Hydra: A ilha grega de calma onde os carros são proibidos e o tempo para

Transporte na ilha grega de cerca de 2.500 habitantes é feito por equinos que carregam desde pessoas, materiais de construção e malas, até compras

Hydra, uma linda ilha grega, proibiu veículos motorizados
Hydra, uma linda ilha grega, proibiu veículos motorizados Freeartist/iStockphoto/Getty Images

Rochelle Beightonda CNN

À primeira vista, Hydra não é diferente de seus vizinhos. Como outras ilhas do Mar Egeu, tem ruas caiadas de branco, ar perfumado de jasmim e vistas deslumbrantes das águas azuis cintilantes ao seu redor.

O que diferencia Hydra é seu meio de transporte preferido. Os moradores locais resistiram ao clamor das buzinas e, em vez disso, abraçaram o som rítmico dos cascos dos cavalos.

Aqui, os carros não estão apenas ausentes; eles são intencionalmente mantidos afastados. A proibição de veículos motorizados (exceto caminhões de bombeiros, de lixo e ambulâncias) está consagrada na legislação local.

A população da ilha grega, de cerca de 2.500 habitantes, circula usando mulas, burros e pequenos cavalos.

Saindo da balsa e entrando no porto de Hydra, o coração da ilha, os visitantes são recebidos por pequenos cavalos que serpenteiam graciosamente pelas ruas de paralelepípedos e lhes dão um gostinho do ritmo tranquilo da ilha.

Ao passear pelos caminhos pitorescos de Hydra, é comum testemunhar moradores locais cuidando de suas atividades diárias, acompanhados por seus companheiros de quatro patas.

De Kaminia, uma aldeia tranquila na costa sul adornada com tradicionais casas de pedra, a Mandraki, na costa oeste, conhecida pelas suas águas cristalinas e aura descontraída, a ilha está entrelaçada com a presença deles.

“Hydra é uma ilha que realmente leva você de volta no tempo”, diz Harriet Jarman, proprietária da empresa de passeios a cavalo Harriet’s Hydra Horses. “Todo o transporte nesta ilha é feito por cavalos ou mulas. Como não há carros, a vida de todos fica um pouco mais tranquila”.

Sem carros? Sem problemas

“Hydra é uma ilha que realmente leva você de volta no tempo”, diz a moradora Harriet Jarman / Arquivo Pessoal/Harriet Jarman

A conexão de Jarman com Hydra começou há 24 anos, quando sua mãe a trouxe de férias para a ilha, levando a uma decisão transformadora de fazer de Hydra seu lar permanente. Foi uma década mais tarde, durante a crise econômica da Grécia, quando Jarman enfrentou pressão para vender o sua querida égua, Chloe.

Determinada a manter a sua amada companheira, ela decidiu estabelecer o seu negócio de passeios a cavalo, um empreendimento que não só sustentou Chloe, mas também lhe permitiu compartilhar o seu amor pelas paisagens da ilha.

“Fiquei farta de todo mundo me dizer para vendê-la (Chloe) porque é caro manter um cavalo”, lembra ela. “Pensei, ok, vou mostrar às pessoas os motivos pelos quais quero ficar na ilha”.

A empresa conta agora com 12 cavalos, com visitas guiadas pelas trilhas da ilha conduzidas por cavaleiros experientes.

Essas viagens passam pelos muitos mosteiros e praias pitorescas de Hydra. Os cavaleiros podem até dar um mergulho refrescante ao lado dos cavalos.

Uma herança esculpida em pegadas

Os burros são um meio de transporte comum em Hydra / Anton Petrus/Moment RF/Getty Images

A decisão de adotar o transporte tradicional puxado por cavalos, conhecido como “cáiques”, presta homenagem à rica herança da ilha e ao compromisso com uma vida sustentável.

Durante os séculos 18 e 19, Hydra floresceu como um movimentado centro marítimo. Mas com a chegada do século 20, trazendo o transporte motorizado para o resto da Grécia, as ruas estreitas e íngremes da ilha, juntamente com o terreno rochoso, tornaram impraticável a circulação de carros.

E assim os residentes aderiram ao transporte equino, que poderia atravessar a paisagem acidentada com mais eficiência. Com o tempo, essa dependência dos cascos tornou-se enraizada na cultura e no modo de vida de Hydra.

Burros e mulas tornaram-se parte integrante da identidade da ilha e eram utilizados para transportar mercadorias, materiais de construção e até pessoas pela ilha, uma tradição que persiste até hoje. “Todo mundo por aqui vive montado neles”, diz Jarman. “Eles são nossos carros e mãos, transportando tudo, desde materiais de construção e móveis até bagagens e compras”.

Um paraíso artístico

A designer de joias e nativa de Hydra, Elena Votsi, se inspira nas belezas naturais da região / Nikolaos-Panagiotis Kiafas

A ausência de carros contribuiu para a inegável tranquilidade da ilha, atraindo artistas de todo o mundo, incluindo a renomada atriz italiana Sofia Loren, que se apaixonou por Hydra durante as filmagens de “Boy on a Dolphin” em 1957.

“Hyrda oferece cores maravilhosas, luz linda e uma atmosfera única que inspirou muitas pessoas”, diz a designer de joias e nativa de Hydra, Elena Votsi.

Conhecida pelo seu trabalho que combina o artesanato tradicional com a estética moderna, Votsi inspira-se na sua herança grega, bem como na natureza e na geometria.

Embora tenha nascido em Atenas, Votsi diz que passava os verões e as férias em Hydra, visitando o pai. Ela diz que a ausência de carros faz deste um lugar mágico para trabalhar e tem inspirado seus designs desde o início de sua carreira.

“O sol, as pedras e os padrões das ondas me inspiraram. A beleza natural e a singularidade da ilha tiveram uma influência significativa no meu processo criativo”, disse Votsi.

Em 2003, ela foi convidada a participar de um concurso para redesenhar a medalha dos Jogos Olímpicos de Verão para o Comitê Olímpico Internacional. Ao receber o convite para competir, Votsi dirigiu-se para sua casa em Hydra.

A ilha, com seu encanto inefável, desempenhou o papel de musa, instigando uma jornada criativa que levaria Votsi a vencer o concurso e a deixar seu nome registrado em um eventos esportivos mais celebrados do mundo.

Muitos artistas famosos visitaram ou viveram em Hydra. O encanto magnético da ilha atraiu os pintores Brice Marden, Alexis Veroucas, Panagiotis Tetsis, Nikos Hadjikyriakos-Ghikas e John Craxton, bem como o autor Henry Miller, para as suas costas, cada um encontrando inspiração em meio às suas paisagens tranquilas.

O cantor e compositor canadense Leonard Cohen descobriu Hydra na década de 1960 e fez dela sua casa por vários anos. Seu tempo em Hydra é imortalizado em sua música “Bird on the Wire”, que ele escreveu parcialmente enquanto morava lá.

“A Hydra é um paraíso. É um lugar mágico para trabalhar e uma bênção poder vir aqui como artista, como tantos outros fizeram antes de mim e continuarão a fazer”, disse Votsi.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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