Conheça o hotel de luxo construído em um trem desativado na África do Sul
Este trem não vai a lugar algum, mas se tornou uma importante atração de luxo dentro do Parque Nacional Kruger, popular destino africano de safári
A África do Sul é o lar de algumas das viagens de trem mais luxuosas e nostálgicas oferecidas em qualquer lugar do mundo. Mas, para alguns entusiastas, um trem que não vai a lugar algum é a principal atração do país.
Composto por um conjunto de vagões de trem reformados em 24 suítes modernas com varandas e piscina com vista para o Rio Sabie, combina acomodações de luxo com uma vista íntima da vida selvagem, incluindo avistamentos dos “Big fives” da África – leões, leopardos, rinocerontes, elefantes e búfalos.
Jerry Mabena, CEO do Motsamayi Tourism Group, proprietário do hotel, diz que o empreendimento remonta aos primeiros dias do parque, quando os trens a vapor passavam por Kruger na década de 1920 na Linha Ferroviária Selati.
Os trens já foram vitais para os turistas que acessavam o Kruger e até estacionavam durante a noite na mesma ponte onde hoje fica o hotel. Uma nova linha ferroviária construída nos limites do Kruger na década de 1970 empurrou a linha e a ponte Selati para a desativação, mas em 2016 surgiu uma ideia para restaurar a ponte à sua antiga glória.
“A ideia para nós era reencenar a experiência de uma forma ou de outra”, diz Mabena. “Quando tivemos a oportunidade de comprar vagões antigos desativadas da Transnet – que é o nosso operador logístico ferroviário na África do Sul – não pudemos dizer não à ideia.”
O interior dos vagões foi renovado com acabamento moderno, embora com alguns toques Art Déco (“estávamos tentando encontrar um visual que não fosse colonial”, diz Mabena).
Se os hóspedes deixarem as cortinas abertas, poderão acordar com o amanhecer e captar os primeiros sinais de vida do lado de fora, pelas janelas do chão ao teto voltadas para o leste. O rio é um ponto focal da vida selvagem, o que significa que os hóspedes podem passar o dia inteiro relaxando nas varandas ou nadando na piscina. “Ter hipopótamos grunhindo debaixo dos vagões atrai pessoas que querem estar na natureza, mas não querem estar imersas na natureza”, diz Mabena.
Mesmo assim, muitos visitantes calçam as botas e vão com um guia para um safari.
Funcionários, incluindo o guia sênior Thuli Mnisi, foram recrutados como parte dos esforços para envolver a comunidade local no empreendimento. Mnisi trabalhou como guia para outras empresas desde 2014, antes de ingressar na Kruger Shalati. “(É) totalmente diferente de outras hospedagens”, diz ela. “Quando (os hóspedes) visitam o trem pela primeira vez, é de tirar o fôlego, a vista é única.”
O Parque Nacional Kruger permite experiências de safári autônomos, mas Mnisi diz que não há substituto para ter um guia. “Nós nos comunicamos, sabemos onde podemos encontrar os animais”, diz ela.
“Se você estiver dirigindo sozinho, pode simplesmente passear pelo Parque Nacional Kruger, e é uma área muito grande. Se você for com um guia, ele sabe o que está fazendo, sabe onde encontrar o que e exatamente a que horas.”
Jardineiros plantaram espécies indígenas nas dependências do hotel e cultivam uma horta, com produtos usados no restaurante requintado do Kruger Shalati. As iguarias locais servidas no ambiente refinado incluem carpaccio de crocodilo, carne de veado e gazela.
“A mãe natureza é a verdadeira artista”, diz o chef Vusi Mbatha. “É uma daquelas filosofias que partilhamos: pegar ingredientes simples e transformá-los em algo incrível.”
Após atrasos no desenvolvimento devido à Covid-19, o hotel foi inaugurado em dezembro de 2020 e está recebendo hóspedes para sua quarta temporada de verão.
Os quartos duplos a bordo do trem custam a partir de 9.950 Rand (R$ 2600) por pessoa, por noite para hóspedes internacionais, com descontos para estadias mais longas. Um dos sete quartos da Bridge House adjacente custa menos. As tarifas incluem todas as refeições, algumas bebidas, dois safaris e transporte para o aeroporto.
Se tudo isso parece muita vida selvagem e falta de trens funcionando, de fato, o Motsamayi Tourism Group também é dono da Estação Kruger, logo ao sul da ponte e onde fica o último trem a operar no parque. Encalhada depois que a maioria dos trilhos do parque foram removidos na década de 1970, a locomotiva a vapor Classe 24 da Ferrovia Sul-Africana viveu muitas vidas (incluindo um vagão funerário para um ex-primeiro-ministro) e agora desfruta de uma aposentadoria feliz ao lado de um restaurante e bar.
“Acho que a cultura dos trens a vapor e a cultura dos trens históricos estão começando a ressurgir”, diz Mabena.
“Não temos um trem a vapor em movimento, mas um dia acho que teremos.”