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    Estudo do “lado escuro” do Universo revela 1º pedaço de mapa inédito

    Missão europeia está criando o maior e mais preciso mapeamento em 3D do cosmos já feito

    Ashley Stricklandda CNN

    O poderoso telescópio Euclid capturou milhões de estrelas e galáxias em um deslumbrante novo mosaico — e isso representa apenas a primeira peça de um enorme quebra-cabeça que o observatório foi projetado para resolver.

    A missão da Agência Espacial Europeia (ESA), lançada em julho de 2023, criará o maior e mais preciso mapa 3D do cosmos já feito, com o objetivo de ajudar a responder questões duradouras sobre o “lado escuro” do Universo.

    Os cientistas montaram a primeira peça do mapa, que inclui 208 Gigapixels, a partir de 260 observações feitas entre 25 de março e 8 de abril. No entanto, essa peça representa apenas uma pequena fração da vasta pesquisa que Euclid fará do céu no futuro, medindo a forma, a distância e o movimento de bilhões de galáxias.

    O mosaico, que inclui cerca de 100 milhões de estrelas e galáxias, fez sua estreia em 15 de outubro no Congresso Internacional de Astronáutica em Milão, Itália.

    “Esta imagem impressionante é a primeira peça de um mapa que, em seis anos, revelará mais de um terço do céu. Isso é apenas 1% do mapa, e, ainda assim, está repleto de uma variedade de fontes que ajudarão os cientistas a descobrir novas maneiras de descrever o Universo”, disse Valeria Pettorino, cientista do projeto Euclid na ESA, em um comunicado à imprensa.

    Um dos principais objetivos do Euclid é observar a matéria escura e a energia escura. Embora a matéria escura nunca tenha sido detectada, acredita-se que ela compõe 85% da matéria total do Universo. Enquanto isso, a energia escura é uma força misteriosa que se acredita desempenhar um papel na expansão acelerada do Universo.

    Os astrônomos esperam que as observações do telescópio de milhões de galáxias revelem forças ocultas que fornecem estrutura ao Universo e impulsionam sua taxa misteriosa de aceleração.

    Telescópio Euclides capturou um mosaico abrangendo uma parte do céu noturno visível do Hemisfério Sul da Terra
    Telescópio Euclides capturou um mosaico abrangendo uma parte do céu noturno visível do Hemisfério Sul da Terra • ESA

    Uma nova perspectiva do cosmos

    A ampla perspectiva do Euclid pode registrar dados de uma parte do céu 100 vezes maior do que a câmera do Telescópio Espacial James Webb da Nasa consegue captar. No entanto, as câmeras sensíveis do telescópio também podem capturar detalhes intrincados de muitos objetos celestes ao mesmo tempo.

    Por exemplo, a delicada estrutura de uma galáxia espiral no aglomerado Abell 3381, localizado a 470 milhões de anos-luz de distância, pode ser vista no mosaico, assim como nuvens azul-claras entre as estrelas de nossa galáxia, a Via Láctea.

    A estrutura espiral de uma galáxia dentro do aglomerado galáctico Abell 3381 pode ser vista no mosaico quando o zoom é ampliado 150 vezes
    A estrutura espiral de uma galáxia dentro do aglomerado galáctico Abell 3381 pode ser vista no mosaico quando o zoom é ampliado 150 vezes • ESA

    Essas nuvens “cirrus galácticas”, assim chamadas por se assemelharem às nuvens cirrus na Terra, são uma mistura de gás e poeira — e o Euclid consegue capturar sua fraca luminosidade com sua câmera de luz visível.

    As primeiras imagens do Euclid foram divulgadas em novembro de 2023, mas o telescópio começou a observar o céu regularmente em fevereiro. Até agora, o observatório completou 12% de sua pesquisa.

    “Já vimos belas imagens de alta resolução de objetos individuais e grupos de objetos do Euclid. Este novo registro finalmente nos dá uma amostra da enormidade da área do céu que o Euclid cobrirá, o que nos permitirá fazer medições detalhadas de bilhões de galáxias”, disse Jason Rhodes, cosmologista observacional do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em Pasadena, Califórnia, em um comunicado. Rhodes é o líder científico dos EUA para o Euclid e investigador principal da equipe de ciência de energia escura da Nasa para o Euclid.

    Astrônomos chamaram as nuvens de gás e poeira capturadas no mosaico de nuvens de “cirros galácticos”
    Astrônomos chamaram as nuvens de gás e poeira capturadas no mosaico de nuvens de “cirros galácticos” • ESA

    Buscando evidências do invisível

    Na década de 1920, os astrônomos Georges Lemaître e Edwin Hubble descobriram que o Universo vem se expandindo desde seu nascimento, há 13,8 bilhões de anos.

    Porém, pesquisas iniciadas nos anos 1990 mostraram que algo desencadeou uma aceleração na ampliação cerca de 6 bilhões de anos atrás, e a causa desse fenômeno permanece um mistério.

    Desvendar a verdadeira natureza da energia escura e da matéria escura pode ajudar os astrônomos a entender do que o Universo é feito, como sua expansão mudou ao longo do tempo e se há mais para compreender sobre a gravidade do que aparenta.

    Acredita-se também que esses elementos desempenham um papel na distribuição e no movimento de objetos, como galáxias e estrelas, através do cosmos.

    O Euclid foi projetado para observar bilhões de galáxias que se estendem por 10 bilhões de anos-luz, revelando como a matéria pode ter sido esticada e separada pela energia escura ao longo do tempo.

    Essas observações permitirão à ferramenta visualizar como o Universo evoluiu nos últimos 10 bilhões de anos.

    Durante suas observações, o telescópio catalogará 1,5 bilhão de galáxias e as estrelas dentro delas, coletando um verdadeiro tesouro de dados para os astrônomos, que incluirá a massa de cada sistema e o número de corpos celestes formados por ano.

    As primeiras imagens do Euclid são um vislumbre promissor do mapa mais amplo que será revelado no futuro.

    “O que realmente me impressiona nessas novas imagens é a enorme variação de escala física”, disse Mike Seiffert, cientista do projeto no JPL para a contribuição da Nasa ao Euclid, em um comunicado.

    “As imagens capturam detalhes, desde aglomerados de estrelas próximos a uma galáxia individual até algumas das maiores estruturas do Universo. Estamos começando a ver os primeiros indícios de como serão os dados completos do Euclid quando a pesquisa principal estiver concluída.”

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