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    ‘Xepa’, descarte e filas marcam primeira semana de vacinação para idosos no Rio

    Primeira semana de vacinação de idosos no Rio de Janeiro terminou com um acumulado de pelo menos 302 denúncias feitas ao Ministério Público

    Pedro Duran e Adriana Freitas, da CNN, no Rio de Janeiro

    A primeira semana de vacinação de idosos no Rio de Janeiro terminou com um acumulado de pelo menos 302 denúncias feitas ao Ministério Público do estado.

    O órgão já abriu 20 procedimentos administrativos, três inquéritos civis e um procedimento investigatório criminal. As principais reclamações são de lugares onde as prioridades definidas pelo Ministério da Saúde não foram respeitadas no momento da vacinação.

    Enquanto isso, a capital fluminense e o estado tentam lidar com o direcionamento das sobras da vacina. Logo no início da vacinação, a CNN revelou a formação de filas depois do horário regular de funcionamento dos postos, no que ficou conhecido como a ‘xepa da vacina’.

    Nessa sexta-feira (5), o secretário estadual de Saúde, Carlos Chaves, voltou a afirmar que mudaria a orientação para os profissionais da campanha, sugerindo abrir frascos com dez doses apenas quando houverem dez pessoas do grupo prioritário na fila.

    “Eu quero saber quantas sobraram! Quantas sobraram?”, questionava uma senhora que esperava as sobras do primeiro dia em um posto de Copacabana, na zona Sul do Rio. Em um posto no Catete, cerca de 15 pessoas esperavam pelas sobras na última terça-feira (2).

    “Meu marido vai esperar a data dele, não vamos passar mais por isso”, afirmou a professora Lucia Palatinick. “Bagunça. Só posso definir em bagunça, é uma zona”, diz a engenheira Renata Salvador de Medeiros.

    A vacina sobra porque os frascos do laboratório AstraZeneca têm dez doses. Essas doses tem que ser utilizadas até seis horas depois que o frasco for aberto, se não a vacina estraga.

    A orientação da secretaria municipal de Saúde do Rio de Janeiro tem sido trocar a vacina de Oxford pela do Instituto Butantan próximo ao fim da tarde, porque a coronavac vem com uma dose por frasco.

    O problema é que isso só aconteceu na primeira remessa. Daqui pra frente, da mesma forma que a vacina de Oxford, a vacina do Butantan também terá dez doses a cada frasquinho.

    Na capital fluminense, a secretaria da saúde orientou que as pessoas respeitem o cronograma.

    “A gente faz um apelo pra que as pessoas não procurem a unidade de saúde pra xepa da vacina. A recomendação é que a unidade abra os frascos unidoses e não deixe sobrar. Se isso acontecer, a unidade já tem uma programação de idosos daquele território pra serem vacinados”, afirmou à CNN o secretário municipal da Saúde, Daniel Soranz.

    O principal receio das autoridades de saúde é que a vacina vá para o lixo. A CNN colheu relatos de funcionários que apontaram o descarte da vacina tanto no Hospital de Bonsucesso quanto em uma clínica da família, ambos pontos de distribuição da vacina para profissionais da saúde e idosos.

    “É, [foram descartadas] entre quatro e seis doses. Quando eu tentei me vacinar na clínica da família, que é da prefeitura, foi passado que a ordem era desprezar as doses que sobrassem no frasco”, disse uma funcionária de uma clínica pública à CNN.

    “A regra é muito clara. Todos os profissionais de saúde sabem: não descartar vacina. Então, sempre abrir no final do dia frascos unidoses, não abrir frascos de dez doses no final do dia. E se for abrir um frasco de dez doses, já planejar em quem aplicar essas vacinas. De preferência, em pessoas idosas e pessoas dentro do grupo idosos acima de 60 anos”, diz Soranz.

    Na visão de especialistas consultados pela CNN, o governo deveria rever a estratégia antes do problema ficar ainda pior.

    A sanitarista e epidemiologista Gulnar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), sugere uma série de medidas que poderiam auxiliar a prefeitura: “expandir o horário do atendimento dos postos de saúde, cadastrar as pessoas que não tem condição de chegar às unidades de vacinação, utilizar veículos de outros órgãos públicos como corpo de Bombeiros e do próprio Samu para que as equipes de saúde possam visitar os domicílios, melhorar a comunicação explicando muito claramente quais são os lugares de vacinação, como deve ser o cadastramento das pessoas e revisar o agrupamento no calendário”.

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