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    Geleiras estão desaparecendo em ritmo recorde nos Alpes, após ondas de calor na Europa

    Temperaturas na região sobem cerca de 0,3ºC por década — área pode perder 80% da massa atual até 2100

    Emma FargeGloria DickieMichael Shieldsda Reuters

    Pelo jeito como o glaciologista suíço de 45 anos, Andreas Linsbauer, pula sobre fendas de gelo, você nunca imaginaria que ele está carregando 10 quilos de equipamentos de metais necessários para mapear o declínio das geleiras da Suíça.

    Normalmente, ele percorre esse caminho na enorme Geleira Morteratsch nos últimos dias de setembro, o fim da temporada de degelo nos Alpes. Mas derretimentos excepcionalmente altos este ano o levaram a este anfiteatro de gelo com 15 quilômetros quadrados dois meses antes para trabalho de manutenção de emergência.

    Os postes de medição que ele usa para acompanhar mudanças de profundidade estão sob o risco de serem totalmente desalojados à medida em que o gelo derrete, e ele precisa fazer novos furos.

    As geleiras dos Alpes caminham para sofrer a maior perda de massa em pelo menos 60 anos de registros, segundo dados compartilhados exclusivamente com a Reuters.

    Olhando a diferença entre quanta neve caiu no inverno e quanto gelo derreteu no verão, cientistas podem medir quanto uma geleira diminuiu em qualquer ano escolhido.

    Desde o último inverno, que teve nevascas relativamente pequenas, os Alpes passaram por duas grandes ondas de calor no verão — incluindo uma em julho marcada por temperaturas próximas aos 30ºC na vila montanhosa suíça de Zermatt.

    Durante esta onda de calor, a altitude na qual a água congelou foi medida em uma alta recorde de 5.184 metros em comparação com o nível normal do verão, entre 3.000 e 3.500 metros.

    “É muito óbvio que esta é uma temporada extrema”, disse Linsbauer, gritando por cima do rugido da água do degelo, enquanto checava a altura de um poste que se projetava do gelo.

    Montanha derretendo

    A maioria das geleiras do mundo — remanescentes da última era glacial — estão recuando devido às mudanças climáticas. Mas as dos Alpes europeus estão especialmente vulneráveis porque são menores e têm uma cobertura de gelo relativamente pequena.

    Enquanto isso, as temperaturas nos Alpes sobem cerca de 0,3ºC por década — aproximadamente duas vezes mais rápido do que a média global.

    Se as emissões de gases do efeito estufa continuarem a crescer, as geleiras dos Alpes devem perder mais de 80% da sua massa atual até 2100.

    Muitas desaparecerão independentemente de quais ações forem tomadas contra as emissões neste momento, graças ao aquecimento global gerado pelas emissões passadas, segundo um relatório de 2019 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

    Morteratsch já mudou bastante da geleira desenhada em mapas turísticos da região. A longa língua que alcançava o fundo do vale diminuiu em cerca de três quilômetros, enquanto a profundeza da neve e do bloco de gelo diminuiu em até 200 metros. A geleira paralela Pers fluiu a ela até 2017, mas agora recuou tanto que uma faixa de areia cada vez maior fica entre elas.

    A dura situação deste ano aumenta a preocupação de que as geleiras dos Alpes podem desaparecer antes do esperado. Com mais anos como 2022, isso pode acontecer, disse Matthias Huss, que lidera a Glacier Monitoring Switzerland (Glamos).

    “Estamos vendo resultados de modelos esperados para algumas décadas no futuro acontecendo neste momento”, disse Huss. “Eu não esperava ver um ano tão extremo tão cedo neste século.”

     

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