romã e granola de trigo sarraceno) e no ganjang tteokbokki (“nhoques” de arroz que ora vêm com cogumelos, ora com grana padano, ora com lagostim). Saideira? Bem ali, o gim tônica de chá de jasmim é suficiente para encerrar os trabalhos!
Dia 2
Uma dose de cafeína ou um dos chás artesanais do hotel podem despertar suas papilas para as próximas 24 horas de gula.
Uma vez alertas, caminhe ao Oli Café. A pé são 5 minutinhos, já a fila… Aproveite para cultivar as próprias lombrigas espiando a vitrine de doces e folhados do dia. Na dúvida? Um croissant impecável com queijo e presunto e uma fatia de selva oli (uma floresta negra cheinha de doce de leite) resolvem!
Ok, comida é cultura e você já viajou por diferentes tradições argentinas e regiões asiáticas até aqui. Ainda assim, que tal um respiro?
A Masterplan organiza caminhadas culturais como a de street art. Em cerca de três horas (versões mais curtas são negociáveis), Gimena Bilbao apresenta a gênese do movimento na Argentina e uma série de muros e artistas emblemáticos que estampam Palermo e Colegiales, o bairro vizinho.
Aliás, se ao cabo, a fome ainda não tiver dado as caras, no limite entre eles fica o Mercado de las Pulgas. Um galpãozão cheinho de antiguidades por dentro e grafites por fora, que podem exercitar os conhecimentos recém-adquiridos.
Enfim, hora daquela arte que nos move – a gastronômica.
Como não poderia deixar de ser, em Buenos Aires ela se expressa na parrilla. No caso do La Carnicería, em seu entorno também.
Primeiro business de dois chefs inquietos e criativos, Germán Sitz e Pedro Peña, o Carni deu um olhar irreverente ao tradicional “asado”. Desde sempre a carne é de pasto e vem de uma cooperativa de La Pampa, fundada pela família de imigrantes judeus da Germán.
Desperdício é uma palavra que nem passa perto do curto menu: o tutano serve de manteiga para o pão, os chinchulines (intestinos) viram snacks crocantes com ótimos picles, a costela é defumada. Além disso, todos os embutidos são feitos ali.
Sem grandes esforços, uma mesa de quatro pessoas gulosas gabarita as entradas e dois cortes.
Feito isso, estique as pernas para a sobremesa. Da mesma dupla, a Juan Pedro Caballero é uma taquería e churrería e tem uma obscenidade chamada lemon pie, um churro “chido” (bonitão e “muy bueno”), com curd de limão e merengue.
A próxima parada também será em mais uma casa dos meninos. Antes, porém, recomendamos uma siesta!
Recuperado, aí, sim, dirija-se ao case Niño Gordo. Provavelmente, trata-se do restaurante mais festivo do país. Queridinho por chefs, artistas e celebridades é um match perfeito entre ambiente e cozinha.
Ali, jamais te recriminarão se você quiser bancar a criança gordinha com olho maior que a barriga, contudo, certifique-se de chegar reservando o katsu sando, pois há quantidade limitada do tenríssimo corte de novilho usado para recheá-lo.
Ainda que você saia rolando de lá, nada melhor para a digestão do que uma andada e um “bajativo”, aquele drink que funciona como chá de boldo – com a diferença de ser delicioso, obviamente.
A dica? Partir ao CôChinChina e se acabar no “la vida que me merezco”, criação da prestigiada barwoman Inés de los Santos com tequila prata, cordial de abacaxi e baunilha.
Dia 3
Contando que seu primeiro dia começou às 14h, as 48 horas só se esgotarão às 14h, certo? Sem desespero, pergunte se rola um late check-out, mas se você estiver viajando com uma mochila levante pronto para embarcar.
Na rua de trás do Home fica o Las Flores, um novo e hypado jardim que abriga um café só com itens sem glúten. Ainda que com um pé atrás, vale provar o alfajor de maisena, o bolo de cenoura e especiarias e a tostada com cogumelos.
Caso caiba na sua agenda, às 11h começa a feirinha de Palermo, na Plaza Serrano, com objetos de design, roupas vintage e afins. Senão, o melhor é economizar as mordidas matinais e correr para o Café Mishiguene. Afinal, amamos despedidas em grande estilo!
Por lá, percorra a Israel do premiado chef Tomas Kalika por meio de pães assados na hora, homus variados, falafel, picles caseiros, truta defumada, sanduichinhos de pastrame, babkas e o que mais der tempo de devorar até o seu embarque.
Inevitavelmente, você partirá com vontade de ficar. Quer um prêmio de consolação? Low costs como a Flybond propõem ida-e-volta por uns R$ 600 recorrentemente e mesmo que não deem direito ao despacho de bagagem, na mão mesmo, você pode trazer 6 garrafas de vinho!