Missão Polaris Dawn, da SpaceX, quebra recorde; parte mais perigosa está por vir
Tripulantes planejam fazer caminhada espacial que exigirá um delicado processo de pré-respiração
A missão Polaris Dawn da SpaceX começou na madrugada de terça-feira (10), lançando uma tripulação de quatro astronautas civis em órbita. E horas depois, eles já fizeram história: atingiram a maior órbita ao redor da Terra, superando um recorde estabelecido nos primeiros dias da Nasa.
A empresa confirmou que a espaçonave Crew Dragon da SpaceX, que transportava a tripulação, atingiu sua altitude máxima de 1.400,7 quilômetros às 22h19 (horário de Brasília) de terça-feira. Essa distância superou o recorde estabelecido pela missão Gemini 11 da Nasa em 1966, que alcançou 1.373 quilômetros durante sua jornada ao redor da Terra.
As missões Apollo da Nasa viajaram mais longe, mas não entraram em uma órbita tradicional ao redor da Terra. Elas estavam destinadas à Lua, que fica a 400 mil quilômetros de distância do nosso planeta. A missão Polaris Dawn também marca a jornada mais distante que um ser humano fez desde a última missão Apollo em 1972 — e a mais distante no espaço que uma mulher já viajou.
Uma caminhada espacial sem precedentes
A SpaceX e a tripulação da Polaris Dawn podem estar celebrando seu marco, mas as tarefas mais arriscadas ainda estão por vir nesta missão de cinco dias — que foi projetada para expandir os limites da exploração espacial comercial e ajudar a testar tecnologias que a SpaceX pode usar em excursões mais profundas no cosmos.
Já na manhã de quinta-feira (12), a equipe da Polaris Dawn — que inclui Jared Isaacman, CEO da Shift4 Payments e financiador da missão; seu amigo próximo e ex-piloto da Força Aérea dos EUA, Scott “Kidd” Poteet; e as engenheiras da SpaceX, Anna Menon e Sarah Gillis — tentará realizar a primeira caminhada espacial comercial.
O evento inovador, programado para começar no terceiro dia da tripulação no espaço, deve ocorrer enquanto eles orbitam a cerca de 700 quilômetros acima da Terra.
Isaacman, Menon, Poteet e Gillis serão expostos ao vácuo do espaço enquanto sua cápsula Crew Dragon é despressurizada e uma escotilha circular é aberta. E dois membros da tripulação, Gillis e Isaacman, sairão da espaçonave durante as aproximadamente duas horas em que o veículo ficará com a porta aberta para o vasto espaço.
A tripulação será protegida do implacável vazio apenas pelos novos trajes de Atividade Extraveicular (EVA) da SpaceX. Os trajes espaciais foram projetados e desenvolvidos em 2 anos e meio, o que é incrivelmente rápido pelos padrões aeroespaciais.
Em comparação, a Nasa está tentando há mais de uma década garantir substitutos para os trajes espaciais antigos da Estação Espacial Internacional. Esses trajes foram projetados há 40 anos.
A cápsula Crew Dragon já está submetendo a tripulação a um longo processo de “pré-respiração”, que prepara os corpos dos astronautas para a caminhada espacial. Funciona eliminando lentamente o nitrogênio do sangue dos tripulantes, para que o gás não forme bolhas na corrente sanguínea conforme a pressão dentro do veículo muda.
O processo de pré-respiração visa evitar a doença de descompressão — a mesma doença perigosa e potencialmente fatal que os mergulhadores podem enfrentar se tentarem subir à superfície muito rapidamente.
O protocolo de pré-respiração que a tripulação da Polaris Dawn está passando é totalmente diferente do que é realizado na Estação Espacial Internacional. A estação espacial possui compartimentos de ar especiais onde os astronautas podem realizar um processo rápido de pré-respiração antes de iniciar suas caminhadas espaciais. Isso leva apenas algumas horas.
A rotina de pré-respiração da tripulação da Polaris Dawn, no entanto, durará cerca de 45 horas, disse Gillis à CNN, à medida que o teor de oxigênio na cabine aumenta lentamente enquanto a pressão diminui.
“O que é realmente legal sobre esse perfil de pré-respiração é que, em muitos aspectos, ele é muito menos arriscado do que o padrão na estação espacial”, disse Gillis à CNN. “É como abrir uma lata de refrigerante — e você quer abrir a lata (e fazer com que) nenhuma das bolhas saia porque a pressão fora da lata é igual à que está dentro.”
Ao diminuir a pressão dentro da Crew Dragon, disse Gillis, e ao colocar seus trajes espaciais no momento em que a pressão ambiente se iguala à pressão do traje — os membros da tripulação podem mitigar melhor qualquer risco de bolhas indesejadas.
O maior desafio vem depois que a caminhada espacial termina: fechar a escotilha a bordo da cápsula Crew Dragon, restaurar a pressurização ao normal e retornar à Terra com segurança.
“Você deveria ficar nervoso com essa missão”, disse o ex-astronauta da NASA e conselheiro da SpaceX, Garrett Reisman, à CNN em agosto. “Sempre que você tenta algo pela primeira vez, há riscos significativos. Eu ficarei muito mais tranquilo quando eles estiverem de volta à cápsula, com a escotilha fechada e travada.”
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