Mongólia tem uma das viagens de trem mais épicas do mundo; saiba como é

Trem passa pelas florestas boreais, pelos estepes da Mongólia Central e pelo aparente infinito Deserto de Gobi

Joe Yogerstda CNN

Os cavalos foram o principal meio de transporte na Mongólia por milhares de anos e até hoje são parte essencial da identidade do país. Porém, atualmente, os trens se popularizaram como uma forma de cruzar essa vasta nação da Ásia Central.

Em uma extensão de 2.215 quilômetros, da fronteira norte da Mongólia com a Rússia até a Região Autônoma da Mongólia Interior, na China, a Ferrovia Trans-Mongoliana foi concluída em 1956, após quase duas décadas de construção em algumas das paisagens mais desafiadoras e belas do planeta.

O trem passa pelas florestas boreais, pelos estepes da Mongólia Central e pelo aparente infinito Deserto de Gobi. Pequenas cidades e assentamentos remotos margeiam os trilhos, mas os sinais de civilização são escassos, especialmente no inverno, quando grande parte da Mongólia é coberta de neve.

Mark Smith, um especialista britânico em viagens ferroviárias e fundador do site The Man in Seat 61, compartilha sua experiência: “A Ferrovia Trans-Mongoliana foi uma jornada incrível e um total contraste com os dias anteriores nas florestas de bétulas da Sibéria e nas pequenas vilas com ruas lamacentas e casas de madeira. A Mongólia ofereceu vastas planícies, camelos e frequentes ‘alertas de yurts’ à medida que os assentamentos nômades surgiam à vista”.

É ainda mais surpreendente quando surgem prédios altos e o trem chega a Ulaanbaatar. Com mais de 1,6 milhão de habitantes, a capital nacional em rápido crescimento abriga mais da metade da população da Mongólia e, quando a linha completa Moscou-Pequim estava em operação, era um ótimo lugar para fazer uma pausa na viagem.

Os viajantes, em Ulaanbaatar, mesmo aqueles que não pretendem pegar o trem, devem avaliar se vale a visita à estação, inaugurada em 1949. Com lustres elaborados pendurados na sala de espera e uma locomotiva a vapor vintage e um vagão de carvão permanentemente estacionados ao lado da plataforma, entrar na robusta estação ferroviária soviética de Ulaanbaatar é como uma viagem no tempo.

Como viajar pela Trans-Mongoliana

Nos anos anteriores, a maioria dos passageiros internacionais, como Smith, experimentou a Ferrovia Trans-Mongoliana como a parte central de uma épica jornada de trem entre Moscou e Pequim. No entanto, essa rota foi suspensa em 2020, durante a pandemia da covid, e permanece inacessível para a maioria dos viajantes.

“É uma pena porque era uma das grandes viagens terrestres”, diz Christian Stanley, diretor da Trans-Siberian Travel Company, em Londres. Stanley afirma que, para os viajantes de países que não participam das sanções contra a Rússia devido à guerra com a Ucrânia, ainda é possível fazer a viagem de trem entre Moscou e Pequim via Mongólia. Porém, não no mesmo trem ou reserva.

No entanto, se você estiver viajando apenas na Mongólia, não há problemas ou sanções. O serviço regular entre Ulaanbaatar e as cidades gêmeas de Zamiin-Uud/Erenhot, na fronteira entre Mongólia e China, definitivamente vale a pena, uma jornada que leva boa parte do dia (ou da noite) para cruzar as estepes e o Deserto de Gobi. Os bilhetes podem ser comprados na estação principal de Ulaanbaatar.

A Ferrovia Trans-Mongoliana passou por um período de modernização nas últimas décadas, com algumas de suas locomotivas a diesel soviéticas substituídas por modelos norte-americanos. Os vagões oferecem compartimentos de segunda classe (quatro pessoas) e de primeira classe (duas pessoas) com portas trancáveis, pequenas mesas, tomadas e ar-condicionado e aquecedor. São fornecidos lençóis, travesseiros e edredons. Na segunda classe, há um único banheiro em estilo ocidental, enquanto cada par da primeira classe compartilha um banheiro privativo.

Laura Jopson, uma neozelandesa que escreve sobre suas aventuras de viagem no blog Laura the Explorer, relata: “Compartilhei uma cabine para quatro pessoas com apenas uma jovem mãe mongol e sua filha. O quarto era confortável, quente e tranquilo. A cada noite, os atendentes convertiam os assentos em beliches. As bagagens eram guardadas sob o beliche inferior, então era difícil acessá-las durante a viagem — uma pequena mochila é definitivamente recomendada para coisas que você precisará durante o trem. Cada vagão tinha um samovar para fazer bebidas quentes e refeições instantâneas”.

Os trens também possuem vagões-restaurantes com menus que incluem especialidades locais e alguns pratos internacionais.

Mark Smith, ao passar pela Mongólia, comparou as experiências culinárias a bordo: “O carro-restaurante mongol contrastava com seu equivalente russo (e com o carro-restaurante chinês, por sinal). Era bom e farto, mas é melhor você gostar de carne de carneiro e arroz!”

Destaques da viagem

Ulaanbaatar é definitivamente um destaque em qualquer viagem à Mongólia. Entre seus marcos estão o vasto Mosteiro Gandan, com seus muitos artefatos budistas — incluindo uma estátua dourada de Avalokiteśvara, de 26 metros de altura —, o Museu Central de Dinossauros da Mongólia e os diversos tesouros nacionais no Museu do Palácio Bogd Khaan.

Embora Genghis Khan tenha estabelecido sua capital em Karakorum, no centro da Mongólia, o líder militar, imperador e herói nacional do século XIII é lembrado em uma enorme estátua equestre de aço inoxidável a oeste da capital – além de também ter uma figura sentada em frente ao Palácio do Governo.

Uma viagem de ida e volta na Trans-Mongoliana entre Ulaanbaatar e Zamiin-Uud oferece uma interessante viagem de dois dias. No entanto, os viajantes podem prolongar a viagem parando por alguns dias em grandes cidades ao longo do caminho.

Cruzando a fronteira

Para aqueles que desejam viajar de Ulaanbaatar para a China, ou vice-versa, há um serviço de ida e volta disponível toda segunda e sexta-feira, que atravessa a fronteira e segue para Hohhot, capital da Mongólia Interior, no norte da China.

Conforme a mídia estatal chinesa, a rota foi relançada no início deste ano. Os passageiros podem viajar para Pequim a partir de Hohhot e continuar pela China em trens de alta velocidade.

Segundo relatos de quem já fez a viagem, o grande evento na fronteira é a transição do trem dos trilhos largos usados na Mongólia para os trilhos padrão utilizados na China.

“Chegamos à estação de fronteira chinesa ao som de música marcial tocada em alto volume pelos alto-falantes da estação”, lembrou Smith. “Você podia descer e esticar as pernas ou ficar a bordo enquanto o trem inteiro era colocado em um galpão e levantado por macacos hidráulicos para trocar os bogies dos trilhos russos para o padrão chinês.

“Escolhi a segunda opção, uma experiência fascinante com muito barulho e solavancos enquanto cada vagão era separado, depois levantado vários metros no ar. Nossas rodas originais foram levadas embora e um novo conjunto foi colocado embaixo de nós. Levou cerca de uma hora.”

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