Datça: a bela península turca esquecida pelo tempo
Com praias tranquilas e construções de pedra, península no sudeste do país é pedaço pouco explorado do Mediterrâneo
Com baías naturais e intocadas, de ambos os lados, a península de Datça parece ficar num mundo muito distante dos seus vizinhos numa região popular do Mediterrâneo.
O longo e estreito cabo, que se estende entre os mares Egeu e Mediterrâneo, no sudoeste da Turquia, é majoritariamente desabitado e selvagem, muito diferente dos balneários de Marmaris e Bodrum, na Riviera turca.
Leis rígidas de construção protegeram Datça de projetos turísticos de grande escala, deixando a sua pequena cidade portuária homônima, localizada no meio da península, enraizada no passado.
O porto de Datça é o epicentro da vida local. Restaurantes de peixes e frutos do mar com mesas e cadeiras de madeira simples se alinham ao longo da orla. Lojinhas que vendem produtos locais e cafés modernos enchem as demais ruas do vilarejo encravado entre o mar e uma área montanhosa.
Nas encostas, podem ver-se ondas de azul marinho entre as casas brancas com telhado alaranjado e vista para o porto. O ritmo despreocupado da vida diária não é perturbado pelo turismo de massa.
Além do porto, nove pequenas aldeias estão espalhadas pela península. As rotas pelas ruas estreitas levam a uma das principais atrações locais: as ruínas de Knidos, uma cidade grega na antiga região da Caria.
Localizado na ponta mais ocidental de Datça, o local histórico fica no final de uma estrada que serpenteia por florestas perfumadas de pinheiros, montanhas altas e pomares onde são colhidas as famosas (e premiadas) amêndoas locais.
No verão, turistas turcos de outras regiões frequentam as principais baías da península, como a Palamutbükü, com a sua longa praia de seixos, mar de água azul marinho e fileiras de pequenos restaurantes familiares. Já os locais preferem passar os seus dias numa das muitas enseadas intocadas, algumas das quais só eles conhecem.
Nessa época, as ruas estreitas da cidade velha de Datça, com as suas casas de pedra históricas, cafés e lojas, estão quase sempre cheias. A antiga casa de verão do venerado poeta turco Can Yücel é uma das atrações desse ponto.
Onde ficar
O Palaia Hotel, uma versão moderna da arquitetura e cultura tradicionais de Datça. / Furkan Uyan/Cortesia PalaiaDepois de um passeio pela orla da cidade de Datça, conhecida como Sevgi Yolu (Caminho do Amor), uma das mais novas acomodações da península se descortina, delimitada pelas antigas ruínas de uma casa de banho descoberta durante a construção do moderno Palaia Hotel , cujas fachadas foram esculpidas com pedras locais.
Com quartos minimalistas e um restaurante que serve receitas contemporâneas do mar Egeu, o hotel se auto-intitula uma interpretação moderna e sustentável da arquitetura e cultura tradicionais de Datça.
“Sou apaixonado pela península desde 2000 e, quando me deparei com esta propriedade, sabia que queria criar um lugar pacífico, em harmonia com o ambiente”, explica Ismet Tekinalp, o proprietário do Palaia.
“Uma das coisas mais preciosas do Datça é a qualidade do seu ar: acordo todos os dias apenas respirando oxigênio puro. Nossos visitantes querem ver as antigas ruínas de Knidos, explorar belas enseadas como a Hayıtbükü, saborear as fantásticas amêndoas e o mel de pinheiro locais e participar do festival anual da florada das amendoeiras em fevereiro”, conta Tekinalp.
No meio da cidade velha de Datça, tradicionais casas de pedra construídas ao longo de um jardim identificam outro moderno hotel boutique, o Ultava Houses , que tem quatro quartos com tetos altos, pequenos toques elegantes e terraços com vista para a exuberante vegetação.
Já na pequena aldeia de Cumalı, um pouco mais distante, o principal refúgio dos turistas é o Gocakapı, que fica no meio da paisagem montanhosa da península, rodeado de olivais e amendoeiras balançando na brisa.
Sabores locais
No centro de Datça, lojas como Pehlivan e Datça Köy Ürünleri vendem amêndoas locais dispostas de todas as formas imagináveis: a granel ou embaladas, torradas, cobertas com chocolate, na casca ou em forma de manteiga, farinha, marzipã, halva e óleo de amêndoas.
Na Meşhur Datça Badem Kurabeyicisi, o aroma de biscoitos de amêndoas recém-assados preenche a rua. A vitrine tem um pouco de tudo, de amêndoas simples a biscoitos recheados de chocolate, maçã verde e nozes ou cobertos com framboesas ou groselhas.
Popular especialidade local, bal badem é um doce de amêndoa picada com mel vendido no Kaya Balları. A loja é especializada no mel local, produzido a partir das flores de pinheiros e de amendoeiras. O bal badem é um ingrediente celestial usado no espesso sorvete local feito de leite de cabra. A Tekin Usta, uma pequena sorveteria no centro histórico de Datça, serve a melhor opção.
Localizada numa das regiões produtoras de vinho mais antigas do mundo, Datça também tem uma pequena vinícola que vale a pena explorar. Fundada em 2011 pela família Isleyici, a Datça Vineyard and Winery oferece degustações de vinhos e um menu de pratos italianos harmonizados de acordo com as safras, como tortellini de queijo ao molho de sálvia e pizza acompanhada de cordeiro assado.
Na pequena aldeia de Yaka, a cerca de 30 minutos de carro a oeste da cidade, muitos visitantes passam pelo restaurante Yakamengen sem prestar atenção. No entanto, dentro deste pequeno moinho de azeitonas restaurado, os locais servem apetitosos pratos compostos principalmente de frutos do mar e vegetais.
A poucos passos de distância e em frente à UKKSA (Academia Internacional de Cultura e Arte Knidos) e ao seu jardim de esculturas, a Hestia se destaca por oferecer dumplings (bolinhos de origem asiática). Perto dali, sua casa irmã, Hestia Mey, serve pratos clássicos de meyhane (taberna turca) como flores de abobrinha recheadas e fígado frito cortado em cubos.
Tango e tranquilidade
A Knidia Eco Farm é um dos segredos mais bem guardados de Datça. / Yücel ÇetinNa ponta ocidental da península e ao longo de uma estrada rústica que atravessa os bosques calmos, a Knidia Eco Farm é um dos segredos mais bem guardados de Datça – um lugar que realmente convida a mergulhar na tranquilidade da natureza.
Fundada em 2000 por Ali Somer, que deixou o caos urbano de Istambul para se tornar agricultor, a propriedade de 12 hectares de vinhas e pomares recebe hóspedes desde 2007 em suas quatro cabanas de madeira e quatro casas de pedra. As refeições são à base de ingredientes cultivados na horta da Knidia e preparadas numa fogueira. A praia vizinha em Değirmenbükü é um oásis de serenidade.
“Acho que uma das coisas mais preciosas daqui é a paz”, diz Somer. “O céu noturno não é alterado, não há sons artificiais ou luzes, apenas os sons da natureza e do vento. As leis de proteção têm funcionado bem aqui durante anos, e a paisagem acidentada também tem evitado a especulação imobiliária. Espero que continue assim, protegida, e que as pessoas cumpram as leis.”
De fato, Datça é um dos raros lugares na Turquia onde se pode encontrar uma paisagem do mar Egeu intocada há séculos.
Ayça Boylu, dona da escola de dança Tango Kairos com o seu parceiro alemão Axel Korf, também procurou uma forma de vida mais calma em Datça.
“Muitas pessoas que se mudaram para cá partilham a mesma história. As pessoas trabalharam muito e chegaram a um ponto em suas carreiras em que precisavam mudar as coisas, desacelerar”, diz ela.
Com anos de experiência nacional e internacional, Boylu e Korf organizam aulas e eventos, além de participarem de performances.
“Datça é uma península, mas é mais como uma ilha, porque estamos muito isolados e temos o nosso próprio modo de vida”, conta a empresária. “Dizem que, se você está com pressa, não deveria estar em Datça, porque as pessoas aqui estão relaxadas. Muitas vezes encontramos lojas fechadas porque o dono está na praia, e isso é completamente aceitável”.
*Feride Yalav-Heckeroth é uma escritora freelancer que vive entre Istambul e o lago Constance e é autora do guia “The 500 Hidden Secrets of Istanbul” (“Os 500 Segredos Ocultos de Istambul”). Ela já escreveu para Kinfolk, Brownbook, The Travel Almanac, Wallpaper*, Travel + Leisuree Conde Nast Traveler.