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    Criadores de empresas no Instagram criticam mudanças na plataforma

    Instagram prioriza cada vez mais os vídeos e os posts ou publicações recomendados nos feeds dos usuários

    Clare Duffyda CNN , Nova York

    Depois de perder o emprego na área de construção civil no início da pandemia, Kaitlin Tokar decidiu tentar vender alguns dos seus móveis e objetos de casa vintage no Instagram.

    “O negócio decolou mais rápido do que eu esperava”, contou. Sua conta, Midnight Tokar Vintage, angariou quase seis mil seguidores desde o lançamento, em setembro de 2020, e ela abriu uma segunda conta centrada em revenda de roupas. Mesmo com um rol de seguidores relativamente modesto, Tokar, 30 anos e mãe solo em Nova York, conseguiu fazer da loja do Instagram a sua fonte de renda em tempo integral há cerca de um ano.

    Mas, mais recentemente, suas publicações não têm atingido a maior parte de seus seguidores e clientes regulares, o que significa que os itens são vendidos muito mais lentamente. Ela acredita que o problema possa ter algo a ver com alterações recentes na plataforma do Instagram. “As peças simplesmente não estão sendo vistas. Recebo mensagens meses depois de postar algo com gente dizendo algo do tipo ‘Nossa, eu nunca vi isso!’”, contou a empresária.

    Ela não é a única. Com o Instagram priorizando cada vez mais os vídeos e os posts ou publicações recomendados nos feeds dos usuários, num esforço para acompanhar o ritmo do rival TikTok, algumas pequenas empresas que foram criadas na plataforma estão demorando mais para alcançar seus seguidores e enfrentam um engajamento cada vez menor.

    É uma parcela de usuários que se preocupa com o futuro dos seus negócios. Alguns donos de pequenas empresas se juntaram a usuários num abaixo-assinado da organização Change.org que pede “que o Instagram volte a ser o Instagram”. A petição ganhou mais de 300 mil assinaturas desde o início do mês passado. Outros revelaram suas preocupações diretamente na plataforma em posts e stories.

    “Ainda tenho a minha base central de clientes, mas a forma como o Instagram está mudando não me parece mais sustentável, não sinto que posso crescer de verdade”, desabafou Liz Gross, que desde 2011 vende moda vintage na conta Xtabay Vintage. Gross contou que 98% de seu negócio vem da plataforma depois que sua loja física fechou durante a pandemia.

    As preocupações dos micro e pequenos empresários fazem parte de uma reação maior às alterações do Instagram. Alguns usuários dizem que a plataforma está se afastando do seu legado de compartilhamento e dificultando a conexão com as comunidades que eles passaram anos cultivando na plataforma. Muitos usuários reclamaram que, em vez de verem as publicações dos seus amigos no seu feed, têm agora muito mais probabilidade de ver posts, anúncios e sugestões de Reels (a resposta dos Instagram ao TikTok em forma de vídeos curtos) nos quais podem ou não estar interessados.

    Depois de uma onda de resistência no mês passado, incluindo pesos pesados das redes sociais, como as celebridades Kylie Jenner e Kim Kardashian, o Instagram disse que iria temporariamente voltar atrás  em algumas das atualizações.

    O Instagram disse que pausaria a opção de tela inteira que estava testando num esforço aparente para se assemelhar mais ao TikTok, e que reduziria o número de posts recomendados nos feeds dos usuários até conseguir melhorar o algoritmo que prevê o que as pessoas querem ver. Ainda assim, o chefe do Instagram, Adam Mosseri, deixou no ar que os vídeos e as publicações sugeridas permanecem centrais para o futuro da aplicação.

    Em resposta a perguntas relativas às preocupações dos pequenos empresários, Anne Yeh, porta-voz da empresa-mãe do Instagram, a Meta, reiterou que o Instagram está temporariamente reduzindo o número de posts recomendados nos feeds dos usuários em resposta às reclamações.

    “Reconhecemos que as alterações no aplicativo podem ser um ajuste e, embora acreditemos que o Instagram precisa evoluir conforme o mundo muda, queremos ter um tempo para nos certificar de que estamos fazendo isso direito”, declarou Yeh.

    Mosseri disse que a mudança para mais conteúdo recomendado se destina a ajudar os criadores na plataforma, sugerindo que os usuários terão mais probabilidade de descobrir algo que eles ainda não seguiram. No entanto, alguns empresários dizem que é mais importante simplesmente garantir que seus posts cheguem às pessoas que escolheram segui-las.

    “Há pessoas que me escrevem contando que nunca mais viram meus posts e me perguntam se eu ainda posto algo”, contou a empresária de moda Gross, que geralmente postam várias vezes por dia para seus 166 mil seguidores. “Apenas uma minúscula fração das pessoas que me seguem realmente vê-las”.

    Determinar com precisão porque o alcance dos posts flutua em qualquer plataforma pode ser um desafio. O Instagram fornece aos usuários profissionais, como empresas e outros criadores, um painel ou dashboard que mostra o desempenho do seu conteúdo, incluindo o número de contas que visualizaram e se engajaram com os posts.

    De forma parecida, Liz Sickinger, dona da conta Six Vintage Rugs, disse que seus posts sempre geram engajamento de seus seguidores, mas que ultimamente eles são vistos somente por cerca de 5% dos seus seguidores.

    “Como criadora, estou magoada com o tempo passado ali”, confessou a empresária, que abriu uma conta para vender tapetes vintage há quatro anos e tem quase 42 mil seguidores. Ela acrescentou que não tem certeza de que seus posts estejam realmente aparecendo como conteúdo recomendado nos feeds de outros usuários, mas disse que suspeita “que não porque eu não posto muitos vídeos e meu crescimento de conta ficou estagnado”.

    Muitos donos de pequenas empresas também estão frustrados com o foco da plataforma no vídeo e dizem que eles sentem que devem criar vídeos ou Reels no Instagram para que suas publicações sejam vistas.

    “Eu não entrei nesse negócio para fazer brincadeiras”, criticou Tokar. “Demora muito para fazer esse conteúdo, é um trabalho que toma muito tempo.  Dedico minhas horas para buscar fornecedores, fotografar, listar, pesquisar, limpar e entregar… Só isso já é um trabalho em tempo integral”.

    As contas podem pagar para “impulsionar” seus posts para que eles possam aparecer como patrocinados em feeds de mais usuários. Segundo empresários, essa parece ser uma das únicas maneiras de garantir o engajamento com fotografias. Sickinger disse que seu gasto com anúncios dobrou no ano passado “porque o alcance orgânico está morto”.

    Para Gross, que disse que os posts patrocinados ajudaram a aumentar o número de seguidores ao longo dos anos, ter que pagar agora para ser visto parece injusto. “O que há de bom em não ser visto pelas pessoas pelas quais eu já paguei para ser vista no início?”, questionou.

    As empresas e o comércio eletrônico são essenciais para a estratégia de crescimento futuro do Instagram e, nos últimos anos, o aplicativo introduziu uma crescente lista de funcionalidades de compras.

    O Instagram incentiva os empresários a utilizarem todas suas funcionalidades, incluindo Stories, lives, posts e Reels, para garantir que os seguidores vejam e interajam com o seu conteúdo.

    A empresa também oferece treinamentos para donos de pequenas empresas na plataforma, incluindo eventos presenciais em algumas cidades. A Meta afirma que mais de 200 milhões de empresas de todo o mundo utilizam os seus serviços todos os meses, embora não tenham um número separado para o Instagram.

    Tendo em conta o enorme alcance do Instagram, sair é difícil, tanto para usuários como para empresas. Mas alguns empresários dizem que estão considerando expandir para outras plataformas por causa das mudanças. Tokar, que abre esta reportagem, disse que começou a fazer algumas vendas nos sites de comércio eletrônico Depop e Etsy, e não está mais contando só com a loja para toda a sua renda. Já Sickinger, dos tapetes, disse que sua “salvação” foi a capacidade de alcançar seus clientes fiéis através de uma lista de e-mail.

    Ainda assim, não há forma de transferir facilmente os seguidores de uma conta do Instagram para outros lugares, e outras plataformas têm frequentemente taxas e políticas que podem tornar as vendas mais complicadas do que no Instagram.

    “Me tira o sono não saber outras formas de chegar às pessoas”, falou Gross, que vende roupas. “Eu poderia ir para o Twitter. Mas, visualmente, o apelo do Instagram foi sempre relacionado a uma imagem que você viu, e perder isso é muito impactante”.

    Sickinger, dos tapetes, completou: “O meu negócio não seria o que é hoje sem essa plataforma, e é por isso que estou tão preocupada. Quero que eles entendam quem o usuário é de fato, mas não acho que estejam fazendo isso”.

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