Raptores como os do ‘Jurassic Park’ podem não ter caçado em bando como no filme
Parentes evolutivos mais próximos desses dinossauros, as aves e os crocodilianos não costumam caçar em bando
Os temíveis raptores que aterrorizaram visitantes do “Jurassic Park” podem não ter caçado em bando como os dinossauros do filme, aponta um novo estudo publicado pela revista científica “Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology”.
Pesquisadores analisaram os dentes do Deinonychus antirrhopus (ou apenas deinonicos), raptores do tamanho de lobos que viviam na atual América do Norte durante o período Cretáceo, há mais de 100 milhões de anos.
No filme de 1993, os raptores foram retratados como predadores inteligentes que trabalhavam juntos para perseguir suas presas.
Essa ideia se baseava em ciência real, disse à CNN o autor do novo estudo, Joseph Frederickson. Ele afirmou que os fósseis encontrados em 1960 incluíam os de diversos deinonicos ao redor das carcaças de gigantes dinossauros herbívoros, muito grandes para serem abatidos por um único raptor.
Mas os parentes evolutivos mais próximos dos raptores, as aves e os crocodilianos –que incluem, além de crocodilos, jacarés e aligátores-, não costumam caçar em bando.
“Eles podem viver em grupos, e podem até atacar a mesma presa ao mesmo tempo, ou em turnos, mas eles não usam estratégias coordenadas como vemos em cães-selvagens africanos ou algo do tipo”, disse o paleontólogo Frederickson, que coordena o museu de ciência Weiss Earth, da Universidade de Wisconsin.
“É muito difícil entender o comportamento de um animal que foi extinto há 108 milhões de anos apenas observando seus fósseis”, disso o especialista à CNN.
Fredrickson e seus colegas Michael Engel e Richard Cifell, da Universidade de Oklahoma, levantaram a hipótese de que as dietas dos deinonicos jovens e adultos poderiam indicar se os raptores caçavam em bando.
Eles analisaram a composição química de dentes de deinonicos adultos e bebês encontrados em Oklahoma e Montana à procura de diferenças. Os dentes dos dinossauros bebês tinham altos níveis de carbono-13, disse Frederickson, o que indica que eles comiam lagartos e outros pequenos carnívoros. Os dentes dos adultos tinham menos carbono-13 porque sua dieta era composta, em sua maioria, de dinossauros herbívoros.
O especialista explicou que esse padrão é similar ao que se vê nos crocodilianos, e indica que eles possivelmente trabalhavam juntos, mas não caçavam em bando, como os lobos.
“Comportamento é complexo”, disse. “Não é tão simples como dizer: ‘Eles faziam uma coisa, ou eles não faziam outra’. Mas existe esse nível de caça em matilhas que os mamíferos fazem que nós simplesmente não sabemos se os dinossauros eram capazes [de fazer].”
Steven Jasinski, curador de paleontologia do Museu Estadual da Pennsylvania, disse que as descobertas, apesar de interessantes, não provam que os raptores não caçavam em bando. Jasinski foi um dos cientistas que identificaram Dineobellator notohesperus, um raptor que viveu há cerca de 67 milhões de anos. O espécime descoberto tinha cicatrizes em seus ossos causados por ferimentos que sararam antes de ele morrer.
Ele comparou com as diferentes espécies de mamíferos modernos, que se comportam de maneira diferente. Então, é plausível que diferentes raptores também agissem de formas distintas. Leões vivem em grandes grupos, por exemplo, enquanto outros felinos caçam sozinhos, afirmou o especialista.
“Atrevo-me a estar do lado dos que acreditam que há muita variação no comportamento desses animais, e, mesmo que o deinonico não caçasse em bando, isso não significa necessariamente que nenhum dos outros raptores não caçassem assim”, disse Jasinski à CNN.
Ele afirmou que o estudo mostra que jovens deinonicos provavelmente cresciam separados dos adultos, mas isso não significa que eles não se juntassem aos adultos quando ficassem mais velhos.
“É possível que eles se tornassem completamente solitários e meio que se juntassem quando os recursos e a comida estivessem disponíveis. Também é possível que os adultos voltassem a se reunir para caçar em bando mais tarde”, disse ele. “Portanto, o estudo definitivamente nos dá algumas informações, mas não acho que negue completamente esse conceito.”
Frederickson afirmou que suas descobertas adicionam novas informações ao conhecimento científico sobre os raptores, mas concorda que isso não encerra o debate. “É por isso que estudamos essas coisas: porque ainda existe esse mistério sobre “o que eles estavam fazendo” ou ‘como eles eram’.”