Por que (e como) o Twitter quer se juntar ao TikTok?
Uma fusão com o TikTok poderia ajudar o Twitter a conseguir dar um salto que há tempos se espera dela – e lucros mais recorrentes
A possibilidade de o negócio acontecer foi ventilada pelo jornal americano The Wall Street Journal e o Twitter não quis fazer nenhum tipo de comentário sobre o assunto – o que no jargão dos negócios, quer dizer que a empresa não nega a informação.
Uma fusão com o TikTok poderia ajudar o Twitter a conseguir dar um salto que há tempos se espera. Apesar do crescimento do número de usuários, a empresa, fundada em 2006, segue sendo uma rede social que não conseguiu encontrar o caminho dos lucros recorrentes, como parte de suas concorrentes.
O Twitter conseguiu resultados positivos em 2018 e 2019, mas já vem registrando prejuízo em 2020. No primeiro semestre, a empresa registrou perdas de US$ 1,2 bilhão, ante lucro de US$ 1,3 bilhão no mesmo período do ano passado.
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A receita teve um recuo de 19%, muito por causa da diminuição dos gastos de publicidade pelas empresas, um dos efeitos da pandemia.
“O Twitter ainda precisa encontrar um modelo de negócio lucrativo e o Tik Tok pode trazer este modelo”, diz Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo da escola de negócios Insper. “O Twitter também passa a ter acesso a uma base de usuários muito mais jovem e ativa e, diminui sua dependência de usuários polêmicos, conteúdos agressivos e/ou impróprios e clima de guerra ideológica.”
O Twitter voltou a ter bastante relevância em 2016. Até então, vinha perdendo espaço para as redes sociais do Facebook, como a homônima e o Instagram. Suas ações chegaram a bater o valor mínimo de US$ 14.
Mas um ponto garantiu um retorno para a rede social. O então candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, mostrou o poder da rede social para discussões em série – e a rede foi um fator fundamental para que ele fosse eleito. Com isso, diversos políticos, jornalistas e especialistas voltaram a usar a rede com mais frequência.
Com isso, o Twitter passou a aumentar a aceleração de pessoas em sua base, o que acontece até hoje. Somente no primeiro semestre deste ano, a rede registrou 30% de alta de usuários.
Obviamente, com o aumento do discurso de ódio e notícias mentirosas, o Twitter passou a ser o centro das atenções, juntamente com o Facebook. Esse ano, inclusive, ambas redes sociais passaram a sofrer boicotes de grandes anunciantes, que afirmavam que elas não estavam levando o tema a sério.
De olho nos influenciadores
Um dos pontos chave que tornam o TikTok tão atrativo é o poder que ele tem com influenciadores. Ao contrário de rivais como o Facebook e o YouTube, o TikTok não permite publicidade nativa (aquelas propagandas no início do vídeo), mas estimula que os influenciadores vendam produtos e patrocínios por meio de suas postagens.
O esquema de publicidade do TikTok também se assemelha ao streaming de jogos. No ambiente de esportes eletrônicos, os fãs de determinados jogadores de games como Counter Strike, League of Legends e FIFA podem, inclusive, presentear os seus ídolos com “gorjetas” durante a transmissão. Isso aumenta, e muito, o engajamento da plataforma.
Não por acaso, existem fenômenos nativos do próprio TikTok. A americana Addison Easterling fez coreografias que aprendeu na infância e virou um fenômeno. Resultado? Ganhou US$ 5 milhões no ano passado.
E a compra do Twitter seria uma espécie de volta às origens. Isso porque a plataforma já tinha uma ferramenta de vídeos, chamada Vine. Assim como o TikTok, se baseava em vídeos curtos e “engraçadinhos” e chegou a fazer bastante sucesso. Mas, por não mostrar um caminho para a rentabilidade, foi encerrado em 2017 – e os órfãos do Vine foram, exatamente, o motor de crescimento do TikTok.
Para Nakagawa, o negócio entre as duas redes poderia ser comparada com a compra do YouTube pelo Google, 2006, por meros US$ 1,7 bilhão.
“Naquele momento, poucos entenderam o movimento do Google que apostou na mídia baseada em vídeo, ultra segmentada e feita pelos próprios usuários”, diz o professor. E somente no ano passado, o Google revelou que o YouTube faturou US$ 15 bilhões em anúncios. Ou seja, quase cinco vezes o faturamento do Twitter no mesmo período.
Não por acaso, recentemente, a plataforma de streaming Netflix já colocou o TikTok como um grande concorrente da empresa em um futuro próximo.
“O crescimento do TikTok é espantoso, o que mostra a fluidez do entretenimento na Internet”, diz o comunicado.
Há dinheiro na mesa?
Como a companhia ainda usa caixa para financiar parte do aumento da operação, o poder de fogo também é bem menor se comparado a suas principais rivais pelo negócio. O Twitter tem caixa de US$ 7,8 bilhões para investimentos. No caso da Microsoft, que parece ser a mais próxima de um acordo, o valor chega a US$ 136 bilhões.
E já que o TikTok está sendo avaliado em cerca de US$ 30 bilhões, o Twitter teria que buscar outras formas de dinheiro para fechar um negócio (ou uma fusão, como também está sendo levantado).
O Twitter, aliás, está avaliado exatamente em US$ 30 bilhões na bolsa de Nova York. Bem atrás, de novo, de big techs, como a rival Microsoft, com valor de mercado de US$ 1,56 trilhão. A própria Microsoft pagou US$ 26,6 bilhões pela rede social corporativa LinkedIn em 2016 – logo, não seria a primeira grande investida da empresa fundada por Bill Gates por uma rede social.
Gates, no entanto, se posicionou contrário a compra. Ele não tem mais nenhuma função executiva na empresa que fundou: é apenas conselheiro do atual CEO, Satya Nadella. Para ele, o TikTok é um ‘cálice envenenado’.
O jogo ainda está aberto. Jornais chineses apontam que a ByteDance está relutante em vender o seu negócio, mesmo que seja só a operação americana (que é a maior e mais lucrativa). A novela, no entanto, já tem data limite: Trump deu até o dia 15 de setembro para que alguma empresa americana compre o TikTok. Pediu, inclusive, que uma parte da venda fosse destinada ao governo dos EUA.
Em 40 dias, todas essas tramas podem ser finalizadas. A conferir.
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