Primeiro hotel espacial tem inauguração prevista para 2027
A Voyager Station, projetada pela empresa californiana Gateway Foundation, promete levar seus primeiros hóspedes à órbita da Terra em 6 anos; viagem pode custar cerca de US$ 250 mil por pessoa
Por Francesca Street
Nestes meses de pandemia, quantas vezes você já se pegou sonhando com a sua próxima viagem? Que tal se ela for rumo ao espaço?
Em 2019, a empresa californiana Gateway Foundation comunicou planos de lançar um hotel, em estilo cruzeiro, que poderia, um dia, flutuar acima da atmosfera da Terra. Chamada de Estação Von Braun, esse projeto futurista estava programado para operar em 2027.
Pouco tempo depois, o hotel ganhou um novo nome, Voyager Station, e será construído pela Orbital Assembly Corporation, nova empresa de construção dirigida pelo ex-piloto John Blincow, que também dirige a Gateway Foundation. Em uma entrevista à CNN, Blincow explicou que houve alguns atrasos relacionados à Covid, mas a construção do hotel espacial está prevista para começar em 2026, e uma estadia no espaço pode ser uma realidade em 2027. “Estamos tentando fazer com que o público perceba que a era de ouro das viagens espaciais está chegando. E chegando rápido”, disse Blincow.
Um hotel como nenhum outro
As propostas de como o hotel deve ser sugerem um interior não muito diferente de um hotel de luxo na Terra, o que parece mudar é a vista mais do que especial do universo, e da Terra.
Quando os projetos iniciais foram lançados, há alguns anos, Tim Alatorre, arquiteto sênior da Orbital Assembly Corporation disse à CNN que a estética do hotel foi uma resposta direta ao filme de Stanley Kubrick “2001: Uma Odisséia no Espaço”, que ele chamou de “quase um projeto de como não fazer. ”
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“Acho que o objetivo de Kubrick era destacar a divisão entre tecnologia e humanidade e, assim, propositalmente, ele tornou as estações e os navios muito estéreis, limpos e de outro mundo.” Em vez disso, Alatorre e sua equipe querem trazer um pedaço da terra para o espaço por meio de suítes aconchegantes, bares e restaurantes chiques. Os hóspedes estarão no espaço, mas poderão desfrutar de camas e chuveiros normais.
Mas isso não quer dizer que o hotel vai ignorar o contexto espacial. Há planos de servir o que se pode chamar de “comida espacial”, como sorvetes liofilizados, que passam por um processo de desidratação e congelamento a vácuo que mantém um produto perecível passível de ser consumido durante décadas.
Além disso, haverá oferta de atividades recreativas “que você seria incapaz de ter na Terra”, de acordo com Alatorre. “Por causa da leveza e da gravidade reduzida, você será capaz de pular mais alto, erguer coisas muito pesadas, além de correr de um jeito que você não conseguiria na Terra.”
Mas, como funcionaria, exatamente, a física de um hotel espacial?
Alatorre conta que a roda giratória funcionaria para criar uma gravidade simulada. “A estação gira, empurrando seu interior para dentro do perímetro da estação, da mesma forma que você pode girar um balde de água – a água é empurrada para dentro do balde e o seu conteúdo permanece no lugar”, disse ele. Perto do centro da estação não há gravidade artificial, Alatorre explicou, mas conforme você desce do lado de fora da estação, a sensação de gravidade aumenta.
O nome original do hotel foi escolhido porque o seu conceito foi inspirado nos desenhos sexagenários de Wernher von Braun, um engenheiro aeroespacial pioneiro na tecnologia de foguetes, que atuou primeiro na Alemanha e depois nos Estados Unidos. Enquanto vivia na Alemanha, von Braun estava envolvido no programa de desenvolvimento de foguetes nazistas. Portanto, nomear o hotel espacial em sua homenagem foi uma escolha controversa.
Em parte, foi por isso que o nome foi mudado, disse Blincow à CNN. “A estação não é realmente sobre ele. É baseada em seu design e gostamos de suas contribuições para a ciência e o espaço”, disse Blincow. “Mas você sabe, a Voyager Station é muito mais do que isso. É o futuro. E queremos um nome que não venha com esses passivos.”
O turismo espacial está se tornando um tema cada vez mais quente, e existem várias empresas tentando fazer isso acontecer – da Virgin Galactic à SpaceX, de Elon Musk. O sistema StarShip da SpaceX pode ajudar a tirar a Voyager Station do solo.
“Não podemos chamar a SpaceX de nossa parceira, mas estamos ansiosos para, no futuro, trabalhar com eles”, disse Blincow em um recente evento ao vivo para promover a Orbital Assembly. Por enquanto, não se sabe ainda qual o valor da estadia no hotel espacial, mas é de se esperar que seja bem caro.
A Virgin Galactic, por exemplo, planeja lançar passageiros no espaço por US$ 250 mil por pessoa, por viagem.
“Cultura espacial”
Embora a Voyager Station seja talvez o projeto mais chamativo da Orbital, ela é, na verdade, apenas uma parte de suas ambições espaciais. A equipe também espera construir estações de pesquisa e estimular o turismo espacial e as oportunidades de comércio.
“Nós estamos projetando as ferramentas e máquinas que podem construir essas estruturas muito rapidamente”, disse Blincow à CNN. A equipe empenhada no projeto espera que o governo e empresas privadas possam usar seus módulos para treinar equipes “para ir a Marte, à Lua ou além”, como Alatorre disse durante o evento ao vivo de 2021.
O próximo estágio para fazer a Voyager Station decolar é trazer mais investidores para o projeto e continuar com os testes na Terra. O objetivo final, como disse Alatorre em 2019, é “criar uma cultura espacial onde as pessoas vão para o espaço, vivem no espaço, trabalham no espaço e querem estar no espaço. E acreditamos que já exista demanda.”
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).