Bairro da Liberdade esconde sabores além da cozinha japonesa

Ao contrário do que se pensa, a região em São Paulo possui restaurantes que levam à mesa sabores variados, todos marcados pela culinária de imigrantes

Giuliana Nogueiracolaboração para o Viagem & Gastronomia , São Paulo

Conhecida como símbolo da imigração japonesa em São Paulo, a Liberdade é muito mais múltipla do que se pode imaginar à primeira vista.

A região atrai uma variada profusão de etnias em busca de oportunidades e novos restaurantes não param de pipocar pelo bairro, alguns difíceis de decifrar o menu ou que nos deixam em dúvida se vale a pena entrar.

Logo, é preciso espírito desbravador para atravessar algumas portinhas escondidas.

Vale lembrar que não estou falando aqui de chefs ocidentais que reproduzem pratos orientais com perfeição e anos de estudo e técnica.

O que se vê na maioria desses lugares são pessoas que deixaram seus países em busca de uma vida melhor e encontraram na própria cultura uma forma de sustento.

Portanto, nem sempre é uma cozinha fácil de entender para o nosso paladar, que é educado por temperos e texturas ocidentais. Mas essa cozinha de imigrantes é rica em sabores e aromas, no aproveitamento de ingredientes e, acima de tudo, nas heranças culturais.

De restaurantes chineses a indianos, a seguir, dou uma pequena amostra do que é possível encontrar pelo bairro da Liberdade, onde podemos explorar o que nem sempre aparece nos guias.

Figueirinha Restaurante

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O restaurante chinês de cozinha cantonesa mudou este ano do saguão do Fresh Hotel para o espaço na rua da Glória e segue basicamente frequentado por chineses.

O serviço começa às 9h e vai direto até às 22h com o mesmo menu, embora à noite também disponha de um buffet montado, o qual para se aventurar seria preciso um pouco mais de conhecimento sobre os ingredientes disponíveis.

As panelinhas aromáticas fumegantes sob as mesas são tentadoras, mas o cardápio à la carte já traz opções suficientes para quem está engatinhando no assunto. Entre as pedidas imperdíveis destaco um din sun de camarão e um de camarão e porco – leve e intensamente saboroso.

Já a sopa de ovo milenar é o que chamam de reconfortante. Com um sabor que lembra uma canja caseira, o caldo glutino envolve os pedacinhos de ovos. E, por falar em glutinoso, as “massas” de arroz, de textura elástica, são opções interessantes para sair dos tradicionais yakisobas e bifuns, que também estão no cardápio.

O bao, pãozinho chinês fofinho feito no vapor, é outra boa pedida. E não tem erro: o clássico rolinho primavera cai bem para quem tiver medo de arriscar. Para acompanhar, ao melhor estilo oriental, vale o chá de jasmim.

Rua da Glória, 158, Liberdade, São Paulo – SP (no prédio do 7º Tabelionato de São Paulo) / Tel.: (11) 91231-2399 / Horário de funcionamento: terça-feira das 16h30 às 22h; quarta a segunda-feira das 8h45 às 22h.

Butamão

Buta-man é um bolinho chinês macio recheado de carne de porco e cozido no vapor / Giuliana Nogueira

O Butamão fica escondido na galeria da rua Barão de Iguape, o Liba’s Food Court. Buta-man é um bolinho chinês, fofinho e macio, recheado de carne de porco e cozido no vapor. No Japão, ele é vendido em lojas de conveniência; no Brasil, esse lugar é ocupado pela coxinha e pelo pão de batata.

Aliás, para se adequar ao paladar brasileiro, Yoshiaki Fujiwara, chef do Yakitori Cocoro, que fica logo na entrada da galeria, criou o buta-man de queijo – mas aposte mesmo no tradicional de porco que não tem erro.

Ao vapor, também é possível pedir o shumai de porco ou camarão, uma massa de arroz fininha para lembrar que nem só de frituras vive a cozinha de rua oriental.

Rua Barão de Iguape, 158/164, Liberdade, São Paulo – SP / Tel.: (11) 99694-1626 / Todos os dias a partir das 11h30. 

Shindo Lámen

Lamen vegano do Shindo Lámen / Giuliana Nogueira

Tem dinheiro no bolso e um pouco de disposição para chegar cedo e pegar sua senha? No fundo da mesma galeria do Butamão está um dos mais peculiares cozinheiros do pedaço.

Em uma minúscula cozinha improvisada, com poucos lugares no balcão e dono de um vocabulário português bem enxuto, Michihiko Shindo prepara três ou quatro vezes na semana cerca de 35 porções de lámen.

São dois sabores por dia, sendo sempre uma das opções vegana. E quer saber? Vá no vegano. Não que a outra opção não seja boa, mas é impressionante a explosão de sabores que ele atinge sem o uso de carne e a gordura animal tão características dos lámens.

O mais intrigante é que ele usa frequentemente um ingrediente tipicamente brasileiro neste prato: o tucupi. Digo que o Shindo não é uma refeição, é uma experiência.

Rua Barão de Iguape, 158/164, Liberdade, São Paulo – SP / Tel.: (11) 96191-1566 / Horários e pratos anunciados pelo Instagram.

Curry’s Culinária Indiana

Curry’s Culinária Indiana apresenta sabores intensos, mas com pimenta adaptada ao paladar dos paulistanos / Giuliana Nogueira

No pedaço mais habitado pelos restaurantes japoneses da Liberdade há um estranho no ninho. Foi ali na Thomaz Gonzaga que Kanchana Kanojia abriu seu restaurante especializado em culinária indiana, mais precisamente thali, uma comida trivial que talvez pudesse ser chamada de “PF” por um brasileiro em Nova Delhi.

De sabores intensos, mas com a pimenta adaptada ao paladar dos paulistanos, os curries vêm cercados de outros sabores deliciosos e aromáticos, como o arroz Basmathi cozido na manteiga ghee e cominho, e a samosa (R$ 16), o pastel indiano recheado com batata, ervilhas e especiarias.

O pão naan (R$ 8) quentinho preparado na hora é acompanhamento perfeito para ir envolvendo o curry de cordeiro ou o untuoso kofta de legumes, bolinhos cozidos ao curry de tomate, castanha-de-caju e frutas secas com especiarias – uma das várias opções vegetarianas do menu.

Rua Thomaz Gonzaga, 45C, Liberdade, São Paulo – SP / Tel.: (11) 3132-0111; (11) 98543-7705 / Horário de funcionamento: terça a quinta-feira e domingo das 11h às 21h; sexta e sábado das 11h às 22h; pausa das 16h às 18h nos dias de atendimento.

Thai Chef

Som Tam do Thai Chef, típica salada tailandesa de mamão verde / Giuliana Nogueira

Outro estranho no ninho da rua Thomaz Gonzaga é o Thai Chef. A cozinha tailandesa aqui vem à mesa bem servida, sempre aromática e com contraste de acidez, dulçor, picância e umami.

Receitas clássicas preparadas pela chef são uma verdadeira festa para as papilas gustativas, como a Som Tam (a partir de R$ 30 a normal e R$ 54 com camarão), famosa salada tailandesa de mamão-papaia em tiras com amendoim torrado, tomates, cenouras, vagem, molho de peixe e limão, que misturam sabores cítricos e levemente adocicados.

A intensidade da pimenta pode vir à escolha do freguês; os tailandeses gostam dela acentuada.

Outra opção clássica é o Tom Yum (a partir de R$ 35), uma sopa aromatizada cozida com camarão e que vem com galangal, um leve toque de folha de limão-kaffir, ervas, pimenta fresca, capim-limão e shimeji, também disponível na versão frango.

Rua Thomaz Gonzaga, 45D, Liberdade, São Paulo – SP / Tel.: (11) 95999-4884 (WhatsApp) / Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira das 11h30 às 15h30 e das 18h30 às 21h30; sábado das 11h30 às 16h e das 18h30 às 21h30 e domingo das 11h30 às 17h30; fechado às segundas.

Sobre Giuliana Nogueira

Giuliana Nogueira / Acervo pessoal

Além de dividir seu tempo entre os vinhos uruguaios e a fotografia de gastronomia, Giuliana Nogueira também peregrina pela cidade atrás de experiências gastronômicas carregadas de boas histórias. Não é enóloga nem sommelierè, mas é enófila, em que mantém o Instragram @Instatannat, falando mais de vinhos uruguaios que os próprios uruguaios.


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