Movimento “mindful drinking” ganha adeptos e os mocktails brilham em cardápios de SP

Pesquisas apontam a diminuição do consumo de álcool, movimento que já tem até nome próprio. Mercado aproveita a oportunidade e menus de bares e restaurantes acompanham a tendência

Tina Binido Viagem & Gastronomia , São Paulo, SP

Muitos ainda torcem o nariz. Mas, depois do boom no consumo etílico impulsionado pela pandemia, ao que tudo indica as bebidas sem álcool são as novas vedetes. Isso é o que constata um estudo global da IWSR, consultoria que produz dados e análises sobre o mercado de bebidas, que mostra que itens sem álcool ou com baixo teor alcoólico aumentarão 31% em volume até 2024.

O mesmo foi apontado pelo Pinterest Preditcts, relatório anual de tendências de consumo e moda, divulgado pelo Pinterest no início de 2023. As buscas na plataforma por termos relacionados a drinques sem álcool aumentaram consideravelmente, sendo elas: bebidas sem álcool sofisticadas (+220%); bar de mocktails (+75%); ideias criativas para decorar coquetéis (+225%); cubos de gelo diferentes (+75%); e apresentação criativa para drinque (+555%).

Esse movimento tem até nome: mindful drinking. Uma comunidade que cresce a cada dia e busca ter uma relação mais saudável com o álcool, de pensar enquanto bebe e maximizar o prazer do momento ao mesmo tempo que busca minimizar os efeitos colaterais negativos, como ressacas, arrependimentos e ansiedade. É um público que deseja participar dos rituais sociais em que drinques acabam associados, mas com equilíbrio.

E não são apenas os bares que servem mocktails (como são chamados os drinques sem álcool) que surfam nessa onda. Algumas empresas entraram nesse mercado de cabeça, como a gigante Pernod Ricard, conhecida por marcas como Absolut Vodca, Ballantines e Beefeater, entre outras. É dela uma bebida destilada que contém zero álcool: a Ceder’s, feita com extrato de aroma de quinze botânicos e que tem uma leve semelhança com gin e que já é vendida em 15 países em três continentes.

O mesmo caminho seguiu a Diageo, que lançou a cerveja Guinness sem álcool e o gin Tanqueray, também em uma versão zero.

“Essa tendência tem vários fatores. O primeiro é que no pós-pandemia a procura por saudabilidade aumentou. Segundo, porque as gerações mais novas estão bebendo menos. O jovem da década de 80 e 90 era o que bebia muito até tarde e no dia seguinte ia estudar de ressaca. Hoje isso mudou completamente”, analisa o bartender Alê D’Agostino, que inclusive lançou recentemente vídeos sobre drinques sem álcool na plataforma Let’s Creme – em que grandes chefs e bartenders dão receitas e ensinam preparos.

“Há pouco tempo, uma pesquisa londrina mostrou que 25% da população entre 18 e 24 anos já não consumia bebidas alcoólicas. E isso se reflete até no número de baladas, que tem diminuído: as pessoas agora preferem bebericar por mais tempo, enquanto conversam, do que entornar tudo o que é possível em apenas 2 ou 3 horas, como acontecia antes. E é aí que os coquetéis zero ou baixo álcool caem bem”, complementa o bartender Ricardo Barreiro, embaixador da Britvic no Brasil.

Thiago Bañares, à frente do Tan Tan, único brasileiro no ranking do The World’s 50 Best Bars, do Kotori e do The Liquor Store, todos em São Paulo, diz que a população mudou os hábitos de consumo de álcool e que sente isso nos balcões dos seus estabelecimentos.

“Os pedidos de coquetéis menos potentes aumentou, as pessoas querem prolongar a experiência fora de casa”. O chef enxerga esse movimento da indústria como uma resposta à demanda gerada pelo público “o mercado precisou se adaptar a essa mudança e agora oferece destilados sem álcool e, consequentemente, mais mocktails passaram a fazer parte das cartas de bares e restaurantes”.

Mocktail pode ser bem interessante sim!

Engana-se quem acha que um drinque sem álcool é mais simples de fazer. Ainda cumprindo o papel de acompanhar pratos e petiscos, um bom representante precisa ser complexo, ter nuances e, claro, parecer um drinque.

“Antigamente, opção sem álcool se resumia a uma caipirinha de frutas super doce e feita com água com gás. Com o amadurecimento que a coquetelaria vem experimentando nos últimos anos, os mocktails também precisaram acompanhar. Eles têm que ser complexos, menos doces, trazer amargor e serem montados em taças, com garnish e tudo mais a que um bom drinque tem direito”, explica D’Agostino.

Acompanhando essa tendência, o mercado de insumos também deu um belo salto. É o caso da Britvic, que, além de uma linha de xaropes aromatizados batizada de Taisseire, também participa do mercado com as águas tônicas e refrigerantes diferenciados que têm capacidade de dar complexidade aos coquetéis.

“Há pouco tempo não tínhamos tantos representantes de ginger beer ou tônicas de alta qualidade saborizadas. As marcas agora perceberam que esse é um caminho sem volta e começaram a investir em oferecer, para bares e restaurantes, ingredientes para a produção dessas bebidas”, completa Barreiro.

Tendência que se sente no dia a dia

O movimento positivo foi sentido no Giro, bar super badalado de Pinheiros, com mesas na varanda e menu lotado de petiscos. Por lá, a venda dos mocktails não para de crescer e bateu recorde no último mês (fevereiro), com 530 unidades vendidas versus 376 em novembro, um aumento de 41%.

No Chou, restaurante famoso pelo clima romântico também no bairro de Pinheiros, os coquetéis não alcóolicos ocupam parcela importante das vendas, com a média de um mocktail para cada três drinques alcoólicos.

No restaurante Modern Mamma Osteria, além de ver as vendas de drinques subirem, perceberam que essa escalada só foi possível pelo incremento dos coquetéis não alcoólicos. “Hoje eles representam 25% das bebidas que vendemos aqui. É uma revolução poder oferecer um drinque sem álcool para as pessoas harmonizarem com os pratos e ainda acompanharem quem está bebendo”, diz Paulo Barros, chef e sócio do restaurante italiano.

Samuel Rodrigues, restauranteur do Piccini Cucina, conta que muitos clientes começaram a dar preferência aos mocktails para iniciar a refeição ou passaram a intercalá-los com coquetéis tradicionais ao longo da refeição.

“Foi observando esse movimento, e notando que as pessoas esperavam algo mais complexo, que começamos a investir em opções não alcoólicas. Já estamos inclusive planejando a criação de uma carta mais substanciosa”, conclui.

“No fim de semana que lançamos apenas dois drinques sem álcool, um deles uma versão zero do Moscow Mule as vendas surpreenderam: quase 15% dos pedidos de bebidas eram de mocktails. Ele é leve, refrescante e, como quase tudo, harmoniza bem com as pizzas”, endossa Gustavo Brunello, sócio da pizzaria La Braciera.

Onde tomar bons drinques sem álcool em São Paulo 

Giro

Drinque Quero Quero do Giro / Laís Acsa

Uma das esquinas mais disputadas de Pinheiros fica no encontro da Rua Padre Garcia Velho com a Avenida Pedroso de Morais. É ali que está o Giro, um bar que nasceu para homenagear a boemia paulistana idealizado por um grupo de amigos que também está à frente de outros endereços na rua, como o City Lights e o Botanikafé.

No menu, os drinques sem álcool Virgin Trambique (R$ 18) com maracujá com mel e especiarias, limão e espuma de gengibre; Virgin Buen Rollo (R$ 18) com melaço de cana, limão, ginger ale e hortelã; Virgin Quero Quero com maracujá com rapadura, limão e manjericão (R$ 18) e o Mate do Giro (R$ 16) com chá mate, açúcar, limão, gengibre e alecrim fazem sucesso.

Giro: Rua Padre Garcia Velho, 26, Pinheiros / Telefone: (11) 98701-7810 (WhatsApp) / Funcionamento: segunda, das 12h às 15h; terça, das 12h às 15h e das 18h às 0h; quarta e quinta, das das 12h às 15h e das 18h às 1h; sexta, das 12h à 1h; sábado, das 13h à 1h; domingo, das 13h às 22h.

O Carrasco Bar

Carrasco / Divulgação

O bar escondido dentro do premiado Guilhotina tem duas versões que se destacam em drinques sem álcool, o Fix feito com fruta da época, solução ácida (feita com ácido cítrico e málico) e suco de abacaxi (R$ 37) e o Shirley Temple, com granedine – calda feita com suco de romã e especiarias, limão siciliano e ginger beer fermentado na casa por dois dias com levedura de champagne (R$ 37).
O Carrasco Bar: Rua Costa Carvalho, 84 – Pinheiros | Funcionamento: de terça a sábado, das 19h às 00h | Reservas por DM

The Liquor Store

Thiago Bañares é o nome à frente de estabelecimentos de sucesso na cidade, com o TanTan, Kotori e The Liquor Store, esse último aberto no final de 2022 com foco em drinques executados com perfeição ao lado do bartender Caio Carvalhaes.

No menu, pouquíssimos petiscos para acompanhar, a ideia no pequeno balcão intimista é curtir o after ou o pré-jantar. Uma bela opção sem álcool é o Piña Trolada feito com infusão de abacaxi, especiarias, xarope de celulose e limão taiti (R$ 24).

The Liquor Store: Al. Franca, 1151 (1º andar), Jardins / Funcionamento: terça a sábado, das 19h às 0h. Não abre aos domingos e segundas. Reservas via site.

SubAstor

Descendo um lance de escada no famoso Astor, você encontra escondido atrás de uma cortina de veludo, o SubAstor, o bar abaixo do bar. Charmosa e misteriosa, a casa oferece opções de coquetéis sem álcool como o virgin mojito (R$19) com limão taiti, hortelã, xarope simples e club soda, o rosé Gloire (R$25) feito de cordial de morango, suco de lima siciliano e Perrier e a sicilla tropicale (R$25) que leva shrub de uva verde, suco de maracujá, xarope de elderflower – extrato de flor de sabugueiro, que mistura notas florais e doçura em uma versão super concentrada – e água Perrier.

SubAstor: Rua Delfina, 163, Vila Madalena / Tel.: (11) 5555-2351/ Funcionamento: quarta a sexta-feira, das 17h30 às 00h; quinta- feira, das 17h30 às 1h; e sexta e sábado, das 18h às 2h. O SubAstor tem outra unidade, o Bar do Cofre no Centro Histórico de São Paulo.

Modern Mamma Osteria

O restaurante italiano queridinho da cidade tem bons drinques para quem não quer álcool: o Rossino, com purê de frutas vermelhas, xarope de amêndoas, limão siciliano e tônica (R$ 18); o Rosato feito com chá de hibisco, pêssego e limão taiti (R$ 18) e o Mescolato com ginger de hortelã, limão taiti e bitter aromático (R$ 18).

Modern Mamma Osteria: Rua Manuel Guedes, 160 – Itaim Bibi / Tel.: (11) 930838387 e Rua Ferreira de Araújo, 342 – Pinheiros / Funcionamento: segunda a sexta, das 12h às 15h e das 18h30 às 23h; sábado das 12h às 23h e domingo, das 12 às 21h. 

La Braciera

Refresh com caju, limão rosa e cordial de gengibre do La Braciera / Neuton Araujo

Na pizzaria napolitana dois drinques sem álcool figuram o menu e já são recorde de vendas: o Moscow Mule e o Refresh com caju, limão rosa e cordial de gengibre (R$ 29 cada).

La Braciera: Alameda Lorena, 1040 – Jardins e Rua Conselheiro Brotero, 1120 – Santa Cecilia / Tel.: (11) 94114-1120 | Rua Conselheiro Saraiva, 664 – Santana / Tel.: (11) 91108-2440 / Funcionamento: segunda a domingo, das 18h às 23h.

Susume

Drinque Lemoneido / Elvis Fernandes

No Susume, restaurante japonês do complexo Vila Anália, os clientes podem apreciar a decoração composta por mais de 10 mil bambus espalhados entre o teto e as paredes e a cozinha em forma de ilha, onde é possível acompanhar a preparação dos pratos. Três drinques cítricos sem álcool são os destaques:  Limonada Pinku (com o mix de xarope de hibisco e club soda), Lemoneido (hortelã e club soda) e a Limonada Gari (gengibre e club soda). Todos os coquetéis custam R$ 25.

Susume: Rua Cândido Lacerda, 33 – Jardim Anália Franco / Tel.: (11) 2673-5378 / Funcionamento: segunda e terça, das 12h às 15h30 e das 19h às 23h; quarta e quinta, das 12h às 15h30 e das 19h às 23h30; sexta, das 12h às 16h e das 19h à 00h; sábado, das 12h à 00h; e domingo, das 12h às 22h.

Watanabe

Com uma bela carta de uísques japoneses  e de saquês, o Watanabe Restaurante, que promove belíssimas experiências gastronômicas para amantes da gastronomia japonesa, também tem um bom bar de drinques comandado por Márcia Martins. Entre as opções sem álcool, o Sakurai Fizz é uma mistura de redução de framboesas no mel, com água com gás e coroada com espuma de gengibre (R$ 25).

Watanabe Restaurante: Rua Pedroso Alvarenga, 554 – Itaim / Tel. (11) 3167-6200 / Funcionamento: segunda a sábado, das 12h às 15h (almoço); das 19h às 23h (jantar às segundas-feiras) e das 19h às 0h (jantar de terça-feira a sábado). Não abre aos domingos.

Arturito

Drinque Cordial de gengibre do Arturito / Nani Rodrigues

Há 15 anos consolidado na rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, o Arturito, restaurante da argentina e midiática chef Paola Carosella, é pioneiro no que hoje é conhecido como “cozinha de produto”. A casa oferece pratos pautados na sazonalidade das verduras e das ervas frescas, priorizando os orgânicos, em uma cozinha onde a simplicidade e a honestidade são primordiais. Nos drinques, vale provar o Cordial de gengibre (R$18) com limão tahiti, laranja, açúcar mascavo, gengibre e água com gás.

Arturito: R. Artur de Azevedo, 542 – Pinheiros / Reservas via site / Funcionamento: terça a sexta, das 12h às 15h e das 19h às 23h; sábado, das 12h às 16h e das 19h às 23h; domingo, das 12h às 16h. Não abre às segundas-feiras.


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