Peru: uma viagem de trem pelas paisagens cinematográficas dos Andes
Ao longo de uma das rotas mais altas do mundo, o luxuoso Belmond Andean Explorer cruza cenários pitorescos e patrimônios da humanidade de Cusco a Arequipa passando pelo místico Lago Titicaca
Um dos países mais fascinantes do mundo, o Peru nos reserva experiências gastronômicas ímpares, sítios arqueológicos intocados e uma mistura entre cultura e natureza para lá de pujante. Mas já imaginou experimentar todas estas facetas do país a bordo de um sofisticado trem?
Parar em locais que são patrimônios mundiais da Unesco, ver o dia raiar no lago navegável mais alto do mundo e conhecer a fundo uma comunidade de descendentes de povos pré-Incas enquanto atravessamos parte do país e degustamos uma gastronomia rebuscada é uma realidade no Belmond Andean Explorer.
Com uma capacidade máxima para apenas 48 hóspedes, ele é o único trem de luxo de pernoite da América do Sul e percorre a rota ferroviária de maior altitude do mundo, em que chega a 4.477 metros acima do nível do mar.
Com paisagens esplêndidas pelos janelões, todas naturais e impressionantes, os picos, as montanhas e a geografia do sul do país moldada pelos Andes peruanos é como um sonho que se transformou em realidade bem diante dos meus olhos.
A partir de Cusco, antiga capital do Império Inca, atravessamos as planícies mais altas dos Andes até chegar em Puno, capital folclórica do Peru, e pararmos no Lago Titicaca, em que ainda continuamos a viagem em direção à Arequipa – tudo isso para a quinta temporada do CNN Viagem & Gastronomia.
Paradinhas cinematográficas ao longo do caminho, menus com ingredientes locais que mudam a cada refeição e todo o charme das viagens antigas em vagões restaurados fazem dos três dias de viagem uma jornada inesquecível.
O trem
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Logo no primeiro olhar, o Belmond Andean Explorer evoca os antigos trens de luxo do século 19. Todo restaurado, ele possui vários mobiliários originais e detalhes graciosos que mantêm o charme das viagens de antigamente e que se mostram atuais com designs contemporâneos.
São ao todo 20 vagões, número que, além das cabines, cozinha, e espaços para a equipe, abrange ainda restaurante, spa, piano bar e deque de observação no último carro – espaço aberto perfeito para contemplar as maravilhas do caminho.
Cada vagão, inclusive, recebe nomes da flora e da fauna que encontramos ao longo do percurso. Há, por exemplo, o vagão-restaurante Muña, uma erva calmante dos Andes, e o vagão-spa Picaflor, em homenagem ao beija-flor.
As cabines se diferenciam em três categorias: há as suítes, os quartos com camas separadas e ainda cômodos com beliches. Todas, porém, incluem ar-condicionado, cofre e banheiro privativo com chuveiro.
O trem oferece diferentes itinerários, que vão de uma a duas noites, com pacotes completos para refeições e passeios inclusos. O itinerário mais longo, que realizei durante a passagem pelo Peru, é o de duas noites e três dias entre as cidades de Cusco, Puno e Arequipa – também há a possibilidade do caminho reverso ou ainda de uma noite entre Cusco e Puno e vice-versa.
Seja quais forem as opções, a viagem nos oferece uma imersão pelo interior do Peru, em que ao longo do caminho nos deparamos com ilhas flutuantes, sítios arqueológicos fascinantes e maravilhas naturais.
Itinerário: de Cusco para Puno
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Depois de percorrer antigos templos incas, comer em casas badaladas que servem o melhor dos ingredientes locais e ainda visitar as ruínas intocadas da cidade sagrada de Machu Picchu – também a bordo de um trem Belmond – , a pedida é continuar a viagem pelo Peru no Belmond Andean Explorer.
O itinerário de duas noites do trem sai de Cusco nas manhãs de quintas-feiras a partir da estação Wanchaq, que é o ponto de partida para os trens que seguem até o Lago Titicaca.
Antes mesmo de entrarmos nos vagões somos recebidos com danças e músicas típicas do lado de fora.
Já com o maquinário a todo vapor e devidamente acomodados, uma primeira paradinha é feita em La Raya, uma passagem no meio dos Andes com cenários pitorescos repletos de picos e encostas e uma única igrejinha.
Aqui encontramos uma comunidade que vive à base de artesanato, em que há achados incríveis, e onde os vendedores típicos ficam com seus trabalhos à disposição. Vale dizer que é um dos pontos mais altos que chegamos durante a viagem, a mais de 4,3 mil metros de altitude.
Descobertas no Lago Titicaca
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Já na região de Puno, cidade com cerca de 140 mil habitantes, passamos com o trem literalmente no meio da cidade, uma vez que os trilhos ficam entre as calçadas. É interessantíssimo notar toda a atmosfera, já que é como se a cidade parasse por alguns minutos para nos deixar passar.
Além de capital folclórica do país, Puno é a porta de entrada para o Lago Titicaca, que se divide entre Peru e Bolívia (a maior parte fica no primeiro país) e que carrega alguns superlativos: é o maior lago em volume de água da América Latina e o lago navegável mais alto do mundo, a uma altitude de mais de 3,8 mil metros.
Considerado berço da civilização Inca e sagrado para seus descendentes, o lago é uma das paradas mais especiais do trem. Aqui, ele para na estação logo nas primeiras horas do outro dia, para que assim apreciemos o nascer do sol à beira do lago.
É um momento único: vale a pena acordar às 3h30, sentarmos ao redor de uma fogueira, tomarmos café quentinho e apreciarmos os primeiros raios de sol no horizonte.
Mas as atividades não param por aí: já com o sol forte, fazemos passeios ao longo do dia pelo lago, em que realizamos uma visita superespecial a uma comunidade pré-Inca que habita as ilhas flutuantes de Uros.
É um dos povoados mais antigos do Peru, em que são os únicos a viver em ilhas flutuantes.
Vale dizer que há cerca de 100 delas pela região, as quais foram construídas artificialmente por indígenas a partir da totora, uma planta aquática usada há séculos pelas famílias Uro-Aymara, que fizeram suas casas no lago. Os barcos dos habitantes locais também são feitos com a planta, em que são usados para pesca.
Em cada ilha moram em média seis famílias – são oito no máximo e não menos do que quatro. Fato é que cada ilha tem uma autoridade e geralmente elas são mulheres.
“Na sociedade Aimará, especialmente em Uros, historicamente a mulher tem o poder”, diz José Bustinza, nosso guia no local.
Aqui somos gentilmente recebidos pelos habitantes das ilhas, que nos convidam a conhecer como suas vidas se dão no lago. Tudo é feito com o máximo respeito e a conexão que sentimos é um dos pontos altos da viagem.
De Puno para Arequipa: cavernas históricas
A viagem continua em direção a Arequipa, cujo centro histórico, construído em rocha vulcânica, é Patrimônio Mundial da Unesco.
No caminho, apreciamos o nascer do sol pelo Lago Lagunillas e paramos ainda nas cavernas de Sumbay.
O local é lar de pinturas rupestres que chegam a ter oito mil anos e foram feitas com pedra vulcânica e gordura animal para fixá-las – é impressionante o nível de detalhes, a riqueza e a nitidez que podemos ver com os próprios olhos nesta que é uma das descobertas arqueológicas mais antigas do Peru.
São cerca de oito cavernas espalhadas por aqui, em que há indícios de que pelo menos 20 indivíduos moravam pelos arredores e já domesticavam animais.
A viagem acaba em Arequipa, cidade com mais de um milhão de habitantes e que possui aeroporto internacional.