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    Cientistas contestam alegação de Elon Musk sobre implante para turbinar visão

    Estudo sugere que o novo implante da Neuralink não é capaz de dar visão superpotente aos usuários, apenas restaurar em níveis imperfeitos

    Lucas Guimarãescolaboração para a CNN

    O bilionário Elon Musk anunciou que um novo implante da Neuralink, chamado Blindsight, possibilitaria a restauração da visão e poderia permitir uma resolução superior à da visão humana normal. Contudo, um estudo recente publicado na revista Scientific Reports contesta a alegação e explica os motivos de o implante não poder fazer o que promete.

    Em uma mensagem publicada no X (antigo Twitter), o CEO da SpaceX e da Tesla afirmou que o Blindsight já está funcionando em testes realizados em macacos. Ele explica que a resolução será baixa no começo do projeto, mas que “no final poderá exceder a visão humana normal“. Para os pesquisadores do artigo, o pronunciamento é irrealista, perigoso e parte de uma premissa falha.

    O novo chip da Neuralink promete restaurar a visão com uma qualidade que superaria a visão humana normal por meio de um implante cerebral composto por milhões de pequenos eletrodos conectados ao córtex visual.

    Após uma série de simulações usando a mesma técnica, os cientistas afirmam que o Blindsight não seria capaz de alcançar a qualidade mencionada por Musk. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington (UW).

    “Engenheiros frequentemente pensam em eletrodos como produtores de pixels. Mas não é assim que a biologia funciona. Esperamos que nossas simulações baseadas em um modelo simples do sistema visual possam dar uma ideia de como esses implantes vão funcionar. Essas simulações são muito diferentes da intuição que um engenheiro pode ter ao pensar em termos de pixels em uma tela de computador”, disse a autora principal do estudo e professora de psicologia da UW, Ione Fine, em comunicado.

    Implante pode restaurar a visão?

    Os pesquisadores criaram um modelo computacional que simulou diversos estudos sobre o córtex: o resultado sugere que que a experiência de restauração da visão não será tão poderosa. Fine explica que o cérebro não reproduz imagens em pixels, como em telas, então a conexão de um eletrodo não representa a geração de um pixel.

    O modelo computacional utilizou dados de animais e humanos para produzir diferentes unidades virtuais de pacientes que mostram detalhes da estimulação elétrica por eletrodos no córtex visual.

    Por exemplo, uma dessas simulações produziu uma imagem com 45 mil pixels, o que resultou em uma qualidade cristalina; por outro lado, quando foi simulada a representação de 45 mil eletrodos implantados no córtex visual de uma pessoa, a imagem aparece completamente borrada.

    À esquerda, é mostrado o resultado de uma imagem com 45 mil pixels; à direita, está a mesma imagem na simulação de 45 mil eletrodos conectados a um córtex visual.
    À esquerda, é mostrado o resultado de uma imagem com 45 mil pixels; à direita, está a mesma imagem na simulação de 45 mil eletrodos conectados a um córtex visual.  (Crédito: Ione Fine / Universidade de Washington)

    Diferentemente dos pixels, o córtex visual do nosso cérebro representa as imagens por meio de milhares de neurônios. Não adiantaria conectar milhares de eletrodos entre o cérebro e um chip se não houver nenhuma mudança na maneira como a informação é representada pelos neurônios em uma área do cérebro chamada campo receptivo.

    Os cientistas concluem que a Neuralink está realmente possibilitando avanços na área e que o Blindsight será considerado inovador se conseguir oferecer visão turva para pacientes sem nenhuma visão, mas ainda está muito distante de oferecer visão completa.

    Seria necessário recriar um código neural entre milhares de células para restaurar e oferecer uma visão completa. Por enquanto, os cientistas não têm ideia de como encontrar o código neural correto em pessoas com deficiência visual; sem essa reprogramação dos neurônios, tanto o implante da Neuralink quanto os de outras empresas continuarão oferecendo uma qualidade de visão imperfeita.

    “Muitas pessoas ficam cegas tarde na vida. Quando você tem 70 anos, aprender as novas habilidades necessárias para prosperar como um indivíduo cego é muito difícil. Há altas taxas de depressão. Pode haver desespero para recuperar a visão. A cegueira não torna as pessoas vulneráveis, mas ficar cego tarde na vida pode tornar algumas pessoas vulneráveis. Então, quando Elon Musk diz coisas como, ‘Isso vai ser melhor do que a visão humana’, isso é algo perigoso de se dizer”, Fine acrescenta.

     

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