Aceita um café? Conheça marcas especiais brasileiras, por Daniela Filomeno

Quer frase mais brasileira do que: passa lá em casa para tomar um café? A bebida faz parte da nossa cultura e conquistou espaço entre os melhores do mundo. Compartilho alguns dos meus prediletos produzidos na Serra da Mantiqueira

Daniela Filomeno compartilha seus cafés prediletos produzidos na Serra da Mantiqueira (Foto: acervo pessoal)

Passar um café na hora, sentar-se à mesa junto da família e contemplar a manhã que nasce – ou a tarde que vai embora – é um ritual sagrado de convivência. E, para mim, o perfume do cafezinho que invade a casa é um dos melhores aromas do mundo! Junto dele, várias memórias afetivas são trazidas à tona e cada gole é um convite ao passado.

Enquanto gravava o programa CNN Viagem&Gastronomia: “Serra da Mantiqueira: Café, Azeite e Queijos” esse convite ao passado foi ainda mais forte, ao visitar fazendas produtoras dos melhores cafés do país, ouvir as histórias de seus fundadores, ver de perto todo o processo desse produto tão significativo em nossa história, beber um café passou a ter outro significado para mim.

Suas origens remontam aos árabes do século 15, que foram pioneiros no cultivo e na preparação da bebida, e aos franceses, que estão por trás da primeira máquina comercial de café, no século 19.

E nosso país não fica de fora dessa: o grão tem uma raiz profunda na história do Brasil. As primeiras sementes brotaram aqui no século 18 para consumo próprio e acabaram se espalhando por várias regiões no século 19, marcando os rumos econômicos no Brasil Colônia e Império. À época, o grão era chamado até de “ouro verde” devido a sua importância.

Atualmente, a produção na Serra da Mantiqueira, fronteira entre São Paulo e Minas Gerais, incluindo a região da Alta Mogiana e o sul mineiro, nos agraciam com os melhores cafés especiais do país. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, em inglês), os especiais são aqueles cujos grãos são isentos de impurezas e defeitos, com atributos sensoriais diferenciados, incluindo uma bebida limpa e doce, com corpo e acidez equilibrados.

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Ao contrário dos cafés mais comuns vendidos nos grandes supermercados, taxados de para “consumo”, os especiais têm um processo controlado de verificação de qualidade, que vai desde a plantação das mudas, da colheita e até no cuidado com as embalagens. Eles devem ter rastreabilidade certificada e respeitar critérios de sustentabilidade ambiental, econômica e social. 

Assim, os cafés de São Paulo e Minas que divido possuem personalidade marcante, que fornecem bebidas aromáticas e corpo aveludado. Convido você a embarcar numa viagem de sabores e descobertas pelas melhores fazendas de cafés especiais da região, muitas delas premiadas!

  • Café Fazenda Pessegueiro

Foto de café da Fazenda Pessegueiro sendo coado numa xícara
Chamado de “o especial da Mogiana”, café torrado e moído com notas de chocolate, nozes e castanha da Fazenda Pessegueiro (Foto: divulgação/Fazenda Pessegueiro)

Localizada em Mococa (SP), bem pertinho da divisa com Minas Gerais, a Fazenda Pessegueiro iniciou suas atividades em 1870 e possui uma tradição cafeeira familiar que esbarra também com a história do café no Brasil. A região da Mogiana é favorável para o cultivo do grão arábica e da fazenda sai um produto de ótima qualidade, chamado de “Especial da Mogiana”, que possui boa acidez, doçura média e notas de chocolate, castanha e nozes. Todo processo, desde o plantio até a colheita, é artesanal, com a torra e o processo de embalagem feitos na propriedade. Ali também segue-se princípios sustentáveis de cuidado com o solo e a natureza, valorizando o produto e a terra ao redor. Pelo site próprio da fazenda é possível comprar o café torrado em grãos, moído, em cápsulas, sachês e ainda a variedade Arara, que vem numa linda lata customizada.

  • TradiCafé

Foto de quatro variedades de café vendidas pelo TradiCafé
Variedades vendidas pelo TradiCafé, entre eles: Bourbon Amarelo, Catuaí e Obatã (Foto: reprodução/Instagram)

O TradiCafé é uma torrefação de cafés especiais que fica dentro do Mercado Municipal de Poços de Caldas, cidade turística no sul de Minas. A equipe é especializada em micro e nano lotes de cafés da região vulcânica do estado, que compreende municípios com formação geológica diferenciada, presença de águas quentes e com grande teor de enxofre, garantindo um “terroir vulcânico”, termo para caracterizar o DNA do café. Os pequenos lotes garantem que o produto seja de excelentíssima qualidade, já que os grãos são selecionados manualmente e há todo um cuidado artesanal na cadeia de produção. Os grãos são 100% arábica, colhidos no ponto certo de maturação e torrados de maneira controlada. O resultado é um café frutado, de aroma intenso, cítrico e baixa ou média acidez, com destaque para as variedades Mundo Novo, Catuaí e Obatã Vermelhos, Bourbon Amarelo e Blend Tradi, este último um espresso para o dia a dia com o melhor da zona cafeeira do sul de Minas.

  • Fazenda Baobá

Funcionário da Fazenda Baobá peneirando grãos de café
Grãos de café da Fazenda Baobá sendo peneirados. Os cafés especiais Baobá e Onnie são destaque (Foto: divulgação/Fazenda Baobá)

Na divisa com Minas, perto de Poços de Caldas, a pequena cidade de São Sebastião da Grama guarda o Vale da Grama, região com características que tornam ideal o cultivo de café arábica como realizado pela Fazenda Baobá. A empreitada começou ali em 2005, mas o amor pelo café vem de muito antes. Arnaldo Alves Vieira, dono da empreitada, conta que seu pai, de mesmo nome, chegou em São Paulo na década de 1940 vindo do Porto, em Portugal, e logo foi trabalhar nas cafeterias do centro antigo da capital paulista. A Baobá produz numa altitude de até 1.400m, com foco no café arábica, em que são empregadas técnicas de cultivo que respeitam a natureza local. Dos 78 hectares de área plantada saem três tipos de café: o tradicional Café Vó Nicota e os especiais Café Baobá e Onnie, estes dois últimos intensos e adocicados.

  • Alto Alegre

Foto dos grãos de café da variedade Bourbon Amarelo, da Alto Alegre Cafés Especiais
Café da variedade Bourbon Amarelo de uma das fazendas da Alto Alegre Cafés Especiais. Resultado é uma bebida adocicada e marcante (Foto: divulgação/Alto Alegre)

São ao todo três fazendas onde a Alto Alegre Cafés Especiais planta, cuida e colhe seus grãos de café arábica. Cafés torrados moídos e em grãos saem das mãos da quinta geração familiar ligada ao negócio, que preza pela certificação de origem. Basta digitar um código que vem na embalagem no site oficial para saber informações do lote do produto. Como atestado de qualidade, os principais cafés saem das fazendas Alto Alegre e 4 Rios, na Alta Fronteira Mogiana, região privilegiada de produção do arábica. Além do clima e do solo, ambas as propriedades cultivam seus grãos a uma altitude de 1.340m. Ali, a colheita do café se dá de forma manual devido ao relevo montanhoso, permitindo um melhor monitoramento da qualidade. As três variedades vendidas pelo site próprio possuem características diferentes e especiais: o Bourbon Amarelo é cítrico e floral, o Catuaí tem sabor de frutas vermelhas e o Mundo Novo é marcado por notas de caramelo e chocolate meio amargo. Todos com gosto marcante!

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  • Orfeu

    Uma das missões da Orfeu é a busca pelo grão perfeito, lema traduzido com maestria nos cafés vendidos pela marca. Com sofisticação, simplicidade e autenticidade, a Orfeu tem se destacado entre os cafés especiais desde 2005, quando entrou neste filão do mercado. Os grãos são cultivados na Fazenda Sertãozinho, em Botelhos (MG), entre altitudes de 1.000m e 1.300m, local que possui mais de 67 anos de tradição cafeeira. Para completar entregar um bom produto, a torrefação foi idealizada e construída na própria fazenda. Atualmente, os grãos selecionados saem também de outras duas propriedades: a Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama (SP), e a Laranjal, em Poços de Calda (MG). A marca, muito conhecida país afora, vende café torrado em grãos, moído, em cápsulas e moagens especiais. Os tipos variam entre intensos, clássicos, Bourbon Amarelo, orgânico, descafeinado e até microlote, que contém uma safra premiada. Tamanha excelência ao longo do tempo rendeu bons frutos: a Orfeu foi 28 vezes campeã do Cup of Excellence, principal concurso de qualidade para café do mundo.

  • Kaynã

Foto da embalagem do café especial Kaynã
Embalagem do café especial Kaynã, produzido na Fazenda Retiro Santo Antônio (Foto: Renata Takahashi)

O nome já diz tudo: Kaynã significa “morador do mato” em tupi guarani, e o café saído da Fazenda Retiro Santo Antônio, entre Santo Antônio do Jardim e Espírito Santo do Pinhal (SP), tem uma ligação íntima com a natureza. Plantado e colhido aos pés da Serra da Mantiqueira, na região da Mogiana, o produto tem como missão ser o mais sustentável possível a partir de sua pequena produção, embalagem e até entrega – feita de bike no varejo da Grande São Paulo. O café 100% arábica é vendido em grãos ou moído, com embalagens que variam entre 250g e 1kg, em que a doçura chama atenção do paladar. Pelas ações na propriedade e a qualidade do café, Jefferson Adorno, que toca a fazenda, foi agraciado com o prêmio Cafeicultor Destaque do Brasil em 2009. Por ali, Jefferson não produz somente café, mas vende também fubá caseiro e mel silvestre, iguarias também deliciosas. 

Fazenda Irarema

A especialidade da Fazenda Irarema hoje em dia é a olivicultura, com uma produção de azeites renomados e de alta qualidade. Mas, inerente à região, o café também faz parte da história centenária do local. Localizada em São Sebastião da Grama, na divisa com a cidade mineira de Poços de Caldas, a fazenda tinha um cafezal de onde saiam grãos de café até 2014. Com o fim das operações, o casal Maurício e Monica Carvalho adquiriram o lugar e deram início a uma reestruturação, que mudaria o rumo do empreendimento, já que o cafezal estava velho e menos produtivo. No lugar, a uma altitude de cerca de 945m, oliveiras passaram a dividir espaço com os cafés especiais, como o Maragogipe, Catuaí Amarelo e Bourbon Vermelho, cujos pés foram mantidos na propriedade. Com uma produção bem pequena, os cafés, sejam eles torrados e moídos ou torrados e em grãos, possuem ótima qualidade e são vendidos no empório dentro da fazenda, misturando o requinte do passado com o glamour do presente.

Foto do café coado da Fazenda Irarema acompanhado de um pão na chapa em um prato azul
Café coado da Fazenda Irarema junto de pão na chapa com azeite, que podem ser apreciados no empório da propriedade (Foto: reprodução/Instagram)
  • Santa Maria

Torrado e moído ou espresso em grãos, tanto faz: os cafés do Grupo Santa Maria são de ótima qualidade, produzidos a uma altitude de cerca de 1.000m na cidade mineira de Santo Antônio do Amparo. Os grãos são colhidos em cinco fazendas do grupo, todas na região da pequena cidade de pouco mais de 18 mil habitantes, e são vendidos também para o mercado externo, principalmente para o Japão, Estados Unidos e Europa. Por ali, o café ganha doçura e corpo com os dois métodos de beneficiamento: o natural, em que grãos são espalhados em um terreiro, expostos ao sol e removidos várias vezes para que a secagem seja uniforme; e o cereja descascado, em que a fruta tem a polpa extraída mecanicamente, indo depois ao terreiro para secar.

  • Bravo Café

Foto de uma xícara de café do Bravo Café
Com nomes que remetem ao mundo vocal, os cafés da Bravo saem da Alta Mogiana e do sul de Minas, regiões ideais para o desenvolvimento do arábica (Foto: reprodução/Instagram)

Feitos a partir de grãos 100% arábica, os cafés gourmet da Bravo possuem a música em seu DNA: produzidos por pequenos e médios produtores da Alta Mogiana e do Sul de Minas, os produtos são nomeados segundo características vocais, como o Tenor, Barítono, Maestro e Soprano. Há 20 anos no mercado, a Bravo aplica os melhores métodos de secagem e beneficiamento também para os clientes exigentes do exterior. Sejam eles moídos, em grãos, cápsulas ou sachês, os cafés possuem uma doçura marcante e formam quase que uma orquestra de sabores e de história. As técnicas de torrefação são rebuscadas e a sustentabilidade das propriedades é levada muito a sério, como todo bom café especial deve prezar. Pelo site próprio, com entregas em casa, os cafés são vendidos junto de outros acessórios e objetos. Na dúvida? Há kits com todos os produtos da marca por um preço camarada. 

*O programa CNN Viagem & Gastronomia vai ao ar todo sábado, às 21h, na CNN Brasil. A CNN está no canal 577 nas operadoras Claro/Net, Sky e Vivo. Para outras operadoras, veja aqui como assistir. Horários alternativos: domingo, às 03h50, 13h10 e 20h40; Segunda-feira, às 01h10. Ou veja a íntegra no nosso canal no Youtube.


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