Cresce a demanda por agências especializadas em despedidas de solteiros e setor já movimenta milhões por ano

Vale tudo para sair da mesmice! De itens personalizados a casa com serviço premium 24horas, noivos e amigos querem viajar sem se preocuparem com nada e, claro, com mimos e atrações especiais

Daniela Caravaggido Viagem & Gastronomia

As despedidas de solteiro (a) fazem parte da programação prévia de um casamento há décadas. Não se sabe ao certo em qual parte do mundo surgiu essa tradição, mas sem dúvidas tornou-se um dos momentos mais esperados pelos padrinhos e amigos dos noivos. Seja em uma festa ou em uma viagem super especial, a ocasião é utilizada para reunir pessoas queridas e trazer descontração antes de um dos passos mais importantes e sérios da vida do casal.

Entretanto, o que muita gente não imagina é o trabalho que dá organizar este momento. “Eu jurei que nunca mais estaria a frente de nenhuma despedida. Além da grande responsabilidade para tudo dar certo, você acaba se envolvendo em discussões pequenas e não aproveita a ocasião”, ressalta Maria Eduarda Santos Junqueira, que organizou a viagem de despedida de sua melhor amiga no Rio de Janeiro com mais 20 meninas e até hoje lembra do sufoco que foi.

Por envolver grupos diferentes, com gostos distintos – e que muitas vezes não se conhecem -, a simples decisão do destino já se torna um problema. Aluguel de casa, compras de mercado, objetos personalizados, limpeza da casa, programação e outros detalhes que muitas vezes ninguém imagina que existem tiram o sono de quem está à frente da organização e quer que tudo saia perfeito.

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As agências especializadas

Foi exatamente por esse “perrengue” na organização da viagem do primeiro amigo que se casou que Eduardo Vespa teve a ideia de fundar a Hangover, em julho de 2017, em São Paulo. A startup especializada em organização de despedida de solteiros começou com um investimento de apenas R$ 2.000 – suficientes para criação do CNPJ e site. O empresário, que trabalhava em um grande banco, decidiu que iria se dedicar integralmente ao projeto. Cinco dias após a abertura da empresa, o sinal que estava no caminho certo chegou: sua primeira cliente.

“Em uma pesquisa pela internet, a Patrícia, minha primeira cliente, chegou à Hangover. Ela queria reunir as amigas para um passeio de Limosine pelo principais pontos de São Paulo. Organizei tudo, com bebidas, petiscos, fotógrafo. Depois, uma mesa em um bar da cidade estava esperando por elas, que aproveitaram a noite toda”, conta Eduardo.

A empresa aos poucos foi crescendo. Hoje tem 6 funcionários fixos (além de temporários em diferentes cidades) e um faturamento de cerca de R$ 4.3 milhões por ano, com cerca de 400 despedidas organizadas. Lá, não existe um pacote pronto – a empresa recebe por comissão. Cada noivo pode personalizar o evento de acordo com seus gostos – 95% das despedidas hoje são em forma de viagem.

Os destinos mais procurados pelo público da agência são: Florianópolis, Rio de Janeiro e Goiânia, sendo 50% homens e 50% mulheres.

Há festas em barcos, festas em casa, shows badalados e até camarotes VIP`s em rodeios. No primeiro contato com o noivo(a) é feito uma entrevista para traçar o perfil deles e oferecer aquilo que se encaixa perfeitamente no estilo de cada um.

“A gente cuida de tudo, da logística, hospedagem e alimentação às experiências e entretenimento personalizados para cada grupo. Além de um cozinheiro e equipe de limpeza para manter a casa organizada, os participantes podem contar com o apoio de um host local para conferir se tudo está indo como desejado, e se é necessário abastecer a casa e manter as bebidas geladas”, ressalta o empresário.

Hangover tem 50% do público masculino entre os seus clientes; destino preferido deles é Jurerê Internacional, em Florianópolis / Divulgação

O mercado em expansão 

Outra empresa que ganhou destaque no mercado é a Game Over, de Belo Horizonte. Hermano Filho também decidiu criá-la após péssima experiência na organização da viagem de um de seus melhores amigos a Balneário Camboriú (SC) – destaca que houve problemas desde o planejamento até a cobrança financeira de todos os integrantes.

Resolveu apostar na ideia em 2018 entendendo a alta demanda e pouca oferta do segmento. Começou com um investimento baixo e foi expandindo aos poucos. Participou de feiras do segmento, teve seu trabalho espalhado através do tradicional “boca a boca” e expandiu seu escritório para São Paulo. Hoje conta com 14 funcionárias fixas, sendo todas mulheres – além de parceiros e fornecedores em todo o Brasil.

Em 2019, a empresa teve um boom e o sonho de ter sucesso em sua ideia já era realidade. Estava tudo indo muito bem, inúmeras cotações e viagens organizadas, até que em 2020, na pandemia, Hermano levou um balde de água fria, assim como muitos empreendedores. Entretanto, sua visão de negócios e DNA de ter tudo personalizado e exclusivo aos seus clientes fizeram com que ele tomasse uma atitude que garantiria o futuro da empresa.

“Eu tinha 28 despedidas para organizar quando foi decretado o lockdown – só naquela semana eram 10. No dia que isso foi anunciado, fiquei na cama das 7h às 10h recebendo muitas mensagens e pensando no que eu iria fazer. Tomei uma atitude inconsequente, sem consultar nenhum sócio meu à época: liguei para cada cliente pessoalmente e fiz um pedido para eles não cancelarem, mas sim reagendarem. Das 28, tive sucesso em 26. As outras duas devolvi o dinheiro prontamente. Fiquei 4 meses sem fechar nenhum contrato, mas persisti e as coisas foram melhorando”, ressalta.

Os detalhes e personalização

Pensar nos detalhes para que o cliente tenha segurança e conforto é uma das premissas da Game Over, que tem uma taxa fixa de 15% em cima de tudo o que é fechado na despedida. Sendo assim, o orçamento é feito de forma aberta e pode ser personalizado de acordo com a verba que o grupo tem para a viagem. A ideia é que ninguém tenha preocupação com absolutamente nada. Só ano passado, foram organizadas 115 despedidas, com um faturamento de mais de R$ 4 milhões.

“Desde o primeiro atendimento, fazemos uma pesquisa para ver o perfil do grupo, o que cada um gosta, quem tem restrição alimentar para fazermos um cardápio especial, quantos se conhecem e podem dividir o quarto, por exemplo, entre outros detalhes. Queremos que as pessoas só se preocupem com as suas malas e em aproveitar o momento”, ressalta Hermano.

Na Game Over, 56% despedidas são de mulheres e 44% são de homens –  enquanto eles acabam escolhendo as agências principalmente pela comodidade, elas ficam atentas as experiências e detalhes exclusivos no que é oferecido.

Há também aqueles noivos que preferem fazer em conjunto. É o caso da Thais e do Diego, que levaram 22 amigos para uma super casa em Maresias, litoral norte de São Paulo. “Buscamos uma empresa confiável que nos oferecesse praticidade e qualidade no atendimento. Foi muito legal dividir essa experiência com os padrinhos, além de ser um momento para eles se conhecerem antes do casamento. Ficamos três dias na praia e fizemos uma festa particular na casa”, conta Thais.

Thais e Diego fizeram suas despedidas de solteiro juntos, com 22 de amigos em Maresias, Litoral Norte / Arquivo pessoal

Já a administradora Bárbara Murta gostou tanto de sua despedida de solteira, organizada pela empresa em janeiro de 2020, que resolveu repetir a dose contratando a Game Over para sua “despedida de casada”, cerca de dois anos depois.

Apesar de soar como brincadeira, a verdade é que ela e o noivo resolveram fazer uma segunda viagem de despedida de solteiro, que aconteceria mais próxima à nova data do casamento, adiado por conta da pandemia, e não pensaram duas vezes em procurar novamente a agência. Entretanto, o relacionamento acabou não dando certo. Para não cancelarem as respectivas viagens, os amigos toparam curtir essa nova fase da vida do “ex-casal”.

“Eu já tinha tido uma experiência incrível da primeira que fiz, no Rio de Janeiro. Não nos preocupamos com nada e só curtirmos. Mas a segunda, em Búzios, conseguiu me surpreender ainda mais. Deixei na mão deles toda organização. Eles têm o cuidado de ir atrás de cada detalhe, cada prioridade e cada gosto da noiva. Entraram nas minhas redes sociais e pegaram referências que eu nem imaginava: desde a contratação das bandas, nos estilos musicais que eu gosto, até a decoração da festa. Foi um momento muito especial”, conta.

Bárbara Murta organizou sua ‘despedida de casada’ com a Game Over em Búzios, em outubro de 2021 / Arquivo pessoal

Grupo de amigas e suas despedidas temáticas

Se a Hangover e Game Over nasceram da experiência frustrada da organização da despedida de amigos, a B4 Marry foi fundada pela animação da advogada Tatiana Faro.

Ela, que sonhava com o universo de casamentos desde pequena, sempre achou que só um dia não seria suficiente para comemorar a data quando fosse sua vez. Noivado, chá de panela, chá bar, despedida de solteiro, jantar dos padrinhos, casamento no cartório, pré-wedding: celebrou tudo o que tinha direito quando casou e fundou a B4 para proporcionar essas diferentes experiências para os casais.

As despedidas de solteiras, entretanto, são o carro-chefe da empresa. Ela atende 80% mulheres por escolha própria e não pega muitos eventos para dar atenção merecida para cada contrato fechado. Apesar de hoje ter sua equipe, gosta de colocar a mão na massa e estar à frente de tudo.

“Gosto de dizer que não alugamos casa e nem vendemos bebida, mas sim oferecemos uma experiência completa, pensada nos mínimos detalhes para aquele grupo. Temos um padrão de qualidade das casas que hospedamos nossos clientes, fazemos todas as compras pensando no perfil de cada uma que vai e temos um concierge à disposição durante toda a viagem para que nada falte”, ressalta Tatiana, que já organizou despedidas em países como Espanha, Portugal e Colômbia.

E foi assim, buscando passar momentos inesquecíveis entre amigas, que um grupo de 11 médicas conheceu o trabalho da B4 e não abre mão do serviço.

Elas, que moravam juntas em uma república na época de faculdade, usam as despedidas como um símbolo da amizade, já que hoje cada uma mora em um canto do país. Sempre temáticas e sem margem para “falta”, o compromisso é que todas estejam presentes e curtam até o último minuto, sem desculpas.

Das cinco despedidas que já fizeram, as três últimas foram organizadas pela B4, com muitas surpresas. Uma delas foi em Florianópolis, em 2021. O tema foi “Flash Dance”, já que o sonho da noiva era usar a icônica roupa do filme. Não deu outra: as amigas, junto com a agência, organizaram tudo e até desfilaram pelas ruas da cidade vestidas a caráter, arrancando boas risadas de quem participava e de quem via a cena.

Grupo de amigas gosta de fazer despedidas ‘temáticas’. Em setembro de 2021, fizeram uma do filme ‘Flash Dance’, em Florianópolis / Arquivo pessoal

Já em março de 2022, o animado grupo resolveu fazer uma surpresa para a noiva da vez. Ela, que era fã da série “La Casa de Papel”, foi “sequestrada” por suas amigas e levada para uma viagem que não imaginava que aconteceria. As amigas fizeram sua mala e foram em direção ao aeroporto de Guarulhos – sem a noiva imaginar. Quando abriu os olhos, encontrou todas suas amigas vestidas com macacão vermelhos e máscaras – iguais à série – e teve uma grande surpresa com o destino.

“Fomos a Buenos Aires! Organizamos tudo direto com a Tati: compramos passagem, reservamos o lugar e a van, que levaria a gente até Guarulhos e ela deixou tudo certinho. A noiva achou que iríamos para Ubatuba, mas acabamos na Argentina. Chegamos lá e foi tudo perfeito”, ressalta Stephanie Phillips, uma das amigas do grupo.

Noiva fã da série La Casa de Papel teve despedida de solteira surpresa em Buenos Aires, com todas suas amigas fantasiadas / Arquivo pessoal

A última viagem que o grupo fez foi para Cartagena, na Colômbia, em setembro de 2022. A noiva era fã de um famoso reality show. Todas as festas e jantares foram temáticos, fazendo referências ao programa de televisão. Além de passeios exclusivos, a B4 organizou também um jantar especial, com um famoso chef local especialmente para as amigas.

“São momentos que ficarão pra sempre na nossa memória. Brincamos que a Tati vai fazer a festa de 16 anos da nossa república. Confiamos muito nela. Nós, que tivemos experiências de fazer despedidas sem agência, agora não abrimos mão de ter alguém organizando pra gente. É muita comodidade e muitos detalhes pensados com cuidado para nós, então, com certeza o valor acaba compensando”, conclui Stephanie.


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