Conheça 4 vinícolas comandadas por mulheres no Uruguai

Vinho é coisa de mulher sim, senhor! De proprietárias a sommelières, potência feminina em toda cadeia do vinho uruguaio é notável; saiba quais vinícolas visitar

Giuliana Nogueiracolaboração para o Viagem & Gastronomia , Uruguai

Nos anos 1990, a engenheira agrônoma Estela de Frutos, hoje enóloga consultora de uma série de projetos e jurada em concursos internacionais de vinhos, despontava no Uruguai e no mundo afora como a “Dama do Tannat”.

Estudiosa do tema e sempre ativa na produção de vinhos, ensino e divulgação, desbravou uma área até então dominada pelos homens, embora as mulheres já fizessem parte da história vitivinícola do Uruguai, em especial devido ao caráter familiar de seus produtores.

Hoje, nomes como Ana Zapata, Florencia de Maio, Sabrina Ariano, Melisa Barrera, Carolina Falcone, Carolina Damiano, Agñese Fabretto, Fernanda Montes de Oca, Valéria Chiola e Ana Cordano são apenas algumas das cerca de 50 mulheres trabalhando a frente de vinícolas como enólogas na elaboração de seus vinhos.

O Uruguai tem hoje 180 vinícolas em operação, algumas fazendo apenas vinhos para consumo local que sequer contam com a ajuda de enólogos, trabalhando apenas com consultores (às vezes nem isso). Ou seja, dá para calcular que quase metade dos vinhos finos do Uruguai sejam atualmente elaborados por mulheres.

Estela de Frutos, a “Dama do Tannat”, uma das expoentes quando assunto é vinho no Uruguai / Divulgação

Mas a potência feminina em toda cadeia do vinho uruguaio não para por aí. Proprietárias e gestoras, comerciais, sommelière, engenheiras agrônomas: uma infinidade de mulheres se somam em postos chaves do mercado de vinhos uruguaio. No Uruguai vinho é assunto de menina sim, ou melhor, de mulher.

Nem todas essas vinícolas tem estrutura para enoturismo, algumas podem receber o cliente informalmente. De qualquer forma, não é difícil de encontrá-las.

Separei a seguir quatro vinícolas nas quais é possível facilmente conhecer pessoalmente algumas dessas mulheres incríveis que chacoalham o mundo dos vinhos uruguaios e, claro, provar dos seus vinhos.

Bodega Alto de La Ballena

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Localizada 12 km antes de Punta del Este, a Alto de La Ballena foi pioneira em investir na região de Maldonado. A vinícola ficou famosa pelo corte de Tannat com a uva branca Viognier, que agrada em cheio os fãs de vinhos uruguaios.

Embora as recepções sejam tocadas pelo sommelier Pablo Ricciardi Baldomir, a proprietária Paula Pivel elabora os vinhos em companhia da enóloga Fiorella Faggiani. Não é raro encontrar as duas pela propriedade e, frequentemente, Paula se senta com os visitantes para uma taça de vinho e uma boa conversa com vista para o vale pedregoso onde estão suas videiras.

Aliás, se você der sorte de encontrar Fiorella, ainda é possível conversar com ela sobre seu projeto pessoal, no qual elabora vinhos de baixa intervenção, com uvas que compra de produtores locais e envasa sob o nome de Bohemia by Fiore. É dela o único Lacrima Christi do Uruguai, um vinho natural elaborado com uma uva italiana da região do Vesúvio.

Bodega Alto de La Ballena: Ruta 12 Km 16,4 – Maldonado, Uruguai / Tel.: +598 9 4410328 / Visitas e almoços de segunda-feira a domingo / Para visitar a vinícola, deve-se entrar em contato pelo Instagram para agendamento prévio. 

Antigua Bodega

Virgínia Stagnari é nome à frente da Antigua Bodega desde 2000 / Martin Rodriguez

Virgínia Stagnari, há quase 40 anos envolvida no assunto e desde 2000 no comando da Antigua Bodega, é a quinta geração de viticultores e seus filhos seguem pelo mesmo caminho. Aliás, mãe e filha trocaram a medicina pelos vinhos.

Virginia, como o coração pulsante da vinícola, é quem gerencia todo o trabalho, enquanto sua filha, Mariana Meneguzzi, seguiu pela alquimia dos vinhos trabalhando em parceria com a enóloga Laura Casella, uma das mais experientes do Uruguai, que trabalhou anteriormente com o pai de Virgínia.

O trio de mulheres potentes chegaram a um vinho igualmente potente e icônico. Il Nero, um tannat produzido somente em safras excepcionais que permanece três anos em barrica e dois anos e meio em garrafa antes de ir a comercialização.

Mas, se perguntar a Virginia qual sua uva favorita, ela confessa: Merlot! Ir a vinícola e não sair com uma garrafa de Prima Donna ou Osiris Merlot é quase um pecado, agora realizar a visita e ter a sorte de encontrar as três juntas é daqueles momentos raros e preciosos.

Antigua Bodega: Ruta 5 km 20, Santos Lugares – La Paz, Canelones – Uruguai / Tel.: +598 2 3622137 e +598 2 3621539 / Para visitar a vinícola, deve-se entrar em contato pelo Instagram ou WhatsApp para agendamento prévio. 

Bracco Bosca Winery

Fabiana Bracco e marido; ela assumiu a vinícola em 2016 / Diego Etchegoyen

Por outros motivos já recomendei a Bracco Bosca aqui no CNN Viagem & Gastronomia, mas não poderia deixar de recomendar novamente. Neste caso porque sempre digo que vinhos bons existem em muitas vinícolas, é sempre uma questão de gosto e de que tipo de experiência se procura, no entanto, Fabiana Bracco só tem lá mesmo.

Fabiana já se tornou uma personalidade do vinho. Assumiu a vinícola de seu pai quando ele faleceu e tomou para si a missão de transformá-la numa vinícola boutique com vinhos de alta qualidade. E não desviou desse caminho.

Seu carisma cativa todos os brasileiros que passam por ali. Na medida do possível, ela faz questão de estar presente para receber os visitantes.

A anfitriã compartilha histórias do mundo do vinho e de suas viagens pelo mundo. Fluente em cinco línguas, ela não é enóloga (é bom mencionar), e sim formada em relações internacionais com especialização em marketing. Mas, de paladar apurado e tino para os negócios, é uma atração tão impressionante quanto a vinícola e seus vinhos. De qualquer forma, não deixe de sair de lá sem o seu premiado Cabernet Franc.

Bracco Bosca Winery: Carretera Sosa Diaz km 43.500 – Piedra del Toro, Atlantida – Uruguai / Tel.:  Tel: +598 2 2956698 / Para visitar a vinícola, deve-se entrar em contato pelo Instagram para agendamento prévio ou pelo site.

Familia Deicas

Adriana Gutiérrez é enóloga chefe da Familia Deicas / Giuliana Nogueira

Maria Laura Irabuena é responsável pelas análises laboratoriais. Yissel Sciutti é responsável pelo monitoramento de vinhos em tanques e piscinas. Na última safra, ele se encarregou das microvinificações junto com Serena Minutti, que agora acompanha o envase. Zamhira Orguet trabalha nas elaborações em barris, foudres e ânforas. Tudo isso acompanhado de perto pela enóloga chefe Adriana Gutiérrez

Embora a imagem que venha à mente de quem conhece a família responsável pelo icônico vinho Prelúdio seja do patriarca, seu filho e neto, é assim que Santiago Deicas me descreve o importante papel que as mulheres desempenham em uma das maiores vinícolas do Uruguai em volume de produção de vinhos finos.

Adriana nem sempre está disponível aos olhos dos turistas, mas para quem faz uma visita técnica pela impressionante área de produção, com certeza terá uma aula de grande expertise com ela.

Familia Deicas: Ruta 5 km 38200 – Juanicó, Canelones – Uruguai / Tel.: +598 0 94 847382 / Para degustações e reservas do restaurante, deve-se entrar em contato pelo site.

*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.

Sobre Giuliana Nogueira

Giuliana Nogueira / Acervo pessoal

Giuliana Nogueira é brasileira, psicóloga, fotógrafa e assessora de comunicação. Não é enóloga nem sommelierè, mas é enófila, apaixonada especialmente por vinhos uruguaios e pelo Uruguai. Mantém o Instragram @Instatannat, falando mais de vinhos uruguaios que os próprios uruguaios. Sempre que pode viaja até a terra dos nossos vizinhos, que sabem receber muito bem.


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