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    Vaca-marinha pré-histórica foi comida por crocodilo e tubarão, sugere fóssil

    Estudo foi conduzido pelo departamento de paleontologia da Universidade de Zurique, na Suíça

    Katie Huntda CNN

    Um fóssil raro forneceu uma visão de um dia excepcionalmente azarado para uma vaca-marinha pré-histórica.

    A espécie extinta de dugongo, um mamífero marinho semelhante ao peixe-boi, estava nadando no mar há cerca de 15 milhões de anos quando foi caçada por dois animais: um crocodilo e um tubarão-tigre. Este último deixou um de seus dentes cravado no corpo da vaca-marinha.

    Ao analisar o fóssil, desenterrado na Venezuela, os pesquisadores puderam reconstruir como a vaca-marinha, que pertencia a um grupo extinto de animais conhecido como Culebratherium, pereceu.

    O estudo, publicado nesta quinta-feira (29) no Journal of Vertebrate Paleontology, captura um momento no tempo que oferece uma visão única de como a cadeia alimentar funcionava no início ao meio do Mioceno, entre 11,6 milhões e 23 milhões de anos atrás.

    “É extremamente raro encontrar evidências de dois predadores em um único espécime,” disse o autor principal do estudo, Aldo Benites-Palomino, doutorando no departamento de paleontologia da Universidade de Zurique, na Suíça. “Isso mostra por que devemos explorar fósseis em regiões tropicais como a Venezuela.”

    Anatomia de um ataque

    Os restos fossilizados — um crânio parcial e 13 vértebras — revelaram três tipos de marcas de mordida. Sua forma, profundidade e orientação sugerem que foram feitas por dois predadores: um crocodilo de pequeno a médio porte e um tubarão-tigre.

    A criatura semelhante a um crocodilo atacou primeiro, segundo o estudo, com impactos profundos de dentes no focinho da vaca-marinha, sugerindo que ele tentou agarrar essa parte do rosto do dugongo para sufocá-lo. Outras duas grandes incisões curvas indicam que o crocodilo arrastou a vaca-marinha, rasgando sua carne.

    Estrias e cortes no fóssil sugerem que o crocodilo executou um “rolamento da morte”, um comportamento giratório para subjugar a presa que também é observado em espécies de crocodilos vivos.

    “Esse tipo de marca só é produzido por eventos de mordida nos quais ações subsequentes de rasgo, rotação ou agarro são executadas,” observaram os autores do estudo.

    Depois, a vaca-marinha foi desmembrada por um tubarão-tigre, que tem dentes estreitos e não serrilhados. Diferenciar as marcas de predação ativa e de carniça pode ser desafiador, mas, segundo o estudo, as marcas de mordida ao longo do corpo da vaca-marinha e a distribuição irregular, juntamente com a variação na profundidade, sugerem aos pesquisadores que isso foi o comportamento de um carniceiro, como um tubarão-tigre.

    Os cientistas confirmaram a identidade do tubarão através da descoberta de um dente isolado preso no pescoço do peixe-boi, que pertencia a uma espécie extinta de tubarão-tigre, Galeocerdo aduncus.

    “Tive que trabalhar como um cientista forense,” recordou Benites-Palomino.

    No entanto, o estudo observou que, dada a natureza fragmentada do esqueleto, não foi possível descartar outros cenários para a morte da vaca-marinha.

    Dean Lomax, paleontólogo da Universidade de Bristol e da Universidade de Manchester, no Reino Unido, que não participou da pesquisa, disse que concorda com as conclusões do estudo, mas ressaltou que é difícil distinguir entre carniça e comportamento predatório ativo.

    “Por exemplo, talvez não seja irracional pensar que o dugongo já estava morto, talvez tenha flutuado e inchado, e então foi devorado (como carniça) pelo crocodiliano e pelos tubarões em momentos diferentes,” disse Lomax, autor de “Locked in Time: Animal Behavior Unearthed in 50 Amazing Fossils”, via e-mail.

    “A menos que tenhamos evidências diretas do dugongo dentro do crocodilo (como última refeição), ou do crocodilo e do dugongo morrendo em meio ao ataque, é sempre muito raro dizer com 100% de certeza se isso foi definitivamente o resultado de um ataque ativo em vez de carniça,” acrescentou Lomax.

    Descoberta acidental de fóssil

    Vacas-marinhas naquela época podiam ter até 5 metros de comprimento, disse Benites-Palomino, e seu tecido adiposo seria uma boa fonte de alimento.

    Hoje, crocodilos, orcas e tubarões caçam dugongos e peixes-bois, principalmente visando os jovens, já que os adultos são difíceis de matar devido ao seu tamanho. Não está claro exatamente que tipo de crocodiliano teria atacado a vaca-marinha — poderia ter sido um tipo extinto de jacaré ou gavial, conhecido por seu focinho longo e fino, mas teria sido grande — de 4 a 6 metros de comprimento.

    “Há vários candidatos. A América do Sul era um paraíso para os crocodilos naquela época,” acrescentou Benites-Palomino.

    Um fazendeiro ao sul da cidade de Coro, na Venezuela, foi o primeiro a notar os restos da vaca-marinha em um local onde fósseis não haviam sido descobertos anteriormente.

    “Inicialmente, não estávamos familiarizados com a geologia do local, e os primeiros fósseis que desenterramos eram partes de crânios. Levou um tempo para determinarmos o que eram — crânios de vacas-marinhas, que têm uma aparência bastante peculiar,” disse Marcelo Sánchez-Villagra, coautor do estudo e professor de paleobiologia e diretor do Instituto e Museu Paleontológico da Universidade de Zurique, em um comunicado.

    Benites-Palomino disse que a descoberta rara mostrou o valor da caça a fósseis na América do Sul “não clássica”.

    “Temos ido aos mesmos locais de fósseis na América do Norte e na China há muito tempo, mas sempre que trabalhamos nessas novas áreas, constantemente encontramos novos fósseis.”

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