Nave limpa-lixo é lançada ao espaço para recolher satélite
Missão pode representar avanço importante contra um grande perigo para as novas empreitadas aeroespaciais, as toneladas de lixo espacial que orbitam a Terra
Não dá para ver no céu noturno, mas acima de nós há uma nuvem de mais de 9 mil toneladas de lixo espacial, o equivalente ao peso de 720 ônibus escolares.
Esses destroços são compostos de partes de satélites antigos e restos de foguetes. Os destroços representam riscos para a Estação Espacial Internacional e ameaçam coisas que consideramos já integradas à nossa rotina na Terra, como as previsões do tempo, direcionamento de rotas via GPS e telecomunicações.
O problema do lixo espacial está piorando com mais e mais satélites sendo lançados a cada ano por empreendimentos como os da SpaceX, de Elon Musk.
Uma missão de demonstração para testar a nova tecnologia desenvolvida pela empresa Astroscale para limpar detritos espaciais foi lançada na madrugada desta segunda-feira (22), no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão.
Um foguete Soyuz 2 lançou ao espaço uma nave de 175 kg com um satélite. A nave entrará em um jogo arriscado de gato e rato que deve durar alguns meses com os destroços de um satélite de 17 kg.
A Astroscale testará a capacidade da espaçonave de capturar um satélite e suas partes e trazê-los para a atmosfera da Terra, onde serão incendiados. A expectativa é que a missão termine em setembro ou outubro deste ano.
Como parte da missão, a empresa vai testar se a espaçonave pode pegar e acoplar o satélite enquanto ele se move pelo espaço a cerca de 28 mil km/h, várias vezes mais rápido do que a velocidade de uma bala.
Os testes contam com uma placa de encaixe magnética feita para se encaixar ao satélite. A Astroscale disse que espera que todos os novos satélites lançados tenham essa placa de acoplamento, permitindo que sejam removidos com segurança no final de sua vida útil. Além disso, a Astroscale disse que já assinou um acordo com a empresa de satélite de internet OneWeb.
“Agora é a hora de levar a sério a ameaça causada por detritos, comprometendo-se com programas de remoção de detritos e preparando satélites para remoção futura no fim de sua vida”, disse John Auburn, diretor administrativo da Astroscale UK e diretor comercial do grupo.
“Evitar colisões catastróficas ajudará a proteger o ecossistema espacial e garantirá que novos equipamentos continuem a orbitar de forma sustentável pelas próximas gerações.”
A Astroscale está sediada no Japão, mas a missão está sendo controlada do Reino Unido.
Redes, arpões e braços robóticos
A tecnologia que está sendo testada nessa missão tem como objetivo a remoção de satélites ainda a serem lançados e não soluciona o problema dos destroços que já estão no espaço. No entanto, a empresa está trabalhando com a JAXA, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão, em seu primeiro projeto de remoção de entulho.
Outras agências espaciais, instituições e empresas também estão trabalhando em tecnologias capazes de remover lixo espacial.
A ClearSpace 1, a missão da Agência Espacial Europeia para remover lixo espacial da órbita, tem lançamento previsto para 2025. Esta missão usará quatro braços robóticos para capturar os destroços.
Uma missão de demonstração em 2018 implantou com sucesso uma rede para apanhar lixo espacial, a primeira demonstração bem-sucedida de tecnologia de limpeza espacial. O experimento RemoveDebris é conduzido por um consórcio de empresas e pesquisadores liderados pelo Surrey Space Center do Reino Unido e inclui a Airbus, a Surrey Satellite Technology Ltd., de propriedade da Airbus, e o Grupo Ariane, da França. O consórcio também experimentou um método usando um arpão.
Existem pelo menos 26 mil pedaços de lixo espacial orbitando a Terra que são do tamanho de uma bola de tênis ou maiores e podem destruir um satélite com o impacto. Há também mais de 500 mil do tamanho de pequenas bolas de gude, mas com potência suficiente para causar danos a espaçonaves ou satélites; e mais de 100 milhões de pedaços de destroços do tamanho de um grão de sal que podem perfurar um traje espacial, de acordo com um relatório de janeiro da Nasa.
Na verdade, segundo o relatório, os pedaços de lixo espacial mais perigosos para espaçonaves e satélites costumam ser os menores porque são pequenos demais para serem detectados e evitá-los pelos operadores.
(Texto traduzido, leia o original em inglês)