Roteiro 48 horas: romantismo etílico-gastronômico no alto da Serra da Mantiqueira

Natureza e delícias locais tornam a Serra um destino sob medida para casais apaixonados e glutões; aqui, confira o que fazer quando você tem apenas dois dias para o passeio

Fernanda Meneguetticolaboração para o Viagem & Gastronomia

Agora que o inverno chegou e as temperaturas despencaram no Sudeste, vamos combinar: friozinho pede lareira, montanha e gordices para aquecer corpo e alma. Para não arruinar a silhueta e nem a conta bancária, montamos um roteiro completo de dois dias – suficiente para se relaxar e saborear o melhor da Mantiqueira. 

Dá tempo de descobrir azeites incríveis, comer embutidos e queijos curiosos, harmonizá-los com os vinhos locais e com o panorama das montanhas cheinhas de araucárias da região. Duvida? Pegue seu mozão, keep calm e suba a serra! 

Dia 1

Ok, entre os estados de São Paulo e Minas há pelo menos meia dúzia de cidadezinhas charmosas que dividem o mesmo terroir. A mais famosa (e óbvia) delas, é Campos do Jordão. Mas também há São Bento do Sapucaí, Gonçalves e Santo Antônio do Pinhal, que recomendamos como ponto de chegada e de abrigo.

Nada que impeça um pit stop na Queijaria do Jordão, onde Manuel Barroso, português expert em microbiologia, homenageia sua terra com o Queijo do Jordão, um laticínio que tem a cara do ícone da Serra da Estrela, porém, ao invés de ser feito com leite cru de ovelha e flor de cardo (uma prima da alcachofra), utiliza leite de gado de Jersey, o que suaviza o paladar sem abrir mão da cremosidade. 

No entanto, se a ideia for mesmo chegar com tudo, vale iniciar por um almoço no Donna Pinha. Belisquetes como a casquinha ou o bolinho de truta defumada são clássicos que antecedem perfeitamente pratos com o peixe fresquinho. 

Ambiente do Restaurante Donna Pinha em Santo Antônio do Pinhal / Fernanda Meneguetti

A depender da sazonalidade, a chef Anouk Migotto recorre a acompanhamentos como pinhões, alcachofra, frutas vermelhas e cogumelos. Mas sempre há o arroz piaguí (o preto nativo, que aparece até na versão doce) e maracujá, molhos à base de queijos regionais, serviço acolhedor e barulhinho de riacho.

É natural que, após o almocin, surja a necessidade de uma bela siesta, não é mesmo? Esta é a hora de se instalar numa hospedaria com charme e conforto, como a Pousada do Cedro. 

Café da manhã da Pousada do Cedro, em Santo Antônio do Pinhal  / Tomas Rangel

Cada um de seus 10 lofts contam com king sizes convidativas, varanda com rede, lareira, ofurô e vista verde. Na área comum, há piscina e jacuzzi, sauna seca e úmida e spa – atividades que devem ser reservadas. Já ao redor, trilhas e cachoeiras podem ocupar o tempo livre. 

Se depois de usufruir dessas experiências a preguiça bater, nem é preciso se dar ao trabalho de sair: o lugar dispõe de uma cantina particular, com massas caseiras frescas, caso do papardellini com ragu bovino e do scialatielli napolitano, pasta rústica com tomate, shitake, provolone e berinjela.

Sopinhas podem usar ingredientes da horta orgânica e acompanhar pães caseiros. Sobremesas podem abusar do mel igualmente produzido por lá!

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Dia 2

Não que você tenha que madrugar, claro, mas o dia promete, portanto, resista a passá-lo indoor. Aposte numa boa dose de cafeína, mas não exagere nas guloseimas, pois o dia propõe um bocado de tentações… 

Sendo assim, comece por digerir o desjejum com arte. A dica é agendar uma visita ao ateliê de Morito Ebine. Japonês de Yaita, não é um marceneiro, mas um artesão e venerador da madeira. Escuta cada árvore, respeita seu ciclo vida e esculpe apenas o que ela permite, exibindo seus veios, sempre com encaixes, jamais com pregos e perfurações brutais.

Uma cadeira pode levar um mês para nascer, uma mesa, três. Cada peça é inimitável, ainda assim, quem se empolgar com o assunto, vira e mexe ele abre pequenas turmas para cursos mão na massa!

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Dali, vale esticar até o Sabiá. Ranqueado entre os 10 melhores azeites do mundo pela respeitada lista espanhola Evooluem, ele é fruto do sonho de uma jornalista e de um publicitário que trocaram a criação de gado de corte pela olivicultura e, desde 2018, colhem as safras nos aclives da Mantiqueira. 

O carinho com as azeitonas de três variedades (as espanholas arbequina e arbosana e a grara koroneiki) resulta em óleos monovarietais puríssimos e em um blend especial, que podem ser provados com ajuda de um especialista in loco e, claro, levados na mala também.

Fazenda Sabiá produz azeite ranqueado entre os 10 melhores do mundo pela respeitada lista espanhola Evooluem / Willy Biondani

Aproveite para colocar a aulinha de degustação de azeite em prática e siga para o Espaço Essenza. A 1.200m de altitude, trata-se de uma estância climática com produção de azeite, mas igualmente de ovos orgânicos, mel, morango, limão siciliano, trutas e videiras de Sauvignon Blanc, Shiraz e Cabernet Franc que, por sua vez, dão origem a vinhos de mínima intervenção. 

Entre eles, o rosé acaba de ser premiado pela Decanter World Wine Awards 2022 como o melhor da categoria no Brasil. Um vinho fresco, com acidez agradável, uma joia para embalar a belíssima charcutaria caseira.

Espaço Essenza oferece primorosa charcutaria caseira / Fernanda Meneguetti

Sob os auspícios de Domenico Trocino, italiano da Calábria, dela se destacam itens como o speck (espécie de presunto cru, delicadamente defumado e curado por no mínimo oito meses) e o guanciale (iguaria feita com a bochecha do porco que dá origem a receitas dos molhos carbonara e amatriciana). 

Juntos à autêntica linguiça calabresa, a azeitonas e ao pão de longa fermentação figuram degustações guiadas, mas também podem originar piqueniques sem pressa. Ambas as alternativas, importante dizer, precisam ser agendadas pelo telefone (12) 99687-3643. 

Considerando que a boquinha não foi devastadora, uma saideira é mais do que bem-vinda, justa. Se for na Vinícola Villa Santa Maria no Vale do Baú, na vizinha São Bento do Sapucaí, certeza que ela será em grande estilo! 

Em formação desde o início dos anos 2000, o complexo etílico-gastronômico oferece tours seguidos de degustação, caminhadas livres, piqueniques no meio dos vinhedos ou da mata, além de experiências na Bruschetteria da Villa, restaurante com ambientes distintos, que serve menu degustação, assim como tábuas de frios e bruschettas, tudo devidamente casado com os rótulos próprios.

Rótulos da Vinícola Villa Santa Maria / Divulgação

Sob o nome de Brandina (homenagem à matriarca da família proprietária, a Carbonari), eles se dividem entre tintos, brancos e rosés à base de Syrah, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Viognier, vinificados em Minas Gerais, mas consumidos majoritariamente lá mesmo, apesar da charmosa lojinha física e do e-commerce.

Ah, não custa avisar: para garantir esse final feliz na Villa é necessário agendá-lo pelo Tel.: (12) 99633-0222.

* A jornalista viajou a convite da Pousada do Cedro. 


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