Entre rochedos e encostas, Mônaco respira Fórmula 1 e ostenta carrões e iates

Segundo menor país do mundo, cidade-estado entre França e Itália é ideal de ser visitada em um bate e volta a partir de Nice, o coração da Riviera Francesa

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia , Mônaco

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“Acho que as pessoas daqui, particularmente em Mônaco e aqui na costa, vivem cada dia como ele vem e elas não estão com tanta pressa, com tamanha correria”, disse Grace Kelly, a princesa de Mônaco, em sua última entrevista para a televisão, em junho de 1982.

Uma vez em Mônaco, segundo menor país do mundo, a frase da ex-atriz e aristocrata não é somente compreendida, mas é passível de ser sentida: encravada nos Alpes Marítimos entre as Rivieras Francesa e Italiana e banhada pelas águas de diferentes tons de azul do Mediterrâneo, o ritmo na cidade-estado é diferenciado.

Bem cuidadas, as ruas são bastante floridas e as curvas fechadas são palco para o Grande Prêmio de Mônaco, mais tradicional e mais importante prova da Fórmula 1 – a mais recente vitória foi do holandês Max Verstappen no último domingo (28). No dia a dia, é comum avistar o movimento nas vias com carros como Ferrari, Porsche, Bentley e Rolls-Royce.

No centro antigo e nas áreas residenciais, as construções parecem fazer parte de um set de filmagem. A sensação de segurança é nítida e cada cantinho remete à aura glamourosa, exclusiva e histórica que vem acoplada ao nome do principado.

Tudo isso, claro, tem um preço. Os dois quilômetros quadrados do país têm valores imobiliários entre os mais caros da Terra e a densidade de milionários – e bilionários – é altíssima.

Um relatório de 2022 divulgado pela empresa imobiliária global Savills aponta que os preços médios por metro quadrado no principado superam € 50 mil euros (mais de R$ 265 mil). Outro relatório, desta vez da consultoria imobiliária global Knight Frank, aponta que 15 metros quadrados no território não saem por menos de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões).

Apesar dos preços, turistas não precisam se assustar, já que é possível conhecer Mônaco sem gastar altas quantias.

Ideal de ser visitada em um bate e volta ou até mesmo em um final de semana, o pequeno país pode ser acessado de trem em apenas 21 minutos a partir de Nice, coração da Riviera Francesa, em que a passagem sai por € 4,40 (cerca de R$ 23) e o trajeto passa por cenários que margeiam a costa.

Raio-X da cidade-estado

Segundo menor país do mundo, Mônaco tem 2,02 km² e perde apenas para o Vaticano no tamanho, uma vez que a sede da Igreja Católica Romana tem apenas 0,44 km² de área. Com isso, não é necessário dias e dias para visitar esta joia escondida entre rochedos e encostas.

É inegável que as corridas de Fórmula 1, o casamento entre Rainier 3º e Grace Kelly e os cassinos catapultaram a fama de Mônaco no último século.

Alvo de inúmeras disputas ao longo da história, o território pertencia à República de Gênova até 1297, ano em que a família Grimaldi fincou seu poderio na região e continua até hoje como única linhagem no comando do espaço.

Tentativas de anexações e tratados foram feitos com o passar dos anos. Em 1641, o soberano de Mônaco e o rei da França firmaram um tratado de reconhecimento de soberania do local. O principado, porém, foi anexado pela França durante a Revolução Francesa, mas recuperou a soberania total em 1860 com o tratado de Viena.

Atualmente com cerca de 38 mil moradores, Mônaco opera sob uma monarquia constitucional, em que o príncipe é o chefe de estado. Desde 2005, quem ocupa o posto é Alberto 2º, único filho homem do príncipe Rainier 3º e de Grace Kelly. Escolhido pelo príncipe, o Ministro de Estado lidera o governo, responsável pela administração cotidiana do país.

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A língua oficial é o francês, a moeda é o euro e o país tem mais de 300 dias ensolarados no ano, em que apresenta verões quentes e secos e invernos moderados e chuvosos – julho e agosto sãos os meses mais quentes, enquanto janeiro e fevereiro são os mais gelados.

Hoje, as Forças Armadas da França são as responsáveis pela defesa militar de Mônaco. Não há postos de controle na fronteira entre a França e o país, mas é sempre bom estar acompanhado do passaporte.

O país não possui aeroporto e a chegada pode ser feita de diversas formas: o aeroporto de Nice é a principal facilidade que serve a cidade-estado, já que fica a cerca de 25 minutos do território. Dois portos servem o principado, os quais recebem grandes iates.

Uma das maneiras mais fáceis, porém, é acessar o território de trem. A partir da estação central de Nice é possível pegar o trem com destino final a Ventimiglia, na Itália, que faz parada na estação Monaco Monte-Carlo. Com vários horários disponíveis ao longo do dia, o trajeto dura pouco mais de 20 minutos e sai por € 4,40.

O que ver e fazer em Mônaco

Mônaco é um diminuto território encravado entre rochedos, o que significa que o local é dotado de subidas, descidas e caminhos íngremes. A dica fundamental é estar calçado com tênis confortáveis e preparar o fôlego.

O território é dividido em cerca de 10 distritos, em que os mais famosos são Monte-Carlo, área dos cassinos, dos hotéis emblemáticos e das lojas de grife, e Monaco-Ville, a Cidade Velha, disposta em um rochedo, que simboliza a fundação de Mônaco e onde se encontram as instalações da realeza.

Mônaco-Ville, a Cidade Velha

A visita pode começar em Monaco-Ville, onde estão dispostos o Palácio do Príncipe, a Catedral de Mônaco, o Museu Oceanográfico e vielas medievais charmosas com casas, restaurantes e lojinhas.

O distrito fica no alto de um rochedo e é acessado por meio da subida em inúmeros degraus e por rampas, o que exige fôlego. Mas todo esforço é recompensado: as vistas da Place du Palais, a praça do palácio, são espetaculares.

Todos os dias às 11h55 ocorre a troca de guardas na frente do palácio, um ritual com direito a tambores, marcha e continência. O evento diário costuma atrair turistas do mundo todo, principalmente na alta temporada, então espere por uma multidão com “paus de selfie” caso não consiga achar um lugarzinho antes do início da cerimônia.

Símbolo do principado, o Palácio tem origens que datam desde 1215, já que era uma fortaleza genovesa no século 13, e hoje pode ser visitado, em que é possível checar as mudanças que passou para se tornar uma residência real luxuosa de estilo característico da época de Luís 14.

Capela, galeria, salas ricamente adornadas, cômodos da realeza e uma série de tapeçarias e móveis, além de afrescos do Renascimento italiano que ficaram cinco séculos longe dos olhos do público, podem ser vistos por um valor integral de € 10 (cerca de R$ 54).

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Lojinhas de souvenir ficam ao redor da praça e uma caminhada pelas vielas logo a frente, com cores vivas e atmosfera super aconchegante, abrigam restaurantes e desembocam na Catedral de Mônaco, imponente construção romano-bizantina bem conservada que data de 1875.

Impressionante por dentro e por fora, a Catedral de pedras brancas tem vistas diretas para o mar Mediterrâneo do alto do rochedo. Foi palco para o casamento do Príncipe Rainier 3º com a ex-atriz americana Grace Kelly, em cerimônia em abril de 1956 assistida ao vivo por cerca de 30 milhões de telespectadores ao redor do mundo.

O silêncio reina em seu interior, com pé direito alto, e o caminho leva os visitantes até atrás do altar, onde estão os túmulos de todos os príncipes falecidos e de Grace Kelly, que morreu em 1982 após não resistir aos ferimentos causados por um acidente de carro.

Alguns passos adiante revelam o Museu Oceanográfico de Mônaco, uma enorme construção erguida bem na encosta do rochedo em 1910 pelo Príncipe Albert 1º. É um verdadeiro templo do mar dedicado aos oceanos há mais de um século.

Aquários com espécies tropicais e do Mediterrâneo, exposições temporárias, artefatos antigos e contemporâneos e um terraço com vistas sem obstruções para o mar fazem parte do local, um dos mais visitados e comentados do pedaço. A entrada inteira sai por € 19 (mais de R$ 100).

Se “perder” pelas ruelas, admirar os edifícios e imaginar a vida aqui é um bom passatempo antes de descer à cidade, em que o caminho de volta é margeado por jardins muito bem cuidados e de ambientação calma.

Monte-Carlo

Subir a Avenue d’Ostende é se deparar com vistas privilegiadas para a marina do Port Hercule com seus grandes iates atracados. Lojas de grife vão se acumulando lado a lado quando se chega na Avenue de Monte-Carlo e visitantes dão de cara com a Ópera, um edifício austero de 1870 que tem programação anual intensa.

Logo à frente fica o lendário Hotel de Paris, aberto em 1864 como parte do desenvolvimento de Mônaco com a inauguração do cassino e da linha férrea que se estendia até Paris. Hoje com 113 quartos, personalidades como Winston Churchill e Frank Sinatra eram presenças regulares, assim como a princesa Grace tinha o hotel como um dos locais favoritos no mundo.

O hotel, que passou por uma renovação de US$ 280 milhões em 2019, abriga ainda restaurantes estrelados. O Le Louis XV – Alain Ducasse at the Hôtel de Paris tem três estrelas Michelin e é descrito como uma ode ao Mediterrâneo e à gastronomia francesa. No mesmo edifício há o Le Grill, com uma estrela, que fica no rooftop e, além dos visuais impecáveis, serve uma cozinha elevada com produtos locais.

Por falar em restaurantes estrela Michelin, a gastronomia do pedaço é bem servida: outros três restaurantes possuem uma estrela, como o Pavyllon, o La Table d’Antonio Salvatore au Rampoldi e o Yoshi; e um possui duas estrelas, o Le Blue Bay.

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A parte frontal do Hotel de Paris dá para a Place du Casino, onde fica outro símbolo de Mônaco, o Casino de Monte-Carlo, figura presente no imaginário coletivo. Construído em 1863 por Charles Garnier, nome por trás da Ópera de Paris, a arquitetura da Belle Époque salta aos olhos e um átrium pavimentado em mármore dá as boas-vindas.

O salão principal é de circulação livre, assim como não se paga para tentar a sorte em alguns caça-níqueis dispostos em um salão que antecede os jogos de mesa – para adentrar esta zona, sob lustres de cristal, paga-se € 18 (cerca de R$ 97).

Por aqui, visível para o público no salão principal, estão dispostos ainda objetos de Maria Callas e cartas trocadas entre ela e a princesa de Mônaco. Chamada de La Divina, Callas, icônica cantora de ópera, mantinha uma relação próxima com Grace e a família real, sendo muitas vezes hóspede do Palácio.

Novamente na praça do cassino, uma escultura de autoria de Anish Kapoor, mesmo nome por trás do “feijão” de Chicago, atrai turistas por conta das fotos e dos reflexos dos edifícios do entorno.

Acima da Place du Casino e do Hotel de Paris vale a caminhada pelo novo quarteirão da moda, o One Monte-Carlo, um elegante shopping ao ar livre com as grifes de mais alto luxo disponíveis no mercado, além de unidades residenciais de alto padrão e espaços comerciais.

Portos, feira e praia

Dois portos servem Mônaco: Port Hercule e o Fontvieille Port, que ficam separados pelo rochedo da Cidade Velha. Ambos são locais agradáveis para caminhadas sem pressa e para apreciar as paisagens pitorescas marcadas por um grande número de iates no horizonte. O Port Hercule, inclusive, recebe anualmente o Monaco Yatch Show, exposição e feira de super iates considerada a maior do tipo de toda a Europa.

O distrito de Fontvieille tem um estádio de futebol e até zoológico com animais recuperados, fundado pelo príncipe Rainier 3º em 1954.

Distrito de Fontvieille à noite / Pierre Blache

Já um dos locais prediletos dos próprios moradores é o mercado de Condamine, que ocupa a Place d’Armes e fica repleta de cores e cheiros de produtos locais todas as manhãs.

Do outro lado da cidade-estado, para além de Monte-Carlo, fica a região de Le Larvotto, com uma praia e um jardim japonês de entrada franca rodeado de trabalhos de jardineiros do Japão e de Mônaco.

Além disso, a região é lar da Villa Sauber, uma das últimas villas da Belle Époque do principado e que hoje abriga o Museu Nacional de Mônaco, que reúne mais de 10 mil obras dos séculos 19 e 21. A entrada sai por € 6 (cerca de R$ 30) e é gratuita aos domingos.

Mônaco e o circuito de rua da Fórmula 1

Impossível falar de Mônaco e não citar a Fórmula 1. Pisar em suas ruas estreitas, algumas de curvas fechadas, é ter um gostinho da adrenalina que os carros de alta velocidade deixam pelo asfalto e testemunhar que, de fato, ultrapassagens nestas condições são difíceis.

Segundo a página oficial do circuito, Nelson Piquet uma vez descreveu que dirigir em Mônaco é “como andar de bicicleta pela sala de estar”. Outro brasileiro também fez seu nome neste território do Mediterrâneo: Ayrton Senna ganhou seis vezes o GP de Mônaco, a primeira em 1987 e as outras cinco vezes consecutivas entre 1989 e 1993, sendo o maior campeão em Mônaco.

As corridas por aqui começaram antes do estabelecimento da Fórmula 1 em 1950, em que o grande prêmio já era organizado em 1929. Hoje o trajeto tem pouco mais de 3,3 km de extensão e um total de 78 voltas, o que resulta em 260 km de corrida.

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Andar por Mônaco é também se deparar com algumas homenagens do principado à modalidade de automobilismo: próximo do Port Hercule há uma estátua de bronze com o semblante de Juan Manuel Fangio, argentino que dominou a primeira década da Fórmula 1.

Nos mesmos moldes, há na região de Monte Carlo uma estátua de William Grover, francês que ganhou o primeiro grande prêmio de 1929, e ainda a estátua que representa um carro de corrida moderno próximo do jardim japonês.

O GP de Mônaco é historicamente sediado no fim de maio, o que significa que visitar o principado neste mês é a oportunidade perfeita de ver arquibancadas montadas e de sentir a excitação no ar para receber um dos eventos esportivos mais importantes do mundo.


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