Astronauta Michael Collins, piloto da primeira missão à Lua, morre aos 90 anos
Piloto do módulo de comando lutava contra um câncer
Michael Collins, o astronauta da Nasa que pilotou o módulo de comando da missão Apollo 11 à Lua, morreu aos 90 anos após lutar contra o câncer.
Sua família compartilhou a notícia nesta quarta-feira (28) na página de Collins no Facebook. “Lamentamos compartilhar que nosso amado pai e avô faleceu hoje, após uma batalha valente contra o câncer”, diz o comunicado.
A Nasa, onde Collins construiu sua carreira, lamentou a morte do astronauta. Durante a missão Apollo 11, Collins permaneceu sozinho no interior da nave espacial por mais de 20 horas enquanto seus colegas caminhavam na Lua pela primeira vez. Na época, ele ficou conhecido como “o homem mais solitário da história”.
“Ele passou seus últimos dias em paz, com sua família ao seu lado. Mike sempre enfrentou os desafios da vida com graça e humildade e enfrentou este, seu último desafio, da mesma forma. Sentiremos muita falta dele. Mas também sabemos quanta sorte Mike teve por ter vivido a vida que ele viveu. Honraremos seu desejo de celebrar, e não lamentar, essa vida. Junte-se a nós para relembrar com ternura sua alegria e sua inteligência, seu senso de propósito e sua sabedoria, obtida tanto ao olhar para a Terra a partir do espaço quanto ao contemplar as águas calmas do convés de seu barco de pesca”, diz a família.
A Nasa, onde Collins passou sete anos de sua carreira como astronauta, divulgou um comunicado sobre o falecimento de Collins.
“Hoje, a nação perdeu um verdadeiro pioneiro e defensor da exploração (espacial), o astronauta Michael Collins”, dizia o comunicado. “Ele foi piloto do módulo de comando da Apollo 11 e alguns o chamavam de ‘o homem mais solitário da história’. Ele ajudou nossa nação a atingir um marco decisivo, quando seus colegas caminharam na Lua pela primeira vez. Ele também se destacou no Programa Gemini e como piloto da Força Aérea”.
A Nasa citou ainda as falas de Michael em campanha a favor da exploração espacial. O astronauta disse que “a exploração não é uma escolha, mas, na verdade, um imperativo”. A agência lembrou ainda sua proposta de colocar a humanidade para refletir sobre “que tipo de civilização nós, terráqueos, criamos”, e sobre como seria “levar essa civilização para outras partes da galáxia”.
Buzz Aldrin, ex-astronauta da NASA e piloto do módulo lunar da missão Apollo 11, compartilhou sua tristeza com a morte de Collins. “Caro Mike, onde quer que você esteja, você sempre terá a força para nos levar habilmente a novas alturas e ao futuro. Sentiremos sua falta. Que você descanse em paz. #Apollo11”, escreveu Aldrin no Facebook.
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Collins naturalizou-se americano, mas nasceu na Itália. Ele tornou-se piloto da Força Aérea e depois astronauta do programa Gemini. Foi o terceiro americano a realizar uma caminhada no espaço, de acordo com a Nasa. Incluindo a missão Apollo 11, Collins passou 266 horas no espaço.
Em 2019, o astronauta conversou com o especialista em assuntos médicos e de saúde da CNN, Sanjay Gupta, e comentou sobre o 50º aniversário da histórica missão Apollo 11.
Collins lembrou de quando era criança, que olhava para o céu e via “as coisas mais maravilhosas lá em cima” e como gostaria de saber mais sobre elas, disse o astronauta. Foi quando ele soube que queria voar.
Tornando-se um astronauta
Collins veio de uma família de militares. Seu pai e seu irmão eram generais do Exército dos Estados Unidos e seu tio era o chefe do Estado-Maior do Exército. Mas ele decidiu “debandar” para a Força Aérea dos Estados Unidos.
Em 1961, Collins era aluno da Escola de Pilotos de Teste da Força Aérea dos EUA na Base Aérea de Edwards, na Califórnia. Naquele ano, o presidente John F. Kennedy disse que os Estados Unidos colocariam um homem na Lua até o final da década e o devolveriam em segurança à Terra, Collins se apegou fortemente àquilo.
Collins e cerca de 80% de seus colegas eram “entusiastas” da ideia de ir à Lua, lembrou Gupta. A Nasa e seus programas como Mercury, Gemini e Apollo eram atraentes para militares, e o programa espacial era uma espécie de promoção. Os outros 20% dos militares preferiam voar e testar novos aviões para a Força Aérea em vez de ficarem “presos em uma cápsula e disparados como uma munição”, disse Collins.
Ele foi piloto de caça por quatro anos, se formou na escola de voo aos 22 anos. Foi reprovado na primeira vez que se inscreveu no programa espacial. Ele diz que há 15 ou 20 razões pelas quais ele pode ter sido reprovado, mas ele gostava de contar a história do famoso acidente com os borrões de tinta de Rorschach durante seu exame psiquiátrico.
“Folheei uma série inteira deles, e o último era uma folha de papel em branco, branco puro, 8 por 10”, disse ele. “’Aqui, então, o que você vê?’ Eles perguntaram. Eu disse, ‘bem, é claro que são onze ursos polares fornicando em um banco de neve.’ E pude ver os olhos do examinador meio apertados. Ele não achou isso engraçado. Ele não gostava que as pessoas zombassem da sua coleção de papeis. De qualquer forma, por alguma razão, fui reprovado. No ano seguinte, (na mancha de tinta) eu vi minha mãe e meu pai, e meu pai era um pouco maior e mais autoritário, mas não muito mais do que minha mãe, e eu passei. “
Collins foi selecionado como parte da terceira classe de astronautas, em 1963. Sua primeira missão foi a Gemini 10. A segunda foi a Apollo 11.
Os seis anos entre 1963 e 1969 voaram. Collins e seus colegas astronautas trabalharam duro, acordando cedo e negligenciando as folgas nos fins de semana. Eles raramente viam suas famílias enquanto viajam de uma costa a outra dos Estados Unidos, visitando instalações onde partes da espaçonave estavam sendo fabricadas.
Eles participaram de aulas para aprender tudo sobre a espaçonave na qual estariam voando e passaram incontáveis ??horas em simuladores que replicavam suas missões para reduzir toda possibilidade de erro.
Apesar da dedicação extrema que uma carreira dessa exige, Collins disse que aptidões físicas não são exatamente um requisito com o qual a Nasa se preocupa. Os astronautas faziam exames completos antes de serem aceitos no programa, testando seus sentidos e capacidades. Mas depois disso, a aptidão física cabia ao indivíduo manter.
“Fizemos um exame físico anual no qual tínhamos que ser aprovados, e era um exame extremamente rigoroso. Eles designavam dois cirurgiões para cada um de nós, e um olhava nesta orelha, e o outro olhava naquela. Não precisa se virar, vocês passaram”, brincou. “Esse foi o exame físico que a Nasa nos ofereceu, e eles exigiam que realmente fizéssemos tudo o que sentíamos que deveríamos fazer em relação ao nosso próprio condicionamento físico.”
Na época, um dos requisitos para se tornar um astronauta era a graduação em uma escola de pilotos de teste credenciada. Os pilotos de teste estavam acostumados com o estresse mental e o perigo físico. Collins acreditava que a Nasa estava mais focada nesses aspectos, mentais, do que exatamente no vigor físico dos astronautas. A prioridade da agência era garantir que os astronautas pudessem operar uma máquina complexa que estaria se distanciando da Terra a 250 mil quilômetros pela primeira vez.
Apollo 11
Collins soube que se juntaria a Buzz Aldrin e Neil Armstrong na Apollo 11 durante uma ligação de Deke Slayton, que tinha histórico como piloto de avião na 2ª Guerra Mundial e de astronauta do Mercury Seven, além de ter sido o primeiro chefe do Astronaut Office, da Nasa.
Slayton ligou para Collins e perguntou: “Ei, você ainda quer fazer isso?”
“Absolutamente!”, Collins respondeu. “Você pode acreditar!”
O dia do lançamento, em 16 de julho de 1969, chegou rapidamente.
Os membros da missão sabiam que as chances de falha em algum lugar eram relativamente altas, mas estavam otimistas quanto à sobrevivência, disse Collins.
Collins costumava ser chamado de “o homem mais solitário” ao retornar à Terra, mas não se sentia assim — mesmo quando perdeu o contato com o Controle da Missão durante seus voos no outro lado da lua. Enquanto Armstrong e Aldrin estavam ocupados pousando, preparando experimentos e coletando amostras da superfície lunar, Collins teve que manter todos os subsistemas funcionando no módulo Columbia sozinho.
“Era um lar feliz. Eu gostava do Columbia”, disse ele. “Me lembrava, de certa forma, uma catedral. Tinha a abóbada, os bancos, e então você descia para onde estava o altar. Esse era o sistema de orientação e navegação. Tinha música que para ouvir, se quisesse. Havia pessoas com quem conversar no rádio, às vezes muitas pessoas falando demais no rádio. Então, gostei daquele interlúdio. Estar sozinho em uma máquina no ar em algum lugar não era desconhecido para mim, então tudo estava funcionando bem dentro do Columbia, e eu gostava disso. “
Quando os três astronautas se reuniram novamente, Collins quis comemorar, mas ainda tinham muito o que fazer. A cadeia de acontecimentos entre sair da Lua e chegar à Terra é complexa e frágil e Collins preferiu que ela chegasse ao fim para que ele comemorasse devidamente.
“Lembro que ia agarrar Buzz pelos ombros e beijá-lo na testa, e então decidi: ‘Não, isso não está certo. Eu apertei sua mão, dei um tapinha nele ou algo assim. E Neil, eu nem me incomodei em tocar em Neil quando ele apareceu. Era isso. Nós não dissemos ‘oh, você pousou em outro planeta’ ou qualquer coisa assim.”
Após o voo bem-sucedido da Apollo 11, Collins viu o outro lado de Armstrong enquanto os três astronautas embarcavam em uma viagem ao redor do mundo para falar sobre suas experiências.
“Ele foi simplesmente incrível”, lembra Collins. “Ele se aprofundava nos detalhes dessa coisa e daquela, e onde quer que fôssemos, ele selecionava detalhes que atraíam a população local, e você podia ver quando ele terminou seu pequeno discurso introdutório, eles quase sentiram como se estivessem a bordo conosco.
“Foi um feito incrível, e acho que ele muitas vezes é esquecido de certa forma”, avaliou, de pronto, mas, depois, corrigiu. “Primeiro Homem…ele não é esquecido, mas o que as pessoas talvez não sabem sobre o Primeiro Homem é que ele foi um defensor maravilhoso das virtudes do Estados Unidos e conta essas virtudes por todo o globo. “
Os três astronautas não mantiveram contato próximo depois, principalmente porque Collins morava em Washington, Armstrong morava em Ohio e Aldrin se mudara várias vezes. Apesar da distância, os três se mantiveram juntos como representantes da profecia de Kennedy.
Vida depois da Apolo
A Apollo 11 foi o momento de maior orgulho da vida de Collins. Ele pode não ter tido o melhor assento na Apollo 11, mas estava feliz com o assento que tinha, disse ele. Ele se sentiu privilegiado por estar ali.
Seu maior lamento foi por aqueles que não puderam estar lá, como pilotos que morreram em acidentes de treinamento ao longo do caminho, os astronautas da Apollo 1 e seu amigo Charlie Bassett, que morreu em um acidente de avião. “Eu pensei ‘cara, ele estaria bem no topo da lista de quem iria primeiro à lua.’ Então, eu me lamento desse aspecto.”
Após seu retorno, Collins se aposentou da Nasa, querendo passar mais tempo com sua família. “Pat e eu assumimos um tipo de vida totalmente diferente”, disse ele.
“Achei que tinha feito a coisa do espaço no mais alto nível”, disse ele. “Fiz um discurso em uma sessão conjunta do Congresso e o Secretário de Estado, Bill Rogers, gostou e envolveu o presidente Nixon. E então, quando me dei conta, recebi uma oferta de emprego como secretário de Estado adjunto”, conta.
Pouco menos de dois anos depois, Collins foi convidado para o cargo de diretor do Museu Nacional do Ar e Espaço do Instituto Smithsonian, que, quando Collins assumiu era apenas “um terreno baldio e um buraco no chão”, como ele dizia.
Collins correu 50 milhas quando completou 50 anos e completou várias provas de triatlo ao longo da sua vida. Quando Gupta falou com ele, em 2019, Collins ainda falava sobre as virtudes dos exercícios e da dieta mediterrânea.
Se há uma pergunta que ele se cansou de ouvir depois de todos esses anos, é “como foi lá em cima?”. A repetição dessa pergunta é parte do motivo pelo qual ele escreveu seu livro de 1974, Carrying the Fire, que foi relançado no aniversário da Apollo.
Uma das coisas que ele conta sobre como foi estar lá em cima é a vista. Ver a lua de perto foi espetacular, mas ele dizia que a visão da Terra não parava de chamar a atenção dos astronautas.
“Eu disse ‘Ei, Houston, o mundo está na minha janela'”, disse Collins. “E o mundo fica mais ou menos do tamanho de uma miniatura se você segurá-la com o braço estendido à sua frente. Todo o foco de sua atenção vai para essa coisinha lá fora. Está em um vazio negro, o que torna suas cores ainda mais impressionantes. Primeiramente, você flagra o azul dos oceanos, o branco das nuvens, você obtém uma pequena faixa de bronze que chamamos de continentes, mas eles não são tão perceptíveis. É simplesmente glorioso!”
Mas Collins percebeu algo único sobre sua perspectiva do nosso planeta natal a partir do espaço.
“Estranhamente, parece frágil de alguma forma”, disse ele. “Você quer cuidar. Você quer alimentar. Você quer ser bom para ele. Toda a beleza… É maravilhoso, minúsculo, é a nossa casa, tudo que eu conhecia, mas era também frágil, estranho.”
Samantha Bresnahan e Amanda Sealy da CNN contribuíram para esta reportagem.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês)