Quando terremotos ecoaram em Marte e um meteorito atingiu o planeta vermelho durante os últimos quatro anos, a sonda InSight, da Nasa, coletou ondas sonoras que ajudaram a revelar os segredos do interior do planeta. Durante esses eventos, o InSight detectou pela primeira vez ondas sísmicas viajando pelo núcleo.
Agora, os cientistas usaram os dados da sonda para determinar que Marte tem um núcleo de liga de ferro líquido que também inclui elementos leves, como enxofre e oxigênio, bem como quantidades menores de hidrogênio e carbono.
Desenvolver uma maior compreensão do interior marciano pode ajudar os cientistas a aprender mais sobre como planetas rochosos como a Terra e Marte se formam, como os dois planetas se diferem e os fatores que ajudam a tornar outros planetas habitáveis para a vida.
Um estudo detalhando as descobertas foi publicado nesta segunda-feira (24), na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“Em 1906, os cientistas descobriram o núcleo da Terra observando como as ondas sísmicas dos terremotos eram afetadas ao viajar através dele”, disse o coautor do estudo Vedran Lekic, professor associado de geologia da Universidade de Maryland, College Park, em um comunicado.
“Mais de cem anos depois, estamos aplicando nosso conhecimento sobre ondas sísmicas a Marte. Com o InSight, finalmente descobrimos o que há no centro de Marte e o que torna Marte tão semelhante, mas distinto da Terra”.
Os pesquisadores analisaram quanto tempo levou as ondas sísmicas geradas por um terremoto, bem como o impacto de um meteorito para percorrer o núcleo marciano, permitindo-lhes estimar a densidade e a composição química do núcleo.
A Terra tem um núcleo externo líquido e um núcleo interno sólido. No entanto, o núcleo de Marte parece ser feito inteiramente de líquido, além de ser um pouco mais denso e menor do que os cientistas acreditavam, com um raio de aproximadamente 1.780 a 1.810 quilômetros.
Inicialmente, a missão InSight, a primeira a estudar o interior de Marte, deveria durar apenas cerca de dois anos, mas a Nasa estendeu por mais dois anos.
“O tempo extra da missão certamente valeu a pena”, disse a principal autora do estudo, Dra. Jessica Irving, professora sênior de ciências da Terra na Universidade de Bristol, no Reino Unido.
“Fizemos as primeiras observações de ondas sísmicas viajando pelo núcleo de Marte. Dois sinais sísmicos, um de um terremoto muito distante e outro de um impacto de meteorito no outro lado do planeta, nos permitiram sondar o núcleo marciano com ondas sísmicas. Temos escutado efetivamente a energia que viaja pelo coração de outro planeta e agora a ouvimos”.
“O InSight continuará a influenciar a forma como entendemos a formação e evolução de Marte e outros planetas nos próximos anos”, disse Lekic.