Com bom humor e bons drinques, Jaguara diverte a cena noturna de Curitiba

No coração do São Francisco, em uma casa sem nenhuma indicação externa, o Jaguara guarda coquetéis complexos e uma coxinha inesquecível

Caroline Grimmcolaboração para o Viagem & Gastronomia

Curitiba

Depois de ter a certeza de que se trata do endereço certo, e de adentrar no que parece ser um inferninho, a impressão é que você atravessou um portal. Já de cara você é impactado por um grande garrafeiro em formato de cabeça de onça e por um belo balcão iluminado, onde recomendo sentar e já pedir o primeiro coquetel.

Aberto em dezembro de 2021, o Jaguara é um bar que não quer se levar tão a sério, e isso já fica claro no próprio nome. No Sul, é uma gíria usada para chamar amigavelmente alguém de pilantra ou sacana. Autodenominado uma “sociedade de amigos da onça”, a expressão não tem o significado que imaginamos. Na coquetelaria, as medidas são em “onças” (de “ounce”, em inglês), e aí está a origem do letreiro luminoso de uma das salas.

A criatividade não para por aqui. Ao abrir a carta, deparamos com nomes como “Amaro Tchan” (R$ 36), um sour à base de jambu e amaro averna; “Creaminosa” (R$ 36), um sour cremoso com Jerez Cream e maracujá; e “Legalmente Louro” (R$ 38), à base de pisco e um bitter de folha de louro, especiarias e Jerez fino.

A decoração é toda vintage e fica difícil não tirar fotos das louças com motivos de onça, que combinam com a estampa do uniforme dos atendentes.

A carta do Jaguara

Drinque Petit Botanique do Jaguara Bar
Petit Botanique, coquetel refrescante à base de pisco, Jerez Cream, licor de ervas abadia xarope de pepino e espumante brut / Caroline Grimm

O bartender e proprietário Gabriel Figueira, de 29 anos, se interessou pelo mundo da coquetelaria após assistir a uma cena de um filme sobre o autor Truman Capote em que ele toma um dry martini. Julgou a cena bonita, mesmo sem fazer ideia, na época, de qual seria o sabor daquela bebida.

Após contato com grandes nomes da mixologia curitibana e nacional, como Igor Bispo e Vinicius Kodama, decidiu trabalhar na área, e hoje atribui grande parte do seu conhecimento e experiência a estes profissionais e a outros colegas de profissão com quem trabalhou mais tarde, como Jaci Andrade, Julio Perbich, Oberdan Batista e Ariel Todeschini.

Gabriel explica que a carta é composta somente de coquetéis autorais, divididos por técnica e teor alcoólico. Há os coquetéis montados (todos de baixo teor alcoólico e gaseificados), os batidos (teor alcoólico moderado e equilibrados em acidez, dulçor e com um toque de um terceiro elemento, como a picância, o herbal, o amargo) e os coquetéis mexidos (de alto teor alcoólico e com estruturas de drinques clássicos, como o negroni, martini e similares).

Diferentes perfis de coquetéis

A ideia é a seguinte: está de estômago vazio? Comece com um coquetel montado enquanto aguarda o prato. Uma ótima pedida é o “Cupuasse” (R$ 34), que leva cachaça de jambu, cupuaçu, hortelã e água com gás.

Seu prato chegou e já acabou o drinque? Peça um sour batido, mais encorpado, que irá harmonizar com a maior parte dos pratos, como o “Pxurisco Sour” (R$ 36), que leva pisco, Jerez PX, Jerez oloroso, limão, xarope simples e puxuri ralado.

Chegou de estômago cheio depois de um jantar? Vá de um coquetel mexido com perfil digestivo, em goles curtos e sem pressa, como o imperdível “Rumbo In The Jambu” (R$ 80), que leva rum Mount Gay XO, bitter de jambu, cumaru e pimenta habanero e vermute de Jerez.

Inclusive, a grande paixão de Gabriel é o Jerez, que é um tipo de vinho fortificado típico da Espanha. Isso fica evidente no cardápio do Jaguara, que atualmente conta com 24 coquetéis autorais com variações da bebida.

Ao seu ver, o ingrediente agrega acidez e dulçor a um coquetel com mais complexidade do que um suco de fruta ou xarope de açúcar, podendo trazer notas de fermentação, cremosidade e textura, dependendo da técnica utilizada.

Minha sugestão para perceber tudo isso? Peça o Amaretto Sour (R$ 36), que leva brandy de Jerez, Amaretto, Jerez oloroso, abacaxi e limão.

Cardápio para além das bebidas

Apesar de ser um bar de coquetéis, o Jaguara merece a visita mesmo que você não beba, muito por conta do seu enxuto cardápio. De lá sai uma das melhores coxinhas que provei nos últimos tempos, recheada com carne de panela e catupiry, acompanhada de maionese de páprica (R$ 45; 4 unidades). Não cometa o pecado de não pedir!

Ótimo também é o Homus Picante (R$ 35), acompanhado de uma pasta de alho assado, e o Pato com Tucupi (R$ 55; 3 unidades), em que o pato desfiado é servido em massinhas de mandioca e coberto com esferas de tucupi.

A tradicional carne de onça, prato típico de Curitiba, também tem seu lugar no cardápio. Aqui ela leva o nome de Carne de Jaguara (R$ 40 a meia porção), e tem um tempero todo especial.

Sobremesa? Sólida não há. Mas o “Volkselvagem” (R$ 38), que leva brandy de Jerez, licor de café coldbrew, licor de laranja e licor 43 encerrará sua noite com chave de ouro.

Jaguara Bar
Rua João Manoel, 188 – São Francisco, Curitiba – PR / Horário de funcionamento: terça a quinta-feira, das 19h à 0h; sexta e sábado, das 19h às 2h / Atendimento por ordem de chegada ou reservas via perfil do Instagram.

Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.

Sobre Caroline Grimm

A criadora de conteúdo gastronômico Caroline Grimm
A criadora de conteúdo gastronômico Caroline Grimm / Caroline Grimm

Curitibana, médica de formação e gastrônoma de coração, Caroline Grimm também é criadora de conteúdo e acumula milhares de seguidores nas redes sociais. Como ela mesma descreve, vive para cozinhar, comer, beber e viajar – não necessariamente nesta ordem, mas sempre em busca das melhores experiências.