Como é a quarentena obrigatória em um quarto de hotel de aeroporto? Vic Ceridono conta experiência em Londres

Blogueira e jornalista relata rotina, desafios e curiosidades de ficar confinada em local inesperado no Reino Unido após temporada no Brasil

Vista do quarto da jornalista para uma das pistas do Aeroporto de Heathrow e para o estacionamento do hotel (Foto: acervo pessoal/Vic Ceridono)

Viajar para fora do país neste momento é pouco recomendado e uma atividade difícil de ser realizada devido à pandemia e às limitações internacionais que o brasileiro precisa enfrentar. A saber: o turista do Brasil é o segundo mais recusado no mundo e encara fortes restrições para entrar em 116 países. Mesmo assim, os viajantes que estiveram por aqui, mas moram fora ou necessitam viajar para o exterior, encaram uma quarentena compulsória para entrar em alguns destinos. 

Um dos países que tem restringido a entrada de brasileiros é a Inglaterra. Recentemente, o Reino Unido baniu a entrada de viajantes de 35 países (A relação de localidades está na lista vermelha do governo local, atualizada periodicamente. Clique aqui para conhecer!) e o Brasil consta neste documento. Porém, as pessoas que conseguirem reunir todos os documentos solicitados para entrar na nação e que possuem vínculo de moradia local, devem realizar um lockdown obrigatório de 10 dias completos dentro de um hotel escolhido pelo próprio governo – a menos que você seja um engenheiro aeroespacial (veja lista de isenções). 

A criadora de conteúdo Vic Ceridono no quarto de hotel londrino em que fez quarentena (Foto: acervo pessoal/Vic Ceridono)

Este é o caso da blogger e jornalista de beleza Victoria Ceridono, que compartilhou com seus mais de 530 mil seguidores no Instagram (@vicceridono) sua experiência de isolamento ao chegar em Londres. Moradora há quase oito anos da capital do Reino Unido, a profissional passou o fim de 2020 no Brasil e enfrentou algumas dificuldades para voltar para a casa, após uma temporada não planejada de três meses no país. 

Com voos cancelados para a Inglaterra a partir do fim de janeiro, Victoria e seu marido, Rafael Trapé, tiveram de ficar mais um mês no Brasil e só conseguiram passagens para Londres no início de março, com parada em Madri, na Espanha. 

Após a compra da passagem para o país britânico, o viajante deve fazer a reserva do hotel em que ficará em quarentena, mas sem saber onde de fato se acomodará – a escolha é feita por meio de um sistema do próprio governo. Além disso, o passageiro deve preencher um formulário de entrada no Reino Unido e ter o teste de Covid-19 negativo feito no máximo 72 horas antes do embarque. Todos estes documentos são solicitados na saída do Brasil, na chegada à Espanha (rota escolhida pelo casal) e também em solo britânico. 

Como funciona a estadia?
Há cinco aeroportos na Inglaterra para a entrada oficial de passageiros dos países banidos: Heathrow, Gatwick, Birmingham, Farnborough e o Aeroporto da Cidade de Londres. Desembarcando no país após as conexões, sinalizações indicam para onde os passageiros da lista vermelha devem se locomover. Após a imigração, uma pessoa autorizada acompanha todos os passos e auxilia no transfer para o hotel. 

O governo britânico seleciona hotéis nas proximidades do aeroporto, que estão devidamente organizados para acolher indivíduos para a quarentena, em que a data de chegada corresponde ao dia zero. O Renaissance London Heathrow Hotel foi o local selecionado para Victoria e Rafael ficarem isolados. Os quartos não diferem tanto um do outro, mas os maiores são destinados a famílias com crianças.

Menu kids do hotel entregue no quarto (Foto: acervo pessoal/Vic Ceridono)

As acomodações comuns possuem cerca de 23m² e são equipados com ar-condicionado, wi-fi, poltronas e escrivaninha para trabalho. As acomodações da parte traseira do hotel, como o do casal brasileiro, possuem uma vista privilegiada para uma das pistas do Aeroporto de Londres-Heathrow, em que é possível avistar aeronaves em fila e outras em processo de pouso. Engana-se quem pensa que o barulho dos aviões é insuportável: há uma grande janela no quarto com vidro duplo, espesso e anti ruído, sendo que não é possível abri-la e ter contato com o ar exterior. 

Apesar de permeada por inseguranças já na saída do Brasil, Victoria relata que a situação não foi tão opressiva quanto esperava. “O quarto tem um tamanho ótimo, o hotel está muito bem preparado, e todos são organizados e cordiais. A gente não sente que está em um ambiente super reprimido, achei que poderia ser um clima mais pesado, mas tem sido leve”, diz. 

O pacote completo da quarentena inclui as diárias, três refeições por dia, dois testes de Covid-19 – feitos pela própria pessoa no segundo e no oitavo dia de estadia -, além de transporte do aeroporto para o hotel e lavanderia, que aceita até sete itens pequenos para serem limpos. 

Mas quem paga por tudo isso?
O próprio viajante. O governo local não banca as despesas e todo custo é financiado por quem deseja entrar no país. O pacote, com todos os detalhes inclusos, sai por aproximadamente
£2400 o casal, cerca de R$18.600,00, sendo £1750 para uma pessoa e uma adição de £650 por mais um indivíduo adulto. 

Pode sair do quarto?
Passar 11 dias dentro de um quarto de hotel com poucos metros quadrados sem poder abrir a janela não soa como uma tarefa tão prazerosa. Mas é possível sair de vez em quando e tomar um banho de sol, por exemplo, e respirar ar puro. O amplo estacionamento do hotel, devidamente cercado, pode ser usado para caminhadas, esportes ou uma simples descansada. Basta ligar para a segurança e você é acompanhado por um responsável. 

Inclusive, há dois setores separados nas dependências: a recepção, em que pode-se pedir amenities e outros serviços, e a segurança, formada por autoridades do governo que ficam no lobby e nos corredores para auxiliar os hóspedes – e evitar possíveis problemas de aglomeração ou fuga. 

Kit de limpeza entregue aos hóspedes para manter o ambiente higienizado (Foto: acervo pessoal/Vic Ceridono)

Todas as refeições são feitas dentro do quarto, sem possibilidade de saída para o restaurante ou bar do hotel, e são enviados talheres de alumínio e pratos de porcelana. As refeições preparadas pela cozinha são previamente detalhadas em um menu com os dias exatos da estadia dos hóspedes, em que há três opções para o almoço e o jantar. Os horários da entrega das refeições também ajudam a estruturar uma rotina: o café da manhã chega às 8h, o almoço pelas 13h e o jantar às 19h. 

Além da comida do hotel, os hóspedes são livres para pedir delivery em restaurantes próximos do aeroporto. Encomendas, compras de mercado e produtos também são livremente aceitos e entregues na porta do quarto, aliviando, de certa maneira, o peso do isolamento. 

Não há serviço de camareira: um kit de limpeza é entregue aos hóspedes, que contém um pano, uma esponja, papel toalha e detergente. De vez em quando, novos lençóis e toalhas são enviados ao quarto.

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Como fica a rotina?
Com a possibilidade de trabalho remoto, o casal ficou na frente do computador a maior parte do tempo entre reuniões, videoconferências e e-mails. Para estabelecer uma rotina, e não ficar perdido durante o período, a organização foi a saída encontrada. “Tem a questão do espaço físico que você tem que se adaptar. Então acho que tem uma coisa de ser muito organizado e ajudar um ao outro”, aconselha a blogueira. 

Logo, tentar manter uma rotina como se estivesse em casa é uma boa pedida: organizar as malas, as roupas e arrumar a cama todos os dias após acordar são detalhes que fazem a diferença. O casal ainda conta que escondeu as malas atrás das cortinas para aliviar a bagunça do ambiente. “É um detalhe que não faz você se sentir tão em trânsito também”, diz Victoria. 

Criatividade em ação: petiscos e bebida para um piquenique organizado no chão do quarto (Foto: acervo pessoal/Vic Ceridono)

Após os compromissos de trabalho, os dois começavam a encerrar o expediente com a chegada do jantar. A partir deste momento, arranjavam atividades para se distrair, como ver filmes, séries, e se enfrentar em jogos de baralho e de tabuleiro. 

Para se distrair, a pedida foi a criatividade. Como é possível receber objetos e comidas de sua própria residência na cidade (algum parente, amigo ou ajudante é escalado para a tarefa), o casal pediu luzinhas decorativas e outras “bobagens”, como define Vic. Na hora do jantar, música na caixinha e um vinho foram igualmente salvadores do momento.

Em um dos dias confinados, os dois montaram um verdadeiro piquenique no chão: salmão defumado, queijo camembert, pão, caprese e vinho foram dispostos em pratos em cima de uma toalha. “São algumas bobagens que tornam o momento divertido. Coisas que fazem você não sentir tanto estar preso em um quarto de hotel”, finaliza.

Cumprida a quarentena obrigatória, é hora de voltar para casa e colocar em prática os cuidados sugeridos pelo governo. A Inglaterra tem adotado medidas mais restritivas para evitar a circulação de novas variantes da Covid-19, o que inclui lockdowns pelas cidades. O governo já contabiliza mais de 3,7 milhões de casos positivos no país e mais de 110 mil mortes em decorrência do vírus.