Ramadã: entenda o que é, curiosidades e como se comportar em países islâmicos nesse período
Entre março e abril é o período do Ramadã; entenda o que é, descubra curiosidades e pontos de atenção ao viajar nesta época para países islâmicos
“Ramadan Mubarak“. É com esta frase, dita em árabe, que os cerca de 2 bilhões de muçulmanos do mundo deverão começar o mês mais importante do ano para o islamismo: o Ramadã. A expressão é usada para desejar que este período – tão esperado por eles – seja abençoado.
O nome Ramadan – ou Ramadã (em português) – é dado ao nono mês do ano da religião islâmica, regida pelo calendário lunar – que possui 354 ou 355 dias. Em 2024, ele tem início previsto para 10 de março e término em 8 de abril, podendo variar um dia para mais ou para menos por conta da lua.
Na religião, todos os meses levam um nome e o nono é chamado de Ramadã, que, segundo o islamismo, foi o mês em que Deus – em árabe Allah – revelou o livro sagrado para eles, o Alcorão.
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Apesar de leigos acharem que é apenas um período de jejum, o Ramadã é muito mais do que isso. Este é o mês usado pelos muçulmanos para reflexão, balanço e estreitamento de laços com Deus e pessoas ao seu redor. É como se fosse um período para que todos buscassem suas melhores versões.
Sua importância geral deve ser levada em consideração pelos turistas ao planejarem uma viagem a países em que o islã tem forte presença, como Indonésia, Emirados Árabes, Qatar, Egito, Síria, Marrocos, Turquia, entre outros.
“O Ramadã é um período em que buscamos deixar tudo o que é ruim de lado. O jejum não é só de comida, mas também de espírito. Além de não comermos, é preciso nos atentarmos a coisas do dia a dia, como evitar tocar em assuntos ruins, falar ou ouvir mal de pessoas, entre outras pequenas ações do dia a dia. Intensificamos as rezas e é um período de muita alegria. São dias de renovação e grandes mudanças”, explica Mariam Chami, influenciadora que soma quase 800 mil seguidores em seu Instagram.
É por lá que a brasileira e muçulmana de 32 anos desmistifica muitas coisas sobre a religião e traz informações ao seu público, que calcula ser formado por 90% de não muçulmanos.
O que os turistas precisam saber sobre o período?
A questão da alimentação, mais conhecida quando se fala em Ramadã, é um ponto importante de fato. O jejum é seguido à risca pelos muçulmanos – que não devem ingerir nada sólido, gasoso ou líquido da Aurora ao Pôr do sol – nem água.
Em alguns países isso pode durar mais ou menos horas por conta de questões climáticas. No Brasil, ele deve acontecer entre 6h e 18h – são estimadas cerca de 1 milhão e 100 mil pessoas muçulmanas no país.
“O jejum é uma ordem dada por Deus e deve ser seguido por todas as pessoas mulçumanas que estejam sãs e com saúde para suportar este desafio. É uma das maiores e mais sinceras adorações a Deus, porque ninguém pode enxergar”, ressalta o Sheikh Jihad Hammadeh, professor historiador, cientista social e líder religioso do islamismo.
Entretanto, isso não faz com que outras atividades sejam modificadas ou paralisadas durante o dia. Muito pelo contrário: a orientação é que todos sigam suas vidas normalmente. Por isso, principalmente em países em que o turismo é forte, os principais pontos de visitação continuam abertos.
“Não há de forma alguma problema em viajar a estes países durante o Ramadã, mas se eu pudesse dar um conselho, falaria para escolherem outras épocas para se sentirem mais à vontade e encontrarem mais coisas locais abertas, como barracas na rua de comida e sucos, por exemplo”, completa Sheikh.
Caso seja a data escolhida pelo turista, o líder religioso e professor ressalta que não comer nas ruas durante o dia é um ato delicado e esperado pelos mulçumanos em sinal de respeito. A forma de se vestir, evitando a exposição do corpo, também é vista de maneira respeitosa. Ele, entretanto, faz questão de enfatizar que jamais haverá punição ou hostilização a algum turista menos atento.
Os pontos turísticos ficam abertos?
É claro que cada país e suas diversas cidades possuem particularidades quanto a aberturas e fechamentos no período de Ramadã – restaurantes e barracas muito locais podem fechar durante o dia, por exemplo. É recomendado entrar em contato direto com o local durante o mês para confirmar se há alguma mudança, mas em linhas gerais tudo segue de forma normal.
Em Dubai, nos Emirados Árabes, por exemplo, a grande maioria de estabelecimentos fica aberta. Inclusive, alguns locais têm horários estendidos para que as pessoas possam fazer compras, socializar e passear depois do desjejum.
Além disso, a época pode ser oportuna para quem deseja conhecer melhor a cultura do país, pois, durante o Ramadã há eventos culturais em toda a cidade. O Ramadan Night Market, por exemplo, é um mercado popular que funciona durante a noite e oferece uma grande variedade de produtos, como roupas e decoração, além de grande variedade de opções culinárias, da comida árabe tradicional à gastronomia internacional.
Visitantes também podem conhecer o Museu Etihad, dedicado à história dos Emirados Árabes Unidos que, nesta época, possui uma programação especial.
Os shoppings também oferecem atrativos. Além do horário de funcionamento estendido há também opções de entretenimento ao vivo, como música tradicional e apresentações de dança.
Curiosidades sobre o Ramadan
A brasileira e nutricionista de formação Mariam Chami é filha de mãe mineira e pai libanês muçulmanos. Cresceu em um lar onde desde nova se interessou pela religião e sempre gostou de falar sobre o assunto com amigos.
Ela usa suas redes sociais de forma didática e leve para desmistificar assuntos do islã. Seu vídeo que teve mais alcance foi falando – de forma irônica – como seu casamento foi “arranjado”, arrancando boas risadas dos seus seguidores.
Com o Ramadan chegando, ela pretende soltar em breve um conteúdo completo nas suas redes, mas adiantou muitas curiosidades em entrevista à CNN Viagem & Gastronomia.
Em um dos primeiros tópicos, fez questão de quebrar um mito que sempre rodeia o período. “Todos acham que o Ramadã é uma época triste e de amargura aos muçulmanos, principalmente por conta do jejum, mas é totalmente o contrário. É uma época muito feliz, de nos reconectarmos com pessoas que gostamos e de festejarmos. É como se fosse a época de Natal aos cristãos, em que todos confraternizam, colocam suas melhores roupas e visitam as casas de amigos” conta.
“Eu comecei a fazer o jejum com cinco anos, quando ainda não era obrigatório. Por ver meus pais fazendo, achava muito legal e comecei aos poucos. É uma época em que enfeitamos a casa, preparamos um jantar gostoso e estamos focados em fortalecer nossa família e laços”, completa Mariam, que teve oportunidade de passar o período na Palestina e Jerusalém, em Israel. Neste ano, ela pretende visitar ou Dubai ou a Turquia.
Conheça mais o Ramadã, suas particularidades e curiosidades:
- O Ramadã é o nono mês do ano islâmico, regido pelo calendário lunar. Com duração de 29 ou 30 dias. Só é possível saber do seu início exato na semana prevista – podendo variar de um a dois dias por conta da mudança de lua.
- Todos os anos o seu início cai por volta de 10 dias antes do ano anterior.
- Durante o Ramadã, os muçulmanos devem jejuar da Aurora ao pôr do sol. Neste período não é permitido consumir nada sólido, gasoso ou líquido – incluindo água, soro ou até mesmo fumar. No período também não é permitido ter relações sexuais.
- Durante o Ramadã, o dia começa antes do sol nascer, com o Suhoor – nome dado ao café da manhã pré-período de jejum, que pode ser tomado ou não. O recomendado é que sejam consumidos alimentos leves.
- O jejum é obrigatório a todos os mulçumanos após a puberdade, porém há exceções como: mulheres grávidas, amamentando ou em período menstrual; pessoas com saúde debilitada e pessoas que não estão sãs.
- Caso o muçulmano esteja em alguma viagem, ele também não é obrigado a fazer, devendo repor esses dias em seu retorno.
- O jejum deve ser quebrado com água ou tâmaras. Além de alto valor nutricional, foi uma orientação passada por Allah ao profeta Mohamed.
- As orações são intensificadas neste período. Além das 5 obrigatórias, há inclusão de mais uma que pode ser feita em casa ou em mesquitas após a última do dia.
- O Iftar é o nome dado à refeição depois do jejum. Jantares com muitos doces e diversos tipos de comidas típicas são servidos nas casas das famílias, que costumam convidar amigos para a confraternização.
- Os mulçumanos seguem com suas rotinas neste período, podendo exercer suas atividades normalmente, como por exemplo, trabalhar.
- Há uma festa para comemorar o fim do Ramadã, chamada Eid el-Fitr – é o feriado do desjejum. Ela representa o êxito do muçulmano ter conseguido jejuar, superar suas vontades e exercer o seu autocontrole. É obrigatório fazer uma doação a pessoas necessitadas, para que elas também tenham condições de comemorar o período como todos.
- Lembre-se: ao visitar um país com forte presença do islamismo durante o Ramadã, evite comer pelas ruas e usar roupas com o corpo à mostra, respeitando a crença e cultura locais.