Cartagena das Índias é convite para calor e mergulho na história colonial espanhola

Cidade portuária no norte da Colômbia é banhada pelo Mar do Caribe e preserva centro histórico abundante em fortificações, igrejas, praças e bairros descolados que harmonizam presente e passado de forma única

Daniela Filomeno pelas ruas de Getsemani, bairro descolado de Cartagena
Daniela Filomeno pelas ruas de Getsemani, bairro descolado de Cartagena CNN Viagem & Gastronomia

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Cartagena das Índias, Colômbia

Casas coloniais bem coloridas, sacadas recheadas de flores e portas dos mais diferentes tamanhos e adornos. A fortaleza do século 16 e as igrejas do século 17 convivem em harmonia com lojinhas descoladas e bairros cool.

Ao caminharmos pelas simpáticas ruas notamos ainda uma harmonia entre passado e presente, em que a cidade honra tempos antigos de esplendor.

Além dos monumentos bem preservados, impressionam os sabores, o povo e toda a alma multicolorida e alegre que paira pelos muros e pela cultura local. Assim é um gostinho de Cartagena das Índias.

Personalidade própria

Uma das cidades mais conhecidas de toda a Colômbia, a capital do departamento de Bolívar é lar de quase um milhão de habitantes e nos presenteia com uma personalidade muito própria.

Destino fascinante, é muitas vezes porta de entrada para nós brasileiros para um pedaço do Caribe, já que a cidade portuária ao norte da Colômbia fica numa baía no Mar do Caribe.

Mas o fascínio vai além das cores da água e dos tons das paredes: com o passar dos séculos, aqui foi edificada uma cidade que transpira história.

Com fundação que data dos idos de 1553, Cartagena desempenhou papel fundamental na expansão do Império Espanhol nas Américas – o próprio nome da cidade é uma homenagem à Cartagena, na Espanha.

Tamanha importância fez do território colombiano uma verdadeira fortaleza contra ataques exteriores, em que a Cidade Amuralhada compreende hoje o centro – talvez a área que mais concentra a essência de Cartagena e também reúne alguns dos melhores pontos turísticos para visitarmos.

Com as fortificações mais extensas da América do Sul, Cartagena consta na lista dos Patrimônios Mundiais da Humanidade da Unesco, distinção dada em 1984.

Com esta breve descrição, motivos não faltam para uma viagem a esta que é uma das cidades que mais me encantam no mundo.

E dou um spoiler: Cartagena foi um dos destinos percorridos para a próxima temporada do CNN Viagem & Gastronomia.

Após ficar seduzida pela cidade e seus cantinhos mais charmosos, digo com certeza que ela é um dos melhores caminhos para descobrirmos mais sobre nossa tão rica América do Sul. De malas prontas?

Cartagena: pequeno raio-x da cidade

Daniela Filomeno pelas ruas charmosas e estreitas de Cartagena / CNN Viagem & Gastronomia

Cartagena das Índias, ou apenas Cartagena para os mais chegados, fica em média a oito horas de voo de São Paulo, com escalas mais comuns via Bogotá, Medellín e Cidade do Panamá.

As temperaturas variam entre 25ºC e 30ºC praticamente o ano todo, em que a umidade é bem alta – chuvas costumam aparecer mais entre os meses de maio e novembro.

Com turistas bastante diversos, por aqui, além de brasileiros e colombianos, encontramos muitos europeus e norte-americanos, com visitantes o ano todo.

Importante ressaltar que os períodos de férias, a exemplo dezembro, janeiro e meados de julho, costumam ser mais movimentados que o normal, e os preços costumam ficar mais salgados.

Assim, a cidade é destino ideal para quem, assim como eu, é inspirado a buscar bons drinques, praias e uma muito bem-vinda dose histórica de arquitetura colonial espanhola.

Breve história

Compreender a essência de Cartagena é revisitar sua história, uma vez que a cidade foi um dos portos comerciais mais importantes durante o período da colonização espanhola nas Américas.

Fundada no século 16, desempenhou papel significativo no escoamento do ouro da América espanhola rumo a Europa. Portanto, Cartagena era muito visada e foi palco de disputas entre potências europeias pela conquista e ampliação do “Novo Mundo”.

Fato é que seu status fez com que os espanhóis cercassem toda a cidade de muros, o que levou Cartagena a ter o que é considerado o mais extenso – e um dos mais completos – sistemas de fortificações militares da América do Sul.

Por isso, a maior parte de sua vida residia e ainda reside na chamada Cidade Amuralhada, construção que resiste até os dias de hoje com a função primordial de proteger grandes edificações, em que encontramos nas ruas uma série de monumentos civis, religiosos e residenciais de valor histórico e arquitetônico imensurável.

Além disso, foi um dos principais portos do Caribe junto de Havana e San Juan, em Porto Rico, funcionando como um elo para as Índias Ocidentais – título arcaico que se refere às ilhas no Mar do Caribe.

Lugares imperdíveis de Cartagena

A cidade é basicamente dividida em três bairros principais: San Pedro, com a Catedral de San Pedro Claver e palácios de estilo andaluz; San Diego, onde, no passado, viviam comerciantes e a classe média; e Getsemani, considerado o “bairro popular”, que é colorido, cheio de ruas estreitas e tem ar boêmio.

A seguir, seleciono cinco pontos dos mais tradicionais em Cartagena que não podem ficar de fora do roteiro numa próxima viagem à cidade:

Região da Catedral de Santa Catalina de Alejandría

Ruas laterais garantem foto clássica de Cartagena com a Catedral de Santa Catalina de Alejandría ao fundo / Daniela Filomeno

Quando pensamos em Cartagena, esta é uma das imagens clássicas da cidade que vêm à nossa mente. As ruas laterais à Catedral de Santa Catalina de Alejandría garantem cliques lindíssimos da torre da igreja, uma das mais antigas sedes episcopais e catedrais da América.

Construída a partir de 1577, é uma das igrejas mais importantes de toda a região e que testemunhou a história de Cartagena através dos séculos.

Próxima à Praça da Proclamação com a esquina do Parque Bolívar, a catedral é uma construção imponente tanto por dentro quanto por fora. Seu interior guarda detalhes em ouro, como no altar-mor, além de capelas e grandes colunas.

A planta da igreja é semelhante às igrejas espanholas construídas na época de monarcas católicos, já que sua arquitetura foi inspirada em igrejas da Andaluzia. Devido a sua importância, em 1953 o Papa Pio 12 concedeu ao templo o título de Basílica Menor; e desde 1995 é Monumento Nacional da Colômbia.

Vale ressaltar que nos horários de missa a entrada é livre, mas fora destes períodos a visita é paga. 

Uma vez aqui, a dica é andar pelas ruas da região e contemplar outros prédios históricos, uma das melhores maneiras de captar um pouco da essência de Cartagena.

Bairro de San Diego

Ao lado do centro e dentro da cidade murada, a região de San Diego tem como coração a praça de mesmo nome com uma igreja bem pitoresca.

A região nos atrai pelas suas ruas características, pelos bares e restaurantes descontraídos. É um ótimo lugar para curtir Cartagena sem muita pressa.

Um dos pontos mais especiais de San Diego é Las Bovedas, em que lojinhas estão instaladas no que costumavam ser as masmorras da cidade por volta do século 18. Hoje, é um mercado de artesanato que vale a pena ser percorrido: são 23 abóbodas ao todo que abrigam lojinhas de lembranças – o desafio é conhecer todas! 

Por aqui fica também a Igreja de Santo Toribio, pequena construção colonial que tem o interior com tetos adornados e altar em estilo barroco.

Vale ressaltar que a região também é lar do Sofitel Legend Santa Clara, um dos melhores hotéis da cidade que ocupa o que já foi um convento de 1621.

Além de sofisticado, ele carrega a alma da região e é uma atração por si só, em que a história marcou o edifício de diversas formas: hospital de caridade, faculdade de medicina, prisão e escola de belas artes foram alguns de seus usos.

Getsemani

Colado ao centro histórico, Getsemani é um bairro que ferve cultura local. Aqui encontramos ruas estreitas, casas floridas e artes em graffiti com cenas tropicais e da cultura caribenha.

Andar por aqui é presenciar uma atmosfera boêmia e alegre, principalmente quando cai a noite, momento em que as ruas ganham mais agito e os bares abrem suas portas.

Aqui vemos que turistas e moradores se misturam, em que vendedores oferecem drinques e comidinhas típicas em carrinhos e barraquinhas montadas na rua.

Era o bairro onde os escravos viviam durante a época colonial, além de ter abrigado comerciantes imigrantes e os menos favorecidos.

Com um forte renascimento cultural estampado por seus muros, lojas e cores, hoje é um bairro descolado, cheio de restaurantes e de arte urbana digna de muitas fotos. Durante as noites abafadas, não é difícil também encontrar baladinhas e praças com festas ao ar livre.

O coração do bairro é a Plaza de la Trinidad, onde a atmosfera casual é repleta de vendedores de comidinhas e drinques. É um point onde as mais diferentes pessoas se encontram – não é difícil também encontrar artistas e músicos.

Aqui, inclusive, fica a Iglesia de la Santísima Trinidad, fundada no início do século 17 e para lá de charmosinha com sua cor amarela mesclada ao tom verde da porta principal.

Com residências cravadas junto a pequenos hotéis, Getsemani é um ponto superinteressante para entendermos como o povo colombiano descendente de escravos ajudam, hoje em dia, a contar e a ressignificar a história local.

A dica por aqui é se “perder” pelas ruas, apreciar os muros multicoloridos repletos de referências à uma Colômbia tropical, entrar nas lojinhas e até trocar uma ideia com os vendedores locais. Seja de dia ou de noite, uma cervejinha cai bem, já que os barzinhos ficam mais cheios e as pessoas passeiam tranquilamente pelas ruas.

Castelo San Felipe de Barajas

Castelo San Felipe de Barajas é fortaleza do século 16 e um dos pontos mais importantes de Cartagena / Boris G/Wikimedia Commons

É um dos pontos turísticos mais importantes de Cartagena e quiçá também da Colômbia, uma vez que é considerada a maior obra militar dos espanhóis no Novo Mundo. 

Construída a partir de 1536 (as obras de ampliação só foram terminar mais de 100 anos depois), a fortaleza fica próxima da Cidade Amuralhada, no morro de San Lázaro, e tinha como função proteger Cartagena de ataques, já que era um ponto estratégico para avistar inimigos em terra ou no mar.

Logo, o grandioso “guardião de Cartagena” possui vistas para a baía e para parte da cidade. Além de literalmente pisarmos num pedaço conservado da história da colonização, vários túneis, corredores, labirintos e quartos que fazem parte de sua estrutura interna podem ser acessados.

Torre do Relógio, Plaza de la Aduana e Portal de los Dulces

Calle de la Amargura fica logo atrás da Plaza de la Aduana e contém resquícios do passado da cidade / Daniela Filomeno

São três passeios em um: a Torre do Relógio é simplesmente a principal porta de entrada para a Cidade Amuralhada. Construída a partir de 1540, é um grande portal de pedra que dá lugar a uma torre amarela que abriga um relógio – daí o nome.

Uma estátua em comemoração a Pedro de Heredia, fundador de Cartagena, pode ser encontrada aqui, assim como não nos passam despercebidos os detalhes da arquitetura militar que protegia a cidade murada de ataques exteriores.

É um bom lugar para entender como Cartagena foi construída e tentar se imaginar em tempos em que a cidade contava com os grandes muros de pedra para se proteger.

Alguns passos ao lado fica a Plaza de la Aduana, a maior de Cartagena e que nos primórdios da cidade e da colonização funcionava com juntas administrativas – há também a Casa de la Aduana, casarão de dois andares que teve papel como alfândega no período colonial.

Como o nome denuncia, aqui era o local onde as mercadorias, assim como negros escravizados, chegavam a bordo de embarcações.

Já na frente da Torre do Relógio fica outro dos pontos históricos ainda ativos e interessantes de Cartagena: o Portal de los Dulces, construção com arcos que abriga vendedores de doces típicos colombianos, incluindo inúmeras variações de cocadas, e balas.

É um local para ver – e experimentar – comida de rua, já que a grande quantidade de vendedores nos oferecem variados quitutes.