Da serra ao Vale do Café: interior do RJ é espetáculo natural repleto de história

Interior do Rio recebe viajantes em meio a um cenário exuberante, onde cachoeiras e trilhas andam junto da calmaria, da gastronomia afetiva e de hospedagens que são um convite a pausas

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

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As praias do Rio de Janeiro justificam a fama que o estado ganhou mundo afora, mas o interior não fica para trás. Esta parte do Rio nos entrega muita história, incluindo um passado imperial bem preservado, assim como gastronomia cheia de alma e uma tranquilidade sem igual, que nos convida a uma pausa necessária.

Este é o cenário que encontrei durante as gravações do CNN Viagem & Gastronomia pelo estado do Rio de Janeiro, em que, após alguns dias, troquei a praia pelo campo para abraçar a diversidade deste incrível território.

Depois de um giro pelo litoral fluminense, com toda a sua bossa à beira-mar, subi ao interior para dar cabo ao segundo episódio da temporada especial. Foram três as regiões escolhidas para mostrar a riqueza destas bandas: a Serra Fluminense, o Vale do Café e a Serra da Mantiqueira.

Vale lembrar que, entre os dias 18 e 19 de novembro, a Cidade Maravilhosa sedia a cúpula do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, ocasião que servirá como uma vitrine para que autoridades vejam e conheçam mais a nossa terra.

Como viajante profissional, este também é meu objetivo: fazer com que você descubra ainda mais as maravilhas do nosso Brasil. Para isso, o estado do Rio de Janeiro é um bom começo.

Serra Fluminense: história e natureza

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Minha expedição pelo interior do Rio se iniciou em Petrópolis, a apenas 65 km da capital. Conhecida como o antigo refúgio da família imperial brasileira, a localidade honra o título de “Cidade Imperial” ao guardar uma atmosfera preservada por meio de casarões, museus, centro histórico e ruas arborizadas.

Em resumo, é uma cidade que mistura cultura, natureza e tradição como nenhuma outra, onde atrações culturais e a hospitalidade no meio da montanha se cruzam. Entre os pontos turísticos, destaco o Museu Imperial, cujo corpo rosa e arquitetura neoclássica viraram um cartão-postal.

O acervo é dedicado à memória da monarquia brasileira e um dos objetos mais impactantes é a coroa do D. Pedro II, confeccionada em ouro cinzelado, contando com 639 brilhantes, 77 pérolas e pesando quase 2 kg. É literalmente uma atração à parte.

Também em Petrópolis fica a Casa de Santos Dumont, que serviu de residência de verão para o pai da aviação. Ela fica em uma localização íngreme no centro, onde encontramos livros, cartas e objetos do aviador. Centenária, a casinha é toda pautada pela racionalidade: os degraus das escadas são recortados para facilitar os movimentos e o chuveiro era a álcool. É para lá de interessante.

No âmbito da natureza, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos é o lugar ideal para amantes de ecoturismo e para cenários pitorescos. Cachoeiras, poços, picos, vegetação espetacular e mais de 100 trilhas nos enchem de adrenalina ao mesmo tempo que acalmam a mente. Fundado em 1939, o parque tem mais de 20 mil hectares e recebeu mais de 200 mil visitantes no ano passado, sendo o 10º mais visitado do Brasil.

A entrada é feita em três cidades: Petrópolis, Teresópolis e Guapimirim. Em Petrópolis, perto da portaria, me refresquei nas águas do Poço Paraíso, um dos mais famosos, de água gelada e revigorante. Quem entra nessas águas sai novinho em folha.

Após algumas emoções, nada melhor que tomar uma cerveja, quesito que Petrópolis cumpre bem. A cidade é a Capital Estadual da Cerveja e o Berço Imperial da Cerveja, títulos que reconhecem a importância histórica do município na produção cervejeira. Vale a parada na Cervejaria Odin, no distrito de Itaipava, que serve cervejas artesanais caprichadas. Se estiver em dúvida, peça a Session IPA, cheia de personalidade.

Na seara da gastronomia, a joia da região fica por conta do Angá Atelier Culinário, onde experimentamos uma verdadeira jornada sensorial gastronômica pelas mãos da chef Lydia Gonzalez.

A casa, aberta de sexta a domingo mediante reservas, nos convida a valorizar ingredientes da região pautados por uma bela cozinha brasileira. Borbulhante de carambola, queijo de ovelha curado e docinho de mamão, berinjela no missô com leite de castanha, cacau e mel de jupará, e cordeiro (derretendo!) com favas são algumas das maravilhas do cardápio. É como a Serra: revigorante e surpreendente.

[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”139386″ title_galeria=”Casa Marambaia, hotel boutique na Serra Fluminense”/]

Seguindo essa linha, a Casa Marambaia foi a minha base durante em Petrópolis. O hotel boutique surpreende nos detalhes: rodeado pela Serra dos Órgãos, ele aposta na boa gastronomia e promove momentos de bem-estar acompanhados de muito aconchego. A casa já foi uma residência privada e hoje, para nossa sorte, nos recebe em oito suítes no casarão principal e em quatro villas embrenhadas na mata.

O clima de refúgio é ideal para casais, famílias e grupos de amigos, ainda mais quando a escapada da cidade grande se torna essencial. Após atividades ligadas ao bem-estar, como ioga, spa, trilhas ou até mesmo um simples mergulho na piscina, nada melhor do que ficar ao lado da lareira externa com vinhos em mãos e observando as estrelas. A magia da Serra aparece nestes momentos.

Vale do Café: tradição e afetividade

[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”140446″ title_galeria=”Fazenda São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras (RJ)”/]

Imagine uma região repleta de hotéis fazenda e gastronomia de interior, que nos trazem um gostinho de nostalgia e acolhimento. Assim é o Vale do Café, região turística do interior do Rio composta por 15 municípios que carregam a memória dos tempos áureos do café, produto responsável pela ascensão econômica do Brasil no século 19.

Em Vassouras, a 117 km do Rio de Janeiro, a Fazenda São Luiz da Boa Sorte nos entrega tudo isso de bandeja, sendo um hotel fazenda com um apelo histórico rodeado de cenários pitorescos. Andar pelos corredores é observar o ciclo do café contado por meio de objetos preservados, inclusive nas 31 suítes.

Elas são divididas em suítes históricas, coloniais e especiais. Independentemente da categoria, todas carregam uma alma acolhedora, com decoração de época requintada que nos leva a uma viagem no tempo. Piscina aquecida, prainha de água doce, trilhas, passeios a cavalo, café da manhã com gostinho do campo e noites regadas a queijos, vinhos e produtinhos locais traduzem bem a experiência do Vale do Café.

A fazenda ainda recupera a história da região por meio do Museu do Café, inteiramente dedicado ao grão e com objetivo de recontar como era a vida das pessoas escravizadas que lidavam com as fazendas de café. Contar esta história é importante para nos mostrar como chegamos até aqui, mas também para nos lembrar que certas coisas só devem ficar no passado. O local recebe visitas guiadas de hóspedes e não hóspedes.

Voltando aos tesouros da região, os queijos também têm feito parte da história do Vale do Café. Não muito longe da Fazenda São Luiz da Boa Sorte está Valença, município que é lar da Capril do Lago, que produz queijos de leite de cabra entre os melhores do mundo.

No ano passado, o queijo Caprinus do Lago foi um dos finalistas ao título de Melhor Queijo do Mundo na competição francesa Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, uma das mais importantes do setor. A honraria ficou com um exemplar francês, mas nosso representante angariou a medalha de ouro.

De quarta a domingo, o produtor Fabrício Vieira abre as portas da fazenda para visitas, uma oportunidade para vermos de perto a produção dos queijos e de entendermos melhor o processo. Degustações e lojinha nos entregam o melhor do turismo rural e, de quebra, podemos experimentar os queijos artesanais premiados, como o Sapucaia e o Caprinus do Lago. É um deleite!

Serra da Mantiqueira: sossego e romantismo

[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”140447″ title_galeria=”Visconde de Mauá (RJ)”/]

Por fim, minha expedição pelo interior terminou de um jeito sossegado e repleto de romantismo em meio à Serra da Mantiqueira, já pertinho da fronteira com Minas Gerais. Lar de várias pousadas e vilarejos, minha escolha foi aproveitar os dias em Visconde de Mauá, pertencente ao município de Resende, marcada por um clima ameno ao longo do ano.

O destino é rico em belezas naturais, com rios e cachoeiras cortando a serra, em que a palavra refúgio se encaixa perfeitamente na experiência. A região oferece uma centena de hospedagens, como pousadas, chalés, cabanas e camping, mas uma das mais especiais é a Pousada Mauá Brasil, cercada por muito verde e privacidade.

Os 15 chalés são bastante românticos e nos passam a sensação de estarmos em nossa casinha na montanha. Araucárias, manacás, ipês e árvores frutíferas compõem o jardim na encosta, melhor aproveitada no ofurô enquanto apreciamos o pôr do sol, momento único e relaxante. Ao cair da noite, apreciar um fondue ao lado da lareira é programa quase obrigatório.

Uma das opções mais exuberantes em termos de ecoturismo da região é o Parque Nacional do Itatiaia, parque nacional mais antigo do Brasil, criado em 1937, que abriga uma rica biodiversidade e paisagens que vão de florestas densas a montanhas imponentes. Um dos pontos mais famosos é a Cachoeira do Escorrega, famosa por sua pedra lisa e inclinada, desaguando em um poço natural. Também há a Cachoeira dos Macacos, a poucos metros acima.

Minha dica é dar preferência a baixa temporada, época em que o parque está mais tranquilo e quando a calmaria toma conta do roteiro.

A experiência fica mais completa com a gastronomia do Gosto com Gosto, restaurante em Visconde de Mauá que há 30 anos serve uma cozinha de identidade mineira repleta de alma. A chef Mônica Rangel lidera o espaço, em que tutu de feijão, linguiças caseiras, couve, torresmo e caipirinha formam a pedida perfeita. É como um abraço em forma de comida.

O lugar é uma graça e ainda disponibiliza uma lojinha com produtos artesanais. É quase impossível não levar nada para casa e ficar com um gostinho de quero mais.

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