Internet por balões chega à Zanzibar; Google já tentou projeto antes, mas falhou
Apenas cerca de 20% dos tanzanianos usam a internet, segundo o Banco Mundial
As ilhas Zanzibar e Pemba da Tanzânia estão prestes a se tornar um local de testes de uma rede móvel de internet da qual os responsáveis esperam não somente revolucionar as vidas de lá, mas possivelmente em toda a África subsariana e além.
Apenas cerca de 20% dos tanzanianos usam a internet, segundo o Banco Mundial. Isso é pouco, mesmo para a África subsariaana onde o uso é afetado pela cobertura limitada de internet e agravado por custos elevados e baixa alfabetização digital. Entretanto, uma mudança está prestes a surgir no horizonte.
A empresa britânica World Mobile está lançando uma rede híbrida usando aeróstatos — balões amarrados ao solo, parecidos com dirigíveis, que, segundo a empresa, fornecerá cobertura quase total às ilhas.
Dois balões cheios de hélio e movidos a energia solar flutuarão a 300 metros (984 pés) acima do solo e terão alcance de transmissão de cerca de 70 quilômetros (44 milhas) cada, usando frequências 3G e 4G para entregar o sinal. Os balões podem resistir a ventos de até 150 quilômetros por hora (93 milhas por hora) e ficar no ar por até 14 dias antes de aterrissarem para reabastecimento. Nas poucas horas de inatividade, outros balões estarão no ar, garantindo assim que os usuários nunca fiquem sem o serviço, diz a companhia.
O sinal de um balão — usado como uma estação plataforma de baixa altitude (LAPS em inglês) — é o suficiente para tarefas como navegação de internet e acesso a e-mail, revela a World Mobile. Enquanto isso, obras para uma rede de nós em solo estão em andamento, sendo cada uma capaz de fornecer WiFi para centenas de pessoas com velocidades o suficiente para transmissão de vídeo e jogos. A rede composta por 125 locais está prevista para ser concluída este ano com o lançamento do primeiro balão em junho.
“Zanzibar representa uma oportunidade realmente interessante”, diz à CNN Micky Watkins, CEO da World Mobile. “Existe aproximadamente 1 milhão e meio de pessoas nas ilhas. É como um pequeno país.”
Iniciativa que outros falharam
A World Mobile terá como objetivo ter sucesso onde empresas maiores falharam. O Projeto Aquila do Facebook, um sistema de fornecimento de internet usando drones de alta altitude, foi encerrado em 2018. O Loon, que usou balões estratosféricos para entregar conexão à internet e que pertenceu à Alphabet, empresa dona da Google, foi arquivado em janeiro de 2021.
O Projeto Aquila e o Loon foram planejados para fornecer internet em áreas remotas utilizando estações de plataforma de alta altitude (HAPS em inglês). O Loon foi utilizado como ajuda em situações de desastre, inclusive nos locais destruídos pelo Furacão Maria, que atingiu Porto Rico em 2017 (Loon fez parceria com a AT&T, empresa controladora da CNN, para conseguir esse feito) e também foi recentemente testado comercialmente no Quênia em 2020.
Derek Long, chefe de telecomunicações da empresa de consultoria em tecnologia Cambridge Consultants, disse que o Loon e o Facebook não tiveram sucesso porque eles não conseguiram fazer a economia dos seus sistemas funcionar, entre outros fatores. No entanto, ele também diz que “um modelo híbrido pode ser ajustado para superar isso ao fornecer soluções terrestres de alta capacidade em áreas bastante povoadas e soluções de cobertura de baixo custo usando plataformas não terrestres”.
Long revela que ,embora os aeróstatos sejam novidades, “podem por si só gerar alguma resistência em aceitação pelo mercado”, e um modelo híbrido solo-ar, se “integrado perfeitamente”, pode ser a “melhor solução para o desafio que se tem nas mãos”.
A World Mobile também está conduzindo experimentos com a tecnologia HAPS — de alta altitude —, mas não aguardará sua conclusão para lançar os balões e a rede WiFi terrestre. “Seria bobo desperdiçar três ou quatro anos pesquisando [e] desenvolvendo a solução de rede completa sem implantar o que sabendo que podemos implantar agora”, diz Watkins.
A importância da conectividade
Sara Ballan, especialista sênior em desenvolvimento digital na World Bank, diz que na Tanzânia, a conectividade tem um impacto econômico a nível pessoal e nacional.
“Para um agricultor, a conectividade pode abrir o acesso a informações meteorológicas, preços de mercado e fluxo de pagamento mais prático. Para a economia, a transformação digital é um motor de crescimento, inovação, criação de empregos e acesso a serviços”, explica. “Liberar esse potencial é importante para a sociedade em geral, mas ainda mais para a crescente população jovem procurando por empregos e oportunidades.”
Ballan observa que a conectividade é somente uma parte da solução: “Estamos otimistas que em alguns anos, inovações [em telecomunicações] vão preencher importantes lacunas de conectividade [na África subsariana] … A acessibilidade ainda é, no entanto, uma questão fundamental, e modelos de negócios inovadores continuarão a ser necessários para conectar as populações pobres.”
O custo da implantação da rede em Zanzibar é bem mais barato do que infraestruturas antigas, afirma Watkins, e a World Mobile visa fornecer conectividade pela metade do preço cobrado pelas operadoras existentes.
A World Mobile recentemente levantou 40 milhões de dólares para o desenvolvimento do software e implantação inicial de sua rede, diz o CEO. A empresa detém a rede e a licença para operação em Zanzibar, mas Watkins espera que o público possa eventualmente comprar até 70% da estrutura de pontos WiFi, operando e realizando a manutenção da infraestrutura e lucrando disso.
É um modelo de negócios incomum, conta Long, em um mercado categorizado por um pequeno número de grandes operações multinacionais.
“Se a World Mobile pode ter sucesso em um mercado assim, no qual já existem alguns grandes operadores, é um bom sinal para o futuro”, sugere Long.
Além das licenças de operações da World Mobile em Zanzibar e Tanzânia, Watkins espera obter licença para o Quênia no começo do ano que vem, com interesse de adentrar mais 18 países. Entrando em um ano crucial para a empresa, Watkins está confiante sobre as perspectivas da World Mobile.
“Se acertarmos na economia compartilhada em Zanzibar, provaremos isso em escala no Quênia e Tanzânia, e então o resto do mundo é nosso”, finaliza.