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    Juliano Moreira: quem foi o psiquiatra brasileiro negro homenageado pelo Google

    Ele combateu avaliação de que a doença mental estava relacionada à cor da pele

    O Doodle desta quarta-feira (6) homenageia Juliano Moreira
    O Doodle desta quarta-feira (6) homenageia Juliano Moreira Foto: Reprodução

    Uma figura pouco conhecida do brasileiro, apesar da sua relevância, estampa nesta quarta-feira (6) a página de buscas do Google. O Doodle desta quarta-feira (6) homenageia Juliano Moreira, médico negro e considerado um dos pioneiros da psiquiatria no Brasil. Ele entrou na faculdade de medicina com apenas 13 anos e formou-se em 1891, aos 18, com seu estudo sobre os efeitos da sífilis.

    Juliano Moreira nasceu em 6 de janeiro de 1872, ainda durante o período da escravidão, e morreu em 1933, depois de deixar uma vasta obra sobre a ciência da mente e as doenças mentais.
    Durante a infância, morou numa casa de aristocratas, onde sua mãe trabalhava. O que se sabe da origem da sua família é que seus avós eram escravos. Não há certeza quanto à condição de sua mãe, se teria também sido escravizada ou já era emancipada.

    Durante sua carreira, Moreira assumiu a missão de revolucionar o tratamento de pessoas com transtornos mentais no Brasil, combatendo a avaliação de que a doença mental estava relacionada à cor da pele.
    Ao longo de sua carreira, combateu o racismo científico praticado no Brasil por outros profissionais da medicina mental, como o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), que afirmava que a miscigenação havia sido responsável pela “degeneração” do povo brasileiro.

    Moreira recusava outra ideia predominante à época, de que o clima tropical contribuía para o desenvolvimento de doenças mentais, o que colocava os povos do sul do mundo como os mais propensos a desenvolver esse tipo de enfermidade.

    Para o psiquiatra brasileiro, as degenerações nervosas e mentais tinham como principais motivos “o alcoolismo, a sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais adversas”, segundo texto Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico, de Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Paulo Dalgalarrondo, pesquisadores do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

    Moreira dirigiu o Hospício Nacional de Alienados do Rio de Janeiro de 1903 a 1930, quando implementou reformas para fornecer uma abordagem mais humanística e científica no atendimento ao paciente. No seu primeiro ano como diretor, participou da criação da lei que obrigava o estado a cuidar dos doentes mentais, foi responsável por abolir o uso de coletes e camisas de força e retirar grades de ferro das janelas no hospital

    Moreira e a eugenia

    Um ponto controverso na biografia do psiquiatra brasileiro é a defesa da eugenia como forma de melhoramento da população. Moreira defendia procedimentos como esterilização e controle dos corpos para evitar a proliferação de doenças.

    Como diretor do Hospício Nacional de Alienados no Rio de Janeiro, Moreira formou uma comunidade psiquiátrica fortemente conectada à ciência alemã e à eugenia. “Nesse momento, houve um grande fluxo de médicos, saberes e modelos institucionais entre Brasil e Alemanha. A neuropatologia e a eugenia impulsionaram o intercâmbio dos dois países”, diz a obra À luz do biológico: psiquiatria, neurologia e eugenia nas relações Brasil-Alemanha (1900-1942), de Pedro Muñoz, doutor em História das Ciências e da Saúde pela Fiocruz.

    A percepção de Moreira quanto à necessidade de higienização do povo tinha uma matriz sanitarista, que pesava sobre corpos e mentes definidos pela ciência da época como doentes. Essa versão se distingue da racialista, que foi predominante na Alemanha durante a instauração do estado nazista e que pregava que o desenvolvimento da sociedade estava relacionado ao branqueamento da raça.

    ERRATA: A versão anterior do texto afirmava incorretamente que a obra ‘À luz do biológico: psiquiatria, neurologia e eugenia nas relações Brasil-Alemanha (1900-1942)’ era de Cristiana Facchinetti. O autor é Pedro Muñoz.

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