Pesquisa decifra ingredientes misteriosos em receitas antigas de objetos de bronze na China
Análise química usou a enciclopédia Kao Gong Ji, que foi escrita por volta de 300 a.C. para identificar os compostos
Uma análise de um texto e moedas de 2.300 anos ajudou pesquisadores a decifrar receitas antigas de bronze, incluindo dois ingredientes linguisticamente indescritíveis.
A Kao Gong Ji, a mais antiga enciclopédia técnica conhecida, foi escrita por volta de 300 a.C e faz parte de um texto maior chamado The Rites of Zhou.
O texto antigo inclui seis fórmulas químicas para misturar bronze e lista itens como espadas, sinos, machados, facas e espelhos, além de como fazê-los.
Nos últimos 100 anos, cientistas lutaram para traduzir dois dos principais ingredientes, listados como “jin” e “xi”. Especialistas acreditavam que essas palavras se traduziam em cobre e estanho, que são componentes-chave no processo de fabricação de bronze.
Quando os pesquisadores tentaram recriar as receitas, no entanto, o metal resultante não combinou com a composição de artefatos chineses antigos.
Agora, dois pesquisadores acreditam ter identificado com precisão o verdadeiro significado por trás dos ingredientes misteriosos. A revista Antiquity publicou as descobertas na terça-feira (9).
A revelação permite uma melhor compreensão da produção de bronze antigo — e abre novas questões sobre quando esse processo começou, uma vez que a produção de bronze em larga escala aconteceu muito antes de as seis receitas serem compartilhadas no Kao Gong Ji, disse o coautor do estudo Ruiliang Liu, curador da Early China Collection no British Museum em Londres.
No chinês moderno, jin significa ouro. Mas o significado antigo da palavra pode ser cobre, liga de cobre ou mesmo apenas metal, e é por isso que tem sido difícil determinar os ingredientes específicos.
“Essas receitas foram usadas na maior indústria de bronze da Eurásia durante esse período”, disse Liu em comunicado. “Tentativas de reconstruir esses processos foram feitas por mais de cem anos, mas falharam.”
Análises químicas
Liu e o principal autor do estudo, Mark Pollard, analisaram a composição química das facas chinesas cunhadas perto de quando o Kao Gong Ji foi escrito. Pollard é o professor de Ciências Arqueológicas da Universidade de Oxford e diretor do Laboratório de Pesquisa em Arqueologia e História da Arte.
Anteriormente, os pesquisadores pensavam que as facas eram feitas diluindo cobre com estanho e chumbo.
A análise mostrou que a composição química das moedas foi resultado da mistura de duas ligas metálicas pré-preparadas, uma de cobre, estanho e chumbo, e outra de cobre e chumbo.
Os dois pesquisadores concluíram que jin e xi eram provavelmente ligas metálicas pré-misturadas.
“Pela primeira vez em mais de 100 anos de estudos, produzimos uma explicação viável de como interpretar as receitas para fazer objetos de bronze no início da China dadas no (Kao Gong Ji)”, disse Pollard em comunicado.
As descobertas mostraram que a antiga fabricação chinesa de bronze dependia da combinação de ligas em vez de metais puros e que a metalurgia era mais complexa do que se pensava anteriormente.
“Isso indica um passo adicional — a produção de ligas pré-preparadas — no processo de fabricação de objetos de liga de cobre no início da China“, disse Liu.
“Isso representa uma camada adicional, mas anteriormente desconhecida, na rede de produção e fornecimento de metal na China”.
Arqueologicamente, esse passo adicional teria permanecido invisível se não fosse pela análise química, disseram os pesquisadores.
“Compreender a prática da liga é crucial para entendermos os requintados vasos rituais de bronze, bem como a produção em massa subjacente nas sociedades Shang e Zhou”, disse Liu.
Usar esse tipo de análise pode ajudar os pesquisadores a decifrar outros textos sobre metalurgia antiga de diferentes culturas e regiões no futuro, disseram os pesquisadores.