Edifício Joelma: prédio virou ponto turístico após ganhar fama de mal-assombrado

Local foi o cenário de um dos maiores incêndios do Brasil; caso de 1974 resultou em mais de 180 mortes

Gabriela Pivado Viagem & Gastronomia

O Edifício Joelma, localizado no centro de São Paulo, foi cenário de um dos maiores incêndios do Brasil: em 1º de fevereiro de 1974, um curto-circuito no ar-condicionado resultou na morte de 181 pessoas e cerca de 300 feridos.

Hoje, o prédio mudou de nome e ficou conhecido como Edifício Praça da Bandeira. No Halloween, o ponto turístico faz parte de passeios para se aprofundar nas histórias sobrenaturais da capital paulistana.

Com certas similaridades com o contexto no qual o Edifício Martinelli foi construído, o local onde se localiza o prédio carregava histórias sombrias antes de ser erguido. Isso porque ali era a casa do professor de química orgânica da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Ferreira de Camargo, que matou a tiros a mãe Benedita e as duas irmãs Cordélia e Maria Antonieta, e as enterrou em um poço montado no quintal da residência, em 1948.

Depois, o filho se tornou o principal suspeito do crime. Enquanto a polícia investigava a casa e começou a escavar o poço, Paulo foi ao banheiro, onde se trancou e tirou a própria vida.

Incêndio no Edifício Joelma, no centro de São Paulo
Incêndio no Edifício Joelma, no centro de São Paulo • ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:171528

Os investigadores nunca encontraram o verdadeiro motivo para os assassinatos. No entanto, levantaram duas teorias: a de que a família era contra o relacionamento de Paulo com a namorada; e a outra hipótese dizia que Paulo matou a mãe e as irmãs porque elas tinham doenças graves, das quais ele não conseguiria cuidar.

Para completar, um dos bombeiros que participou do resgate dos corpos do poço contraiu uma infecção cadavérica e morreu. Com todos esses acontecimentos, a região ganhou fama de mal-assombrada.

A inauguração do Edifício Joelma ocorreu 23 anos depois, em 1971. O incêndio aconteceu em 1º de fevereiro de 1974, por volta das 8h45, em um dia no qual a cidade de São Paulo foi atingida por muitos ventos, que contribuiu para a propagação das chamas.

O fogo começou no 12º andar, que era ocupado pelo Banco Crefisul, após um curto-circuito no sistema de refrigeração. O jornalista e escritor Adriano Dolph, autor do livro “Fevereiro em Chamas”, verificou nos documentos oficiais do IML (Instituto Médico Legal) e afirmou que a tragédia teve 181 mortos.

“As 13 Almas”

Uma das histórias mais conhecidas do incêndio é chamada de “As 13 Almas”. Segundo Thiago de Souza, pesquisador e idealizador do projeto O Que Te Assombra?, que aborda os fenômenos misteriosos acerca do centro de São Paulo, essas almas seriam de 13 pessoas que morreram dentro de um elevador, no incêndio, e não foram identificadas.

“[No elevador] reproduziria de uma forma muito fiel o que seria a morte dentro do inferno, com tudo escuro, muito calor e gritos”, comentou o pesquisador ao CNN Viagem & Gastronomia.

A história sobrenatural sobre essas 13 almas diz que os funcionários do Cemitério São Pedro, da Vila Alpina, começaram a ouvir gritos vindo das 13 sepulturas e, intuitivamente, jogaram água e os gritos pararam. “A partir disso, as pessoas começaram a rezar muito no local e, depois, alguém fez um pedido e elas se tornaram milagreiras do cemitério”, completou.

Thiago, no entanto, afirmou que a morte de 13 pessoas em um elevador do Edifício Joelma nunca teve confirmação oficial. “A única pessoa que morreu em um elevador no Edifício Joelma foi uma senhora, que era ascensorista, e ela não foi enterrada no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina. Ela foi sepultada no jazigo de sua família”, completou.

 Edifício Joelma
Sepulturas das “13 almas” não identificadas após o incêndio no Edifício Joelma • Thiago de Souza

O pesquisador também disse que “não significa que essas 13 pessoas não morreram no Joelma”. Segundo ele, dos 13 indivíduos não identificados e levados ao cemitério da Vila Alpina para serem sepultados, 11 morreram carbonizadas e dois, por politraumatismo.

Outra história bastante conhecida é de Volquimar, que morreu no 23º andar durante o incêndio no Edifício Joelma. “Ela tenta uma comunicação com a mãe depois de morrer e acessado Chico Xavier, que psicografou uma carta de Volquimar para sua mãe, dizendo que está tudo bem […] Essa história acabou inspirando um filme, chamado ‘Joelma 23º andar'”.

Com a atriz Beth Goulart, houve outros relatos de casos sobrenaturais nas filmagens do longa de 1979. “Em uma cena com a Beth Goulart e suas amigas, há uma presença inexplicada em uma foto que tiram, um tipo de fantasma”.

Apesar de essa ser uma das histórias mais conhecidas de assombração do antigo Edifício Joelma, Thiago de Souza afirma haver outros relatos no prédio: “Lá dentro, tem algumas histórias e sensações, como gente que vê vulto. Tem a história de um entregador que viu uma mulher pairando na garagem e entrando dentro da parede, depois de flutuar na frente dele”.

Antigo Edifício Joelma, atual Edifício Praça da Bandeira

O antigo Edifício Joelma, inaugurado em 1971, mudou de nome e, atualmente, é conhecido como Edifício Praça da Bandeira.

A obra é do arquiteto Salvador Candia, que construiu o local em concreto armado, com duas torres de 25 andares cada, sendo uma delas virada para Avenida Nove de Julho e outra para a Rua Santo Antônio, no centro da capital paulista. Entre elas, uma única escada central.

Ainda hoje, o Edifício Praça da Bandeira é um prédio comercial e já foi utilizado nos últimos anos como diretório de partidos políticos.

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Fontes: Elaine Patrícia Cruz e Thiago Padovan — Repórteres da Agência Brasil e da TV Brasil, em matéria para a CNN Brasil; programa de TV Linha Direta; livro “Fevereiro Em Chamas”; banco de dados da Folha de S. Paulo; entrevista com Thiago de Souza, do projeto O Que Te Assombra?.

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