Artur Tavares
Com passagens pela Rolling Stone Brasil, MTV e o programa CQC, da TV Bandeirantes, Artur Tavares hoje é editor das revistas Carbono Uomo e Corriere Fasano. Não é bem um especialista em bebidas, mas é ótimo de copo.
Por Artur Tavares
O mercado brasileiro de bebidas ganhou um novo representante de peso neste último trimestre de 2019. Funcionando oficialmente desde setembro, após sete anos de testes em segredo, a destilaria San Basile inaugura um novo capítulo na produção de alcoólicos por aqui lançando uma linha de 16 produtos inovadores, que incluem versões de clássicos como o licor de alcachofra, o bitter vemelho, o amaro e o spiced rum, até resgates de tradições antigas e praticamente desconhecidas, como o moonshine, o licor alkermes e o absinto branco. Por trás da empreitada está o empresário Renato Chiappetta, herdeiro da tradicionalíssima loja Empório Chiappetta, que funciona desde 1933 no Mercado Municipal de São Paulo.
Bisneto de Carlo Chiappetta, imigrante da região italiana da Calábria, neto de Carmine e filho de Alfredo Chiappetta, Renato passou a infância fascinado pelas garrafas dos licores que sua família comercializava no Empório, produtos que ficaram esquecidos por muito tempo e hoje voltaram para os balcões de bares com a nova onda da coquetelaria no país. Apaixonado pelo tema, buscou inspiração na cidade que batiza sua destilaria: “San Basile ainda mantém alguns aspectos milenares da cultura Bizantina, que estão muito ligadas ao aprimoramento das técnicas de destilação na Europa. Durante o milênio que existiu, o Império Bizantino marcou uma época de muita troca de informações sobre botânicos, técnicas de destilação, ervas medicinais, remédios, alquimia e elixires entre o Ocidente e o Oriente”, ele conta.
Após a pesquisa inicial sobre técnicas, Chiappetta se debruçou por anos em descobrir receitas ancestrais e segredos guardados a sete chaves para produzir seus próprios destilados. O principal exemplo é seu Bitter Vermelho, uma fórmula tão difícil de se alcançar que ficou mundialmente conhecida por seu maior produtor, a Campari. A versão da San Basile é, ao mesmo tempo, mais adocicada e mais amarga, resultado de um envelhecimento em carvalho francês.
As releituras de bebidas até então consideras únicas não param por aí. A destilaria tem o Artichoke, um licor de alcachofras cujo maior sinônimo é o Cynar, e os licores de ervas Abadia e Bizantino, versões nacionais dos caríssimos franceses Chartreuse: “Temos em nosso DNA o resgate dos métodos ancestrais. Chartreuse é feito por monges da Grande Chartreuse, convento localizado perto de Grenoble, desde 1605. Fui até lá, não descobri as receitas exatas, mas vi de perto as etapas de preparo, e procurei reproduzir da maneira mais fiel possível”, diz Renato. Tão ancestral é o seu Alkermes, um licor de ervas, também de tom avermelhado, cuja fórmula data de 1743, e tem suas origens em frades dominicanos italianos.
Outros dois destaques são completamente inéditos no Brasil. Seu moonshine, o White Dog, é o primeiro uísque unaged registrado no Brasil. Trata-se de um produto puro malte, uma pancada no paladar. Já seu Licor de Lúpulo é feito totalmente com a planta fresca, um insumo complicadíssimo de se obter em um país que produz quantidades imensas de cerveja com lúpulo desidratado anualmente.
Mas o maior mérito da San Basile é produzir seus 16 produtos de maneira 100% natural. O Bizantino, por exemplo, ganha sua cor amarela por ter pistilos de açafrão em sua composição. Trata-se da especiaria mais cara do planeta, cujo quilo chega a custar 20 mil dólares: “Procuramos fazer tudo da melhor maneira possível, da mais trabalhosa. Um dos meus gins tem 22 botânicos, enquanto no meu Abadia vão 40 ervas. O spiced rum tem botânicos tropicais, como cacau, café, cumaru.”
E mesmo com um portfólio de tamanho invejável, Renato Chiappetta diz que quer estabilizar a linha da San Basile em cerca de 48 produtos, a serem lançados de maneira lenta nos próximos anos: “Lá atrás, nossa pesquisa se iniciou com os vermutes, que ainda não lançamos. Queremos também colocar no mercado alguns outros licores desconhecidos e vinhos quinados.” As novas experiências, porém, só devem chegar ao mercado em 2020.
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Artur Tavares
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