Privatização das telecomunicações faz 25 anos com mais de R$ 1 tri investido; país tem mais celulares que habitantes
Com banda larga e smartphones, setor passou por transformações tecnológicas que mudaram modelo de negócios
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Há exatos 25 anos, em 29 de julho de 1998, era concretizada a privatização do sistema Telebrás por meio de leilão na bolsa de valores do Rio de Janeiro.
Era o início da democratização da telefonia no Brasil.
Até a década de 1990, o setor de telecomunicações brasileiro era dominado pela companhia estatal.
A Telebrás era responsável por controlar todos os serviços de telecomunicações no país, incluindo telefonia fixa, telefonia celular e serviços de transmissão de dados.
No entanto, com o passar dos anos, o monopólio estatal se mostrou ineficiente na amplificação dos serviços e na introdução de tecnologias mais avançadas.
Eduardo Tude, diretor-presidente da consultoria Teleco, conta que, à época, ter um telefone fixo era o grande desejo dos brasileiros, mas custava caro — cerca de US$ 1 mil o aparelho.
“Quando se fez a privatização, foram criadas as empresas separadas em serviço móvel e fixo. Para o fixo, foram criadas concessionárias, que tiveram metas agressivas para a implantação da telefonia nas casas brasileiras”, afirma.
Tude explica que a telefonia fixa era o principal serviço daquele momento.
“Tínhamos 17 milhões de telefones fixos, pouco mais de 4 milhões de aparelhos celulares, 2,5 milhões de TVs por assinatura e ainda estávamos engatinhando na internet discada”.
Durante o processo de privatização, a Telebrás foi dividida em empresas regionais — as famosas “Teles”.
Foram inauguradas companhias como a “Tele Norte Leste”, “Tele Sudeste” e “Tele Centro Sul”, cada uma responsável por diferentes partes do Brasil.
A partir disso, criou-se um esquema de competitividade entre as empresas, o que possibilitou a democratização dos serviços de telefonia.
“O governo não tinha dinheiro suficiente para investir e colocar telefone para todo mundo. Como as empresas privadas tinham, elas aumentaram o acesso. O objetivo era botar um telefone fixo na casa de cada brasileiro”, destaca o especialista.
Além disso, orelhões foram espalhados por todo o país.
“Qualquer vila que tivesse mais de 100 habitantes tinha que ter um orelhão e uma rede de cobre pronta, para o caso de alguém querer uma linha telefônica. Era uma visão de mundo de que ter telefone fixo era como ter água em casa”, afirma Tude.
A privatização das telecomunicações permitiu um avanço significativo em termos de infraestrutura e tecnologia.
Houve expansão da telefonia celular, crescimento da internet de banda larga e o desenvolvimento de serviços de dados mais eficientes.
25 anos em números
- R$ 1,036 trilhão investidos de 1998 ao primeiro trimestre de 2023
- Telefonia móvel: passou de 7,4 milhões de acessos em 1998 para 251 milhões. Crescimento de 3.309%
- Telefonia fixa: passou de 20 milhões de linhas em 1998 para 27 milhões. Aumento de 33%
- TV por assinatura: passou de 2,6 milhões para 12 milhões de assinaturas. Alta de 371%
- Banda larga fixa: o serviço não estava disponível em 1998, mas em 2023 já alcançou a marca de 45,7 milhões de acessos
Fonte: Conexis Brasil Digital
Telefonia em tempos de internet
Ao longo dos 25 anos pós privatização da Telebrás, houve uma importante transformação tecnológica, que impactou o modelo de negócios das empresas de telefonia.
“Hoje temos maior competitividade na telefonia móvel e uma competição mais acirrada na banda larga fixa. Enquanto isso, o tão desejado telefone fixo, virou uma tecnologia de uso acessório, mais restrito a empresas”, explica Tude.
Na época do estudo, eram 242 milhões de celulares inteligentes em uso no país para pouco mais de 214 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O celular virou o grande serviço de telecomunicações do país”, diz o especialista.
À medida que a telefonia móvel cresce, a telefonia fixa perde espaço — o que inclui os orelhões.
“Em 2010, cada orelhão tinha uma receita líquida mensal de R$ 45 pelo uso. Em 2014, esse valor caiu para apenas R$ 4 reais. Com isso, passou-se a não conseguir mais pagar pela sua manutenção”, afirma.
Tude diz que o prazo das concessões dos telefones fixos acaba em 2025. “Eles estão num processo de deixar de ser concessionárias e serem autorizadas, assim como as demais”.
“O uso está caindo mesmo. A maior parte dos telefones fixos não utiliza o par de cobre, eles vão pela banda larga fixa. Hoje, o principal meio de telecomunicação é o móvel, que também oferece banda larga e fibra óptica. Nisso, o Brasil está bem avançado”, avalia.
“O fixo se transformou. Hoje, nossa voz é a internet”.
Futuro
O presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, Marcos Ferrari, diz que as operadoras ainda enfrentam alguns desafios para continuar com investimentos e garantir aos brasileiros o acesso à conectividade.
“Um dos maiores é a carga tributária do setor, que é uma das mais altas do mundo”, afirma.
Segundo a Conexis Brasil, outros pontos essenciais para que o setor continue avançando incluem simplificação regulatória e o incentivo à autorregulação; igualdade regulatória entre as prestadoras de telecomunicações; atualização das leis municipais de antenas; e o combate ao furto e roubo de cabos de telecomunicações.
Para Ferrari, a maior conquista do setor nos últimos 25 anos foi a massificação do acesso aos serviços de telecomunicações.
“Hoje todos os municípios brasileiros têm acesso a pelo menos uma tecnologia móvel, seja 3G, 4G ou 5G. São mais de 150 cidades que já têm acesso ao 5G, que acaba de completar 1 ano de operação no Brasil”, afirma.
Já Eduardo Tude diz que o setor acompanha de perto as tendências mundiais e que as operadoras, motivadas pela competitividade, devem continuar trabalhando para trazer todas as tecnologias de forma rápida para o país.
“Como existe uma competição, se uma delas [operadoras] não disponibilizar as tecnologias rapidamente, ela vai perder mercado, seja no móvel ou na banda larga”, conclui.