Atlas, o cometa que se esfarelou, tem uma longa história com a Terra
Um cometa intrigou os astrônomos com sua primeira aparição em nosso céu no final de 2019 -- e causou ainda mais surpresa ao se desintegrar em 30 minúsculos fragmentos de gelo meses depois
Um cometa intrigou os astrônomos com sua primeira aparição em nosso céu no final de 2019 — e causou ainda mais surpresa ao se desintegrar em 30 minúsculos fragmentos de gelo meses depois.
Agora, as observações feitas enquanto o cometa, denominado Atlas, ainda estava intacto, revelaram detalhes sobre a “família” do cometa, que remonta a milhares de anos.
O Atlas foi detectado pela primeira vez pelo Sistema de Alerta Último de Impacto Terrestre de Asteroide (cujas iniciais em inglês formam a sigla Atlas), que é operado pela Universidade do Havaí, em 28 de dezembro de 2019.
Remanescente de outro cometa
Quanzhi Ye, um astrônomo da Universidade de Maryland trabalhando no Havaí, observou o cometa usando o Telescópio Espacial Hubble.
Ye e seus colegas usaram os achados para determinar que o Atlas era, na verdade, um remanescente de outro cometa que provavelmente riscou nosso céu há 5 mil anos.
O cometa antigo chegou a 37 milhões de quilômetros do Sol, mais perto do que Mercúrio está de nossa estrela, e civilizações da Idade da Pedra em todo o Norte da África e Eurásia provavelmente o viram no céu. O estudo foi publicado em julho no “Astrophysical Journal”.
Não há registros desse avistamento, mas estudar cometas da maneira que Ye e sua equipe fizeram com o ATLAS ajuda a rastrear suas origens. Na verdade, a órbita do Atlas em torno do Sol seguiu uma trilha semelhante à de outro cometa observado em 1844, o que sugere que ambos eram “irmãos” que vieram de um cometa pai que se partiu séculos antes.
A conexão entre o cometa Atlas e o de 1844 foi feita originalmente pelo astrônomo amador Maik Meyer.
Não é incomum um cometa se dividir em uma “família”. Vários telescópios, incluindo o Hubble, e até a espaçonave Galileo estavam focados em Júpiter em julho de 1994 quando o cometa Shoemaker-Levy 9 foi destruído pela atração gravitacional do gigante gasoso.
Ele formou um “trem de cometas” feito de seus fragmentos, criando uma trilha no espaço.
Morte do cometa
A morte do cometa foi prevista por astrônomos. Eles assistiram enquanto pedaços dele caíram em Júpiter, criando uma bola de fogo espetacular e deixando cicatrizes no enorme planeta que foram visíveis por meses depois.
O cometa Atlas é diferente, tendo se desintegrado quando estava mais distante do Sol do que a Terra — diferentemente de seu cometa original, que estava mais perto do Sol quando se dividiu.
“Se ele se separou tão longe do Sol, como sobreviveu à última passagem ao redor do Sol há 5 mil anos? Esta é a grande questão”, disse Ye em um comunicado.
“O fato é muito incomum, porque não esperávamos. Esta é a primeira vez que um membro da família de cometas de longo período foi visto se separando antes de passar mais perto do Sol.”
Quando os astrônomos assistem a um cometa se quebrar em pedaços, também podem determinar como ele se formou. Os cometas são gigantescas bolas de neve sujas, feitas de poeira e gelo, que vêm da borda do sistema solar.
Uma parte do cometa Atlas se partiu em poucos dias, enquanto outro fragmento sobreviveu por semanas.
“Isso nos diz que uma parte do núcleo era mais forte do que a outra”, explicou o astrônomo.
É possível que o cometa tenha sido despedaçado pelo material que estava ejetando, ou pode ter explodido como um fogo de artifício.
“É complicado, porque começamos a ver essas hierarquias e a evolução da fragmentação do cometa. O comportamento do cometa Atlas é interessante, mas difícil de explicar”, admitiu Ye.
Enquanto isso, o irmão do cometa Atlas, aquele observado em 1844, não será visível em nossos céus novamente até o século 50.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês).