Oceanos aquecem como se 5 bombas de Hiroshima fossem lançadas no mar por segundo
Enquanto a última década foi a mais quente no registro de temperaturas oceânicas globais, os cinco anos mais quentes já registrados foram os últimos cinco
Os oceanos do mundo estão esquentando a uma taxa equivalente a cinco bombas atômicas de Hiroshima sendo lançadas na água a cada segundo, segundo cientistas.
Um novo estudo divulgado em janeiro de 2020 mostrou que 2019 foi mais um ano de quebra de recorde de aquecimento oceânico, com as temperaturas da água chegando às mais altas já registradas.
Uma equipe internacional de 14 cientistas examinou dados a partir dos anos de 1950, observando temperaturas desde a superfície do oceano até 2.000 metros de profundidade. O estudo, que foi publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences (Avanços em Ciências Atmosféricas), também mostrou que os oceanos estão esquentando a uma velocidade crescente.
Enquanto a última década foi a mais quente no registro de temperaturas oceânicas globais, os cinco anos mais quentes já registrados foram os últimos cinco.
“A tendência ascendente é implacável e podemos afirmar, com confiança, que a maior parte do aquecimento são mudanças climáticas causadas pelo homem”, disse Kevin Trenberth, ilustre cientista sênior da Seção de Análise Climática do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas.
O estudo mostra que, enquanto os oceanos esquentavam de forma estável entre 1955 e 1986, o aquecimento se acelerou rapidamente nas últimas décadas. Entre 1987 e 2019, o aquecimento oceânico foi 450% mais alto que durante o período anterior.
Lijing Cheng, o principal autor do artigo e professor associado do Centro Internacional de Ciências Climáticas e Ambientais da Academia Chinesa de Ciências, disse que, em 2019, a temperatura do oceano esteve 0,075 °C acima da média de 1981-2010.
“Não existem alternativas razoáveis, além das emissões humanas de calor aprisionando gases, para explicar este aquecimento”, disse Cheng, acrescentando que para chegar a esta temperatura, o oceano teria recebido 228.000.000.000.000.000.000.000 — ou 228 sextilhões — de joules de calor.
“A bomba atômica de Hiroshima explodiu com uma energia de cerca de 63.000.000.000.000 joules”, disse Cheng. “Eu fiz um cálculo… A quantidade de calor que pusemos nos oceanos do mundo nos últimos 25 anos equivale a 3,6 bilhões de explosões da bomba dessa bomba”, completou.
Isto equivale a lançar quatro bombas de Hiroshima nos oceanos a cada segundo no último quarto de século. Mas como o aquecimento está se acelerando, a taxa à qual lançamos estas bombas imaginárias está ficando mais rápida que nunca.
“Estamos agora entre cinco e seis bombas de Hiroshima de calor a cada segundo”, disse John Abraham, um dos autores do estudo e professor de engenharia mecânica na Universidade de St. Thomas, no estado americano do Minnesota.
Os oceanos servem como um bom indicador do real impacto das mudanças climáticas. Cobrindo quase três quartos da superfície da Terra, eles absorvem a maior parte do calor do mundo. Desde 1970, mais de 90% do excesso de calor do planeta foram para os oceanos, enquanto menos de 4% foram absorvidos pela atmosfera e pela terra, disse o estudo.
Mas só porque as pessoas vivem em terra, isto não significa que estejam imunes aos efeitos do aquecimento das águas. O aquecimento oceânico tem um profundo impacto no mundo como um todo.
“Se você quer entender o aquecimento global, tem que medir o aquecimento oceânico”, disse Abraham.
Por exemplo, tanto o furacão Harvey, que matou pelo menos 68 pessoas em 2017, quanto o furacão Florence, cujas chuvas torrenciais alagaram vastas regiões da Costa Leste dos EUA, foram influenciados por temperaturas anormalmente altas.
Enquanto cientistas dizem que mudanças climáticas provocadas pelo homem não são exclusivamente culpadas por tempestades tropicais, estudos vêm mostrando que temperaturas mais altas podem torná-las mais chuvosas e mais devastadoras.
Temperaturas em ascensão também significam que as águas oceânicas têm menos oxigênio e estão se tornando mais ácidas, o que tem grande impacto nos nutrientes que alimentam a vida marinha. Por exemplo, quando uma onda de calor oceânico chegou às águas do oeste da Austrália em 2011, cientistas verificaram que houve menos nascimentos de golfinhos e a taxa de sobrevivência dos animais caiu.
O aquecimento também está mudando correntes e alterando sistemas climáticos a uma velocidade que a vida selvagem não consegue acompanhar. “É crucial entender o quão rápido as coisas estão mudando”, acrescentou Abraham.
Cientistas disseram que, enquanto os danos causados aos oceanos são de muitas maneiras irreversíveis, há esperança para o futuro.
“Veremos um aumento contínuo da contenção de calor oceânico neste século, mesmo se conseguirmos manter (o aumento) da temperatura média da superfície global bem abaixo de 2°C (o objetivo do Acordo de Paris)”, disse Cheng.
Entretanto, ele acrescentou que a velocidade do aquecimento é inteiramente dependente das ações do mundo sobre as mudanças climáticas.
“Se pudermos reduzir as emissões, podemos reduzir o nível de aquecimento, e então reduzir os riscos e perdas associados”, disse ele.
Trenberth acrescentou que um preço crescente para o carbono ajudaria a limitar o aquecimento. “Se os líderes mundiais mudassem o curso de ação, uma revolução poderia acontecer ao longo de cerca de 15 anos. Isto requer que os líderes da China, e dos EUA em particular, junto à Europa, assumam um papel de forte liderança e construam o cenário para que o resto do mundo acompanhe”, disse ele.