Quem é Fellipe Zanuto, dono d’A Pizza da Mooca, casa brasileira na lista das melhores do mundo

Fellipe Zanuto encabeça um grupo gastronômico de sucesso e estreou recentemente no comando de um programa de televisão. Descubra quem é o jovem chef que conquista fãs ao redor do país e angaria prêmios internacionais com as suas redondas

Chef Fellipe Zanuto, nome à frente da Hospedaria, A Pizza da Mooca, Da Mooca Pizza Shop e do Onesttà
Chef Fellipe Zanuto, nome à frente da Hospedaria, A Pizza da Mooca, Da Mooca Pizza Shop e do Onesttà Divulgação

Tina Binido Viagem & Gastronomia

São Paulo, SP

Se você ligar a televisão nas sextas à noite, é bem possível que encontre Fellipe Zanuto, ao lado de Dani Calabresa, apresentando o novo reality show Que Bella Pizza! transmitido na GNT. O posto de jurado não chegou à toa: Fellipe é o criador e responsável pela A Pizza da Mooca, a pizzaria que conquistou o 85º lugar na premiação 50 Top Pizza – ranking mundial que foi anunciado ontem, 13 de setembro, em Napoli, na Itália.

Com duas unidades – uma na Mooca, claro, e outra em Pinheiros – a pizzaria foi o primeiro negócio de Fellipe, que também é proprietário do restaurante Hospedaria, da pizzaria estilo romana Da Mooca Pizza Shop e da pizzaria tipo paulistana, aqueles lotadas de recheio, Onesttà.

A veia empreendedora

O tino pela gastronomia veio de uma história bem comum: ele odiava comer macarrão instantâneo quando viajava com os amigos e, então, sempre assumia a cozinha e as refeições da turma. Porém, na hora de escolher um curso, não foi gastronomia sua primeira opção.

Pelo histórico familiar de empreendedores, Fellipe acreditava que o único curso que deveria fazer era o de administração. Um ano foi o suficiente para que ele percebesse que gastronomia era o seu grande amor.

“Um amigo meu, incentivado por mim, foi fazer gastronomia no Senac. Uma vez fui visitá-lo e me apaixonei pelo curso”, diz ele que, ainda assim, nunca tirou da cabeça a ideia que teria que empreender – mas agora já sabia que era algo no setor gastronômico.

Ao terminar a faculdade de gastronomia na Anhembi Morumbi teve uma conversa com Rosa Moraes, responsável em implantar o primeiro curso superior do Gastronomia do Brasil e referência na formação de profissionais para o setor, que mudou sua vida.

“Ela indicou um curso no Le Cordon Bleu, em Sidney, na Austrália, voltado para hospitalidade em Alimentos e Bebidas. Por um ano, das 9h às 16h, eu estava lá de terno e gravata aprendendo como gerir um negócio de gastronomia”, relembra. Já no voo de volta ao Brasil, a cabeça de Fellipe era um turbilhão de ideias.

Foi trabalhar com Pascal Valero, no extinto restaurante KAA, graças a sua fama de ter uma cozinha disciplinada. “Eu era muito desfocado. A gastronomia me fez ser mais centrado, tudo é muita precisão”, comenta. Ao mesmo tempo que dava expediente no KAA, Fellipe fazia eventos para juntar dinheiro para empreender: jantares particulares, sociais e corporativos que lhe rendiam uma boa grana para, então, montar seu tão desejado negócio.

De repente….dono de pizzaria!

A história da pizza caiu de paraquedas na vida de Fellipe. Seu padrasto – um apaixonado por gastronomia – abriu uma pizzaria na Mooca e chamou Zanuto para uma consultoria.

“Um dia meu padrasto me chamou e falou: esse negócio de restaurante não é para mim. Eu não sei o que fazer quando o pizzaiolo falta”, relembra rindo.

“Herdei a pizzaria do dia para a noite. E eu nem queria ter uma pizzaria! Eu queria ser chef de cozinha e ter meu restaurante nos moldes que aprendi na Austrália. Pizza não tinha glamour nenhum, o que tinha glamour, na época, era gastronomia molecular”. Sem saber se teria outra oportunidade para empreender, Zanuto abraçou a oportunidade.

Nascia então A Pizza da Mooca, há doze anos no bairro onde a gastronomia não era tão forte, apesar da massiva presença da cultura italiana. “Eu não sabia nada de pizza. Comprei muitos livros, testei muitas massas e cheguei à pizza napolitana. E daí esbarrei num problema: quando a pizza era consumida no salão – de apenas 8 lugares – eu recebia mil elogios e a pessoa voltava. Quando ia pelo delivery – 70% das vendas – nós recebíamos muitas críticas”, conta Fellipe.

O problema era a massa super hidratada que chegava na casa das pessoas com a textura diferente. A solução? Fechar o delivery e ampliar o salão. Com o salão maior, o sucesso veio quase que automático: o boca a boca da tal pizza napolitana da Mooca se espalhou e foi além do bairro.

O surgimento do Hospedaria

Com A Pizza da Mooca bem encaminhada, chegou uma outra oportunidade na porta de Fellipe. No impulso de outros empreendedores que queriam transformar a Mooca em um destino gastronômico, em 2016, ele alugou um galpão industrial de frente a tradicional doçaria Di Cunto, na Rua Borges Figueiredo.

“Eu não sabia o que ia fazer. Apenas me enfiei num aluguel”, comenta. Pensou, conversou com a família e decidiu: abriria um restaurante que fosse voltado para a comida de casa, mas com a influência de imigrantes, muito inspirado pela avó que tinha o hábito de trocar receitas com uma amiga libanesa.

Ambiente do Hospedaria Itaim / Daniel Cancini

“Ali fez sentido para mim: misturar comida de casa, estudar a comida dos imigrantes e montar um menu”, relembra. Foi até o Museu da Imigração pesquisar os cadernos de receitas dos imigrantes para montar seu cardápio.

“No inicio eu quis fazer algo sofisticado, mas depois percebi que as pessoas queriam comer a comida de casa, a comida que lembra a avó, as reuniões familiares de final de semana. O sucesso do Hospedaria é esse: um prato de macarrão bem feito, um parmeggiana que se come com a família inteira num domingo, a salada de batata que a tia fazia. É essa a fórmula do sucesso até hoje”, comenta.

E veio algo dos menus que fazia para os amigos nas viagens? “Claro! O brigadeiro que eu sirvo no Hospedaria com bolacha cream cracker é uma delas”. A receita do tal brigadeiro é a releitura do leite com Nescau que a avó fazia.

Em 2022, a segunda unidade do restaurante chegou ao Itaim Bibi, onde todos os dias de semana forma-se filas de pessoas ávidas por uma boa comida de casa.

Pizza Romana x Pizza Paulistana

Enquanto reestruturava a nova operação d’A Pizza da Mooca, Zanuto e uns amigos tiveram a ideia de abrir uma empresa de cornicciones para vender para o varejo. O baixo lucro e o trabalho árduo fez o negócio morrer, mas em termos.

A então marca Da Mooca, se transformou na pizzaria romana Da Mooca Pizza Shop, em Pinheiros, de frente ao disputado Tan Tan.

“Pizza romana era algo praticamente inexistente em São Paulo. Eu achava demais as pizzas ficaram ali na vitrine e você pode escolher o tamanho da sua pizza, os sabores e comer com as mãos sem muita cerimônia”, conta. Desde 2017 a casa funciona nesse esquema – inclusive na hora do almoço.

Da Mooca Pizza Shop vende pizzas em pedaços para comer com as mãos / Mário Rodrigues

E, apesar do sucesso ininterrupto do seu Hospedaria, Fellipe tem pizza correndo nas veias. Disposto a atacar em todas as frentes que a redonda pudesse oferecer, ele abriu em 2020 – durante a pandemia – a Onesttà, uma pizzaria que tem um ponto especial: ela funciona exatamente na casa onde Fellipe nasceu.

“Faz sentido porque tudo que eu faço é tentar voltar para as origens. Sempre que quero entender melhor alguma coisa eu vou na origem. Pizza napolitana é a origem da pizza na Itália. A pizza paulistana, essa bem recheada com muita muçarela é a nossa origem como pizza”, afirma.

Hoje atendendo apenas a região da Mooca e imediações, a pequena pizzaria – também com apenas 8 lugares – é mais uma frente que Fellipe tem atacado.

Onesttà Pizza, a marca de “pizza de bairro paulistano” do chef Fellipe Zanuto / Divulgação

Burnout e o futuro

Exigente, perfeccionista e praticamente onipresente. Os três predicados que Fellipe sempre valorizou o levou para um episódio de burnout, ao qual ele se recupera ainda hoje.

“Poucos meses antes da segunda unidade do Hospedaria abrir, eu sentei em frente ao computador para trabalhar e simplesmente fiquei três horas sem conseguir mexer no mouse. Achei que uma noite de sono ajudaria. No dia seguinte, eu não queria nem ouvir falar de trabalho. No terceiro dia fui ao médico”, relembra.

O diagnóstico de Burnout (Síndrome de Esgotamento Profissional) veio como uma bomba. “Como poderia o meu esforço se transformar no meu pior inimigo? Eu gostava de trabalhar. Eu gosto do que construí e do que faço. Eu não entendia porque isso tinha acontecido comigo”, diz. O médico deu um conselho importante: vá viajar. Conselho seguido a risca.

Hoje, aos 37 anos, Fellipe alterna entre bem seu tempo entre lazer e trabalho e viaja sempre que pode. No momento dessa entrevista ele estava na Itália para receber o prêmio 50 Top pizza do mundo, mas deixou claro que “Pós evento vou relaxar também!”. Descanso mais que merecido!

  • Os restaurantes de Fellipe Zanuto
  • A Pizza da Mooca: Rua da Mooca,1747 – Mooca / Tel.: (11) 3571-1221 e Rua João Moura, 529 – Pinheiros / Tel.: (11) 3064-0060 / Horário: segunda, das 18h às 22h, terça a domingo, das 18h às 23h.Da Mooca Pizza Shop: Rua Fradique Coutinho, 154 – Pinheiros / Tel.: (11) 3062-0422 / Horário: domingo a quinta, das 16h às 22h, e sexta e sábado, das 16h às 23h.Hospedaria: Rua Borges de Figueiredo, 82 – Mooca / Tel.: (11) 2291-5629 / Horário: segunda, das 12h às 15h, terças à quintas, das 12h às 15h e das 18h às 22h, sexta e sábados, das 12h às 22h30, e domingos das 12h às 17h e Rua Clodomiro Amazonas, 216 – Itaim Bibi / Tel.: (11) 3168-7291 / Horário: segunda, das 12h às 15h, terças à quintas, das 12h às 15h e das 17h às 22h, sexta e sábados, das 12h às 22h30, e domingos, das 12h às 17h.Onesttà Pizza: Rua do Oratório, 113 – Mooca / Tel.: (11) 2268-4865. Horário: terça a domingo, das 18h às 23h (Refeição no local ou delivery).