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    O que é “carbono neutro” e por que você deve se preocupar com isso

    Emissões de dióxido de carbono aquecem o planeta, o que intensifica os eventos climáticos extremos; tema é central nos debates da COP26

    O desmatamento e as queimadas são grandes emissores de dióxido de carbono, gás que aquece a temperatura do planeta
    O desmatamento e as queimadas são grandes emissores de dióxido de carbono, gás que aquece a temperatura do planeta Foto: Araquém Alcântara/Arquivo Pessoal

    Vinicius Konchinskicolaboração para a CNN

    Líderes mundiais se reúnem a partir de domingo (31), em Glasgow, na Escócia, para a COP26 (26ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). Até 12 de novembro, eles discutirão formas de conter as mudanças climáticas e a emissão de gases causadores do efeito estufa. Buscarão, assim, soluções para que atividades humanas no planeta tornem-se cada vez mais neutras em carbono.

    Algo pode ser considerado “carbono neutro” quando não aumenta a quantidade de gases causadores do efeito estufa da atmosfera. O dióxido de carbono (CO2) é um desses gases.

    Não colaborar com o efeito estufa não é tarefa fácil. Praticamente tudo que é feito no mundo causa emissões de carbono e, portanto, tem um determinado efeito sobre o aquecimento global.

    O desmatamento e as queimadas são grandes vilões das emissões de CO2; um carro queima combustível e emite uma determinada quantidade de carbono da atmosfera; bois criados para abate emitem gases causadores do efeito estufa durante a digestão; a queima de carvão vegetal para um churrasco tem seu impacto.

    Para ser considerada “carbono neutra”, no entanto, uma atividade não necessariamente precisa deixar de causar emissões. O termo também se aplica quando as emissões são de alguma forma compensadas, resultando em um efeito nulo sobre o aquecimento global.

    Assim, não é que o pecuarista vá fazer com que o gado deixe de emitir gases para que a atividade seja considerada “carbono neutro”. O que ele vai fazer é medir quanto a atividade colabora com o efeito estufa, tomar medidas para mitigar esse impacto e balancear o saldo restante das emissões através da compensação do carbono emitido.

    Árvores capturam carbono existente na atmosfera durante o processo de fotossíntese, transformando o CO2 em energia necessária para sua sobrevivência. O dono de um rebanho, portanto, pode compensar parte das emissões do gado plantando árvores.

    O que são créditos de carbono?

    Outra forma de compensar emissões é a compra dos créditos de carbono. Esses créditos são gerados por ações que reduzem a quantidade de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, como a recuperação de áreas degradadas de floresta.

    Uma empresa ou uma organização não-governamental que recupera determinada área pode calcular a quantidade de CO2 que ela retirou da atmosfera e vender esse crédito a empresário da pecuária que precisa compensar emissões. Existe um mercado organizado, mas ainda incipiente desses créditos.

    O conceito de carbono neutro, aliás, não é aplicável só a atividade ou a empresas. Uma pessoa que controla e compensa o carbono emitido durante sua rotina pode, em tese, ser considerada “carbono neutra”. O mesmo vale para um país, que mede o conjunto de suas emissões e as balanceia com captura de CO2 ou compra de créditos.

    Nações se comprometeram em reduzir as emissões de carbono para reduzir o aquecimento global na COP3 (3ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em 1997, em Kyoto, Japão. Na ocasião, foi assinado o Protocolo de Kyoto, que criou a possibilidade de um país compensar suas emissões comprando créditos de outras nações.

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    A poluição industrial e poluição emitida por veículos também agravam as mudanças climáticas / LightRocket via Getty Images

    Questão de sobrevivência

    Segundo Caroline Rocha, gerente de Clima do instituto de pesquisas ambientais WRI Brasil, a busca pela neutralidade de carbono e a mitigação do aquecimento global são hoje questões de sobrevivência.

    “As pessoas já devem ter percebido que eventos climáticos extremos estão ficando cada vez mais frequentes e intensos. Isso é causado pelo aumento da quantidade de carbono na atmosfera e, consequentemente, o aumento da média da temperatura na global”, explica.

    “O aquecimento não significa só derretimento das calotas polares ou aumento do nível do mar. O aquecimento tem impacto em todos os sistemas que permitem a vida na terra”, acrescenta. “Por isso, já estamos vendo no Brasil, por exemplo, aumento de incêndios, secas e inundações severas. A neutralidade de carbono não reverte esse cenário, mas permite que pare de piorar.”

    Caroline Rocha lembra que o efeito estufa já aumentou a temperatura média global em aproximadamente 1°C e que isto foi suficiente para causar transtornos no planeta.

    “Precisamos alcançar a neutralidade de carbono. Caso contrário o cenário que enfrentaremos será de perdas econômicas inimagináveis e colocaremos em risco a vida de pessoas e de ecossistemas em todo o mundo.”

    Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), ratifica que a busca pela neutralidade de carbono é uma forma interessante de atingir um equilíbrio desejável das emissões de gases efeito estufa, que “já ultrapassaram os limites de capacidade de suporte, apontando trágicas consequências para a humanidade”.

    Ele ressalta, porém, que se abrem “brechas perigosas” quando essa neutralidade é atingida por meio do comércio de crédito carbono. Com a compra e venda desses créditos, quem tem dinheiro pode adquirir o “direito de poluir”, diz Bocuhy.

    “Isso significa que não houve real empenho planetário na redução das emissões, mas apenas a aquisição de bônus a ser pago por um de sequestro de carbono pré-existente, que permita algumas regiões continuar a poluir”, observa.

    “Ações que buscam neutralidade devem ser reais, em cálculo planetário –e não fictícias–, uma vez que a atmosfera planetária é única e gases lançados no Brasil podem ter efeitos negativos no Havaí.”