Prontos para beber: drinques engarrafados viram tendência e ganham espaço no mercado

No começo muita gente virava a cara, mas os drinques engarrafados conquistaram fãs, evoluíram nas receitas e movimentam US$ 32,9 bilhões no mundo

APTK, maior marca de bebidas engarrafadas do Brasil que recebeu recentemente aporte de R$ 9 milhões
APTK, maior marca de bebidas engarrafadas do Brasil que recebeu recentemente aporte de R$ 9 milhões Divulgação

Tina Binido Viagem & Gastronomia

Nunca a coquetelaria no Brasil viu tamanha efervescência. De uns tempos para cá, os bares passaram a ganhar a notoriedade que antes era reservada apenas aos restaurantes e, finalmente, os bartenders têm sido reconhecidos e enaltecidos. Isso porque, com a evolução do mercado, esses profissionais passaram a mostrar que os drinques, quando combinados com precisão, não são apenas um punhado de bebidas alcoólicas misturadas: tal qual um prato de restaurante estrelado, eles podem e devem ter beleza e complexidade. Ou seja, é preciso saber equilibrar.

“O mercado percebeu que era preciso dar um salto para acompanhar a gastronomia brasileira, que cresce a passos largos. A coquetelaria não poderia ficar de fora”, explica Ricardo Barrero, bartender da Mathieu Teisseire, marca de xaropes que chega ao Brasil com foco nesse mercado. Os números refletem esse upgrade: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), graças ao arrefecimento da pandemia o setor bebidas alcoólicas teve uma alta de 5,2% só no último mês de abril.

“Antes da pandemia, já tinha muita gente começando a estudar mais sobre coquetelaria e a ter um contato maior com as tendências internacionais. Quando ela chegou, nós pudemos observar o mercado de alcoólicos crescendo. E foi quando surgiu um outro negócio: os drinques engarrafados, ou os chamados ready-to-drink”, diz o bartender Alê D’Agostino, que, exatamente observando esse nicho, se juntou a Luiz Paulo Fogetti para abrirem a maior empresa de drinques engarrafados do Brasil, a APTK. E o tiro foi certeiro: um estudo da InsightAce Analytic observou que esse tipo de bebida movimenta US$ 32,9 bilhões no mundo todo. Só aqui no Brasil, o crescimento chegou na marca de 60%, segundo dados da Nielsen Scantrack.

Drinques engarrafados: sim, eles vieram para ficar

Uma das marcas pioneiras nesse negócio, a Bitter&Co, surgiu em meados de 2017 após o idealizador, André Clemente, perceber que o drinque engarrafado poderia – e muito – acelerar e padronizar o serviço no bar. “Eu tinha um bar onde era sócio e ele acabou fechando. Ali nós fazíamos preparos de alguns coquetéis antecipadamente, como o negroni – na verdade, já em 2016 eu fazia esses drinques pré-preparados para amigos. Foi então que decidi transformar isso em uma marca”, explica Clemente.

Bitter & Co, marca pioneira em drinques engarrafados / Divulgação

O empresário vê sua marca crescer a passos largos. O boom do beber em casa, ao qual a pandemia impôs, continuou de forma mais moderada, mas ainda crescente. Atualmente, André colocou no mercado o aluguel de barril de 10 litros de coquetel (Bitter&Soda e Summer Orange Spritz) para festas e eventos sociais. A novidade figura ao lado dos drinques de doses individuais de 100ml ou garrafas de 700ml de negroni, Cardinale e Rabo de Galo, que já faziam parte do seu portfólio. “Facilita a vida de quem quer fazer um evento em casa, quer que tenha drinques, mas não tem uma pessoa pra preparar”, completa.

Nessa linha, a APTK conta com drinques clássicos como Negroni, Old Fashioned, Fitzgerald e Cosmopolitan, mas também atende a demanda de bares e restaurantes que querem vender para seus clientes suas próprias receitas engarrafadas. A empresa ainda produz alguns drinques de autoria de D’Agostino com o Sur L’Orange, que tem base de cachaça e que também pode ser usado como base para criação de novos drinques.

“A grande palavra para os drinques engarrafados é a conveniência. O Brasil tem experimentado um gosto pela coquetelaria, pelos coquetéis com sabores mais complexos e os engarrafados vieram para suprir a necessidade de você ter ali, na sua casa, algo bem feito e padronizado”, diz D’Agostino.

Ainda segundo ele, o drinque engarrafado pode virar um ingrediente na mão de quem quer dar um toque pessoal. “Por exemplo, dá para pegar um negroni engarrafado e acrescentar água com gás, ou infusionar com algum ingrediente e finalizar do seu jeito”, complementa. No último ano, a APTK experimentou 75% de crescimento de vendas, e tem planos de expansão para diversos estados do Brasil.

N45 Coffee Negroni espera crescer 50% até o fim do ano  / Divulgação

Para Bruno Siqueira, da Welcome Brands, que acabou de colocar no mercado no N45 Café – negroni engarrafado infusionado com café – os coquetéis engarrafados não vieram para competir com a coquetelaria, mas sim para incrementar esse mercado. “Hoje, quem investe nesse modo de vender coquetel já se preocupa e muito com a qualidade dos ingredientes: qual gin usar, como aproveitar melhor os insumos naturais…”, diz Bruno. “Agora é possível tomar boas receitas, com alto padrão e em casa. Nós mesmo demoramos seis meses para encontrar uma receita equilibrada, e com testes quase que infinitos.” A expectativa para o crescimento da empresa com o N45 Café é de 50% até o fim do ano.

“Nosso negroni clássico foi um sucesso absurdo quando lançamos em 2017, o que nos levou a alcunha de primeiro negroni artesanal a ser premiado internacionalmente em dois dos principais concursos mundiais”, diz ele. “Agora decidimos colocar o café para incrementar o paladar dos nossos clientes. Afinal, café também é algo que está crescendo no Brasil e identificamos que o consumidor tem buscado mais produtos com esse sabor.”