Lisboa descolada: bairros e complexos que unem gastronomia, cultura e agito

Na capital portuguesa vale reservar um tempinho para fugir do óbvio e apostar em pontos que têm despontado na cena mais "cool" da cidade

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia , Lisboa, Portugal

Secular e moderna, tradicional e descolada, Lisboa é assim: um balanço gastronômico e cultural extremamente rico que se inspira no passado mas mira no futuro.

Capital mais ocidental de toda a Europa, Lisboa é também um dos destinos mais visados – e visitados – por nós brasileiros. E não é à toa: sua gastronomia é uma das melhores do mundo, a cultura vibrante reflete-se nas construções históricas que são patrimônios mundiais e os diferentes bairros – são 24 freguesias ao todo – reúnem boemia, hotéis requintados e vida social agitada.

Viajar para a capital portuguesa é, portanto, deixar se surpreender pelos seus cantos, aromas e história.

E quando tudo isso se mistura? É aí que certos mercados e bairros lisboetas ganham uma sobrevida e nos presenteiam com um lado mais cool e descolado da cidade.

Seja no Cais do Sodré, região central à beira-mar antes deteriorada e que hoje possui agito noturno, ou ainda no LxFactory, antiga fábrica que virou um complexo cheio de lojinhas e restaurantes, Lisboa possui variados pontos dignos de serem colocados num roteiro além do óbvio.

Depois de conhecer os principais pontos turísticos da capital portuguesa – que devem sim ser visitados! – é hora de degustar aos poucos novos lugares e sabores.

Experiências gastronômicas

Time Out Market

[cnn_galeria active=”96518″ id_galeria=”96515″ title_galeria=”Time Out Market Lisboa”/]

O que um time editorial faz dentro de um mercadão? Podemos encontrar a resposta no Time Out Market de Lisboa. É um mercado – e parada obrigatória – da cidade que conta com 26 restaurantes, oito bares, mais de 10 espaços comerciais e uma sala de espetáculos.

Seu nome original, porém, é Mercado da Ribeira, inaugurado no comecinho de 1882. Desde então, sofreu várias ampliações e reformas. Com uma história que vem desde o século 19, foi apenas em 2001 que recebeu um novo piso e começou a agregar também vertentes sociais, culturais e recreativas.

Com 10 mil m² de área coberta, o espaço foi concessionado à equipe da “Time Out”, marca editorial que realiza uma filtragem de atrações – foi assim que fortes e variados nomes gastronômicos entraram para o local, tudo testado e aprovado pelo time de críticos e jornalistas da publicação.

Por aqui, carnes, peixes, hambúrgueres, sushi, sorvetes, bolos, pastéis de nata e ótimos vinhos com bom custo-benefício podem ser apreciados pelos corredores, tudo debaixo do mesmo teto numa atmosfera para lá de bacana. Mesas e cadeiras espalhadas por todo o recinto ajudam na tarefa – o local tem um caráter de comedoria e o design interior tem pegada toda moderninha.

No mercado, experimentei os deliciosos embutidos e queijos da Manteigaria Silva, que também possui unidades no Chiado e na Baixa e tem mais de um século de tradição. Deliciosas fornadas de pastéis de nata saem a toda hora de outra loja tradicional, a Manteigaria, onde os docinhos tipicamente portugueses são vendidos por 1 € a unidade.

Se deseja levar alguns vinhos para casa, bons rótulos por até 10 € podem ser adquiridos na Garrafeira Nacional, uma das únicas lojas do pedaço.

A iniciativa do espaço deu tão certo que o grupo replicou o conceito em diversos lugares do mundo – falo de Nova York, Miami, Dubai e Chicago, por exemplo. Além do mais, o mercadão é um bom ponto de partida para conhecer mais a região do Cais do Sodré (conto mais abaixo), que foi revitalizada ao longo dos anos após tempos relegado a uma realidade nebulosa.

Bairro do Avillez

[cnn_galeria active=”98914″ id_galeria=”99103″ title_galeria=”Bairro do Avillez, Lisboa”/]

Se você tinha dúvida de que o Chiado é um bairro obrigatório de ser experimentado na capital portuguesa, agora não restarão desculpas.

Dedicado aos melhores sabores que Lisboa pode oferecer, aqui funciona um outro “bairro” digno de nota. Falo do Bairro do Avillez, espaço com cerca de mil m² que é lar de quatro restaurantes sob a batuta do conhecido chef José Avillez – o mesmo por trás do estrelado Belcanto, uma das melhores casas de Portugal e do mundo.

O conceito do “bairro” atravessa uma questão afetiva: o chef buscou construir um espaço que ressoasse as próprias memórias e lembranças vindas de tradicionais bairros lisboetas. Logo, junte isso a pontos gastronômicos caprichados e temos um point badalado na cidade.

Além de uma esplanada, aqui há o Taberna, onde sabores tradicionais portugueses são reinventados e servidos de maneira caprichada, bom para petiscar e apreciar um prego, bifana ou pluma de porco alentejano. Os queijos e a charcutaria são, inclusive, vindos da parceria com a Manteigaria Silva.

Já o Páteo, no centro do Bairro do Avillez, serve mariscos, petiscos, carnes, peixes e sobremesas, tudo muito bem acompanhados por uma taça de vinho ou uma cerveja local.

O Mini Bar é onde pequenas descobertas gastronômicas cheias de sabor se misturam ao ambiente intimista ao lado de bons coquetéis especiais, vinhos e cervejas – às quintas, sextas e sábados, depois do jantar, ganha uma alegria extra ao se transformar em um espaço com música e ótimo para dançar.

Por fim, há também a Pizzaria Lisboa, que, no andar superior em um ambiente descontraído, serve entradinhas para compartilhar e pizzas finas.

O interior do empreendimento é recheado de mesas e cadeiras, possui entrada de luz natural e cantinhos minuciosamente decorados, como um verdadeiro bairro de Lisboa. É definitivamente uma descoberta gastronômica e tanto na capital portuguesa, ainda mais vinda das mãos de um dos chefs que colocam Portugal no radar da gastronomia mundial.

O espaço funciona todos os dias no almoço e no jantar, mas os horários específicos de cada restaurante mudam – confira as informações no site oficial.

LxFactory

[cnn_galeria active=”93733″ id_galeria=”96514″ title_galeria=”LxFactory Lisboa”/]

A região de Alcântara ainda carrega características portuárias e um sentimento bairrista bem português que se mistura às novas manifestações pelas ruas e muros. Aqui o passado industrial à beira do Tejo encontra um presente artístico, sendo também um movimentado núcleo com vida noturna.

Um bom ponto para começar a descobrir a região é o LxFactory, antiga fábrica de tecelagem de 23 mil m² da década de 1840 que agora dá lugar a um interessante complexo repleto de lojinhas descoladas, bares e restaurantes.

O terreno foi comprado em 2005 por uma empresa imobiliária estrangeira, que o transformou no que conhecemos hoje. É uma parada muito válida na cidade, já que tem atividades para todos os gostos. Em números: são 18 restaurantes e bares, 33 lojas, cerca de 35 escritórios e espaços de trabalho. Há também um hostel no coração da fábrica e agitos culturais ao longo do ano, como exposições e exibições artísticas.

Quer conferir uma loja interessante? Vá na Livraria “Ler Devagar” e se depare com títulos incríveis e até artes performáticas. A fim de uma boquinha? A dica é parar na Beer’s e apreciar uma gama de cervejas junto de petiscos portugueses, como torresmos, gambas (camarão) ao alho, ovos rotos e burrata.

É definitivamente um centrinho criativo e no radar trendy da cidade que reúne um pouquinho de tudo e que conseguiu manter o ar rústico sem deixar de ser moderninho.

Aproveite a passagem por aqui e conheça também outros pontos típicos de Alcântara, como a Ponte 25 de Abril, que se sobressai na paisagem acima do rio; os armazéns e restaurantes das Docas de Santo Amaro e até museus – o Museu dos Carris possui bondes antigos, que são um marco do transporte público da capital, e o Museu do Oriente exibe arte asiática e portuguesa.

Experiências culturais

Cais do Sodré

[cnn_galeria active=”96608″ id_galeria=”96606″ title_galeria=”Cais do Sodré”/]

Situado na zona central, próximo ao Chiado e à Baixa de Lisboa, o bairro do Cais do Sodré fica bem à margem do rio Tejo e carrega uma história ligada às águas. Foi, por muito tempo, um lugar de parada de marujos e, consequentemente, uma região cheia de prostíbulos.

Com o passar do tempo o local acabou ficando marginalizado, mas nas últimas décadas o cenário mudou e hoje conta com uma vida noturna agitada e descolada.

Além disso, o Mercado da Ribeira, ou Time Out Market, fica aqui e é um dos personagens centrais da região, onde moradores e turistas frequentam. O acesso é fácil: há estações de trem e de metrô com o mesmo nome, além de ser rota popular entre os ônibus (chamados de autocarros por aqui).

De caráter bem boêmio, o bairro é lar da Rua Nova do Carvalho, famosa por ser a rua “cor-de-rosa”, pois possui um pavimento central nesta cor – prepare a câmera e faça alguns cliques.

A rua também se destaca na cidade por concentrar vários bares e baladas, onde um agito costuma invadir a noite – veja o local que mais te apetece e passe um tempo agradável ao lado dos amigos.

Já entre a imperdível Praça do Comércio e o Cais fica a Ribeira das Naus, conhecida por ser como uma praia urbana e onde podemos tomar sol e sentar à frente das águas – é também um bom ponto para dias mais quentes.

Para absorver um pouco mais de história, tarefa nada difícil em Lisboa, a Praça Duque da Terceira é um amplo espaço ao ar livre que possui um monumento do século 19.. É um bom local de passagem para fotos neste pedacinho atraente da capital.

Príncipe Real

[cnn_galeria active=”96614″ id_galeria=”96610″ title_galeria=”Príncipe Real Lisboa”/]

Considerado um dos bairros mais cool de toda a capital portuguesa, o Príncipe Real não pode passar despercebido no roteiro. Até pouco tempo, tinha um caráter majoritariamente residencial, mas agora pipoca novidades e tem uma cena cultural para lá de bacana.

Acima do Chiado e vizinho ao Bairro Alto, concentra alguns museus e outras atrações turísticas. Por aqui encontramos restaurantes de cozinhas diversas, bares, lojas e atividades ao ar livre.

Não deixe de ir ao Jardim do Príncipe Real, local construído ainda no século 19 que carrega um estilo romântico em suas linhas e traços. Uma das árvores da praça possui certo apelo de interesse público já que o cipreste principal possui mais de 20 metros de diâmetro. Aos sábados, uma feira orgânica traz barraquinhas e produtos de todo o país, além dos últimos sábados e segundas do mês concentrarem uma feira de artesanato e antiguidades.

Nas redondezas da praça fica a Embaixada, interessante destino de compras com lojas de designers locais que fica dentro do Palácio Ribeira da Cunha, construção neoárabe do século 19 que foi transformado em uma galeria comercial.

Por aqui também fica o Jardim Botânico de Lisboa, projetado ainda no século 19 e que é monumento nacional. Logo ao lado fica o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, com acervo voltado às áreas de história, zoologia, antropologia, mineralogia e paleontologia.

A entrada para o Jardim Botânico custa até 7,50 € e os tíquetes para o museu vão até 12,50 € – a visita aos dois pode ser combinada num único ingresso.

Quer mais cultura local? Dê uma passada na Casa-Museu Amália Rodrigues, que abre para o público a casa e a intimidade desta que foi uma das maiores fadistas de Portugal – um ícone no país. Vestidos, joias, prêmios, honras e memórias podem ser vistas de perto por aqui no local da Rua de São Bento. As visitas são sempre guiadas e é recomendada agendar horário – adultos pagam 7 €.

Logo ao lado do Elevador da Glória, modo de transporte que liga a Baixa com o Bairro Alto e é um dos símbolos de Lisboa, fica o Miradouro de São Pedro de Alcântara. O local, que conta com bancos, árvores, jardim geométrico e estátuas de heróis e deuses da mitologia grega, é um convite para admirar Lisboa, pois as vistas privilegiadas dão para o Castelo de São Jorge, a Baixa e Alfama. Vale ir ao pôr do sol e emendar com as luzes da cidade que vão sendo acesas à noite.


Tópicos