Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Dia Mundial do Vitiligo: doença não é transmitida entre pessoas; mitos reforçam discriminação

    Manchas provocadas pela condição levam à discriminação, que pode prejudicar a qualidade de vida e saúde mental dos pacientes

    Vitiligo é uma manifestação não contagiosa, autoimune e que pode ser causada por diversos fatores
    Vitiligo é uma manifestação não contagiosa, autoimune e que pode ser causada por diversos fatores Catherine Falls Commercial/Getty Images

    Lucas Rochada CNN

    Em São Paulo

    A despigmentação provocada pela ausência ou diminuição da melanina leva à característica principal do vitiligo: as manchas na pele.

    Embora a doença não ofereça limitações físicas ou cognitivas e também não seja transmitida de uma pessoa para outra, a desinformação e o preconceito contribuem para o estigma associado à condição.

    O Dia Mundial do Vitiligo, celebrado neste domingo (25), promove a conscientização sobre o tema, destacando que o entendimento errôneo de que o vitiligo é contagioso contribui para a discriminação dos pacientes.

    Entenda o que é o vitiligo

    O vitiligo é uma manifestação não contagiosa, autoimune e que pode ser causada por diversos fatores. Embora as causas não sejam totalmente esclarecidas pela comunidade científica, o surgimento pode estar relacionado a uma predisposição genética.

    Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, fatores externos podem contribuir para o aparecimento ou agravamento das manchas que decorrem da perda gradativa da pigmentação devido à formação de linfócitos T que destroem os melanócitos, células responsáveis pela produção de melanina no organismo.

    A dermatologista Renata Janones, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), afirma que o desenvolvimento da doença também pode ser influenciado por fatores genéticos e impactos emocionais.

    “Existe uma predisposição genética: cerca de 30 a 40% dos indivíduos com diagnóstico de vitiligo conseguem identificar um histórico familiar. Como qualquer doença autoimune, não sabemos exatamente o fator que a desencadeia. Pode ser uma infecção ou estresse emocional, como a perda de um parente ou mudança de cidade”, explica.

    O vitiligo afeta homens e mulheres de qualquer etnia e de todas as idades.

    “Os sinais costumam aparecer, em média, aos 24 anos. Dados de prevalência podem se diferenciar de um país para outro. Nos países anglo-saxões, em média, 1% desenvolvem a doença, já no Brasil, 0,5% da população manifesta a condição, enquanto na China esse percentual chega a 0,1% e na Índia a 5%”, afirma o dermatologista Caio Castro, especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

    O vitiligo pode se apresentar em pelo menos seis formas clínicas:

    • Focal: manchas pequenas em uma área específica do corpo;
    • mucosal: manchas somente nas mucosas, como lábios e região genital;
    • segmentar: manchas distribuídas unilateralmente, apenas em uma parte do corpo;
    • crofacial: manchas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e genitais;
    • comum: manchas no tórax, abdome, pernas, nádegas, braços, pescoço, axilas e demais áreas acrofaciais;
    • universal: manchas espalhadas por quase todas as regiões do corpo.

    Impactos para a saúde mental

    O psicólogo Leonardo Alves, do Centro de Tratamento do Vitiligo, no Rio de Janeiro, afirma que as manchas na pele ocasionadas pelo vitiligo são causa de quadros de ansiedade constante.

    “O vitiligo não dói, não coça, não arde e não apresenta nenhum risco real à integridade física do paciente. O que, na maioria das vezes, acontece é um quadro onde o doente sofre um abalo em sua autoimagem, e essa sim pode ser uma enorme fonte de sofrimento”, afirma. “É correto dizer que os sintomas psicológicos são os que mais afetam quem sofre com a doença. A vida da pessoa passa a girar em torno das manchas e os sentimentos mais comuns são: angústia, fobia social e depressão”, completa.

    O especialista recomenda o reforço da autoestima dos pacientes, com abordagens que possam ressignificar a relação do indivíduo com as próprias manchas.

    “Qualquer que seja a abordagem utilizada, o acompanhamento psicológico contribui no acolhimento do sofrimento do paciente. É importante oferecer condições de focar no futuro e envolver-se plenamente no próprio tratamento. Apresentar ferramentas para administrar os enfrentamentos sociais que a doença pode trazer. E, principalmente, dar a chance do paciente falar e elaborar seus sentimentos de modo franco e genuíno, permitindo que suas emoções se expressem por seu discurso e não por manchas em sua pele”, diz Alves.

    Como é feito o diagnóstico

    Em geral, os pacientes com vitiligo apresentam como sintoma apenas as manchas brancas na pele. Em alguns casos, pode haver sensibilidade e dor na área das lesões. O diagnóstico deve ser realizado por dermatologistas durante a consulta clínica.

    “O diagnóstico clínico é feito, a princípio, a olho nu, apenas com o auxílio de uma lâmpada especial. Quando há dúvidas, é realizada biópsia das lesões, já que as manchas do vitiligo podem se confundir com as de outras doenças de pele, como a micose fungoide hipocromiante ou lúpus discoide”, diz Castro.

    A médica Renata Janones afirma que as manchas não apresentam sinais como irritação ou coceira. Além disso, a doença não provoca outros sintomas, como adoecimento ou perda de função.

    “Os lugares mais comuns são ao redor dos olhos, nas pálpebras, perto da boca e nos genitais. As manchas também podem aparecer nas extremidades, nas mãos e nos pés, embora possam acontecer em qualquer lugar”, explica Renata.

    Cuidados básicos e tratamento do vitiligo

    O vitiligo não tem cura, mas tem controle. Abordagens terapêuticas podem ser utilizadas a partir da avaliação do perfil do paciente pelo médico dermatologista.

    Entre as terapias disponíveis para o controle da doença estão o uso de medicamentos que induzem a repigmentação da pele afetada, cremes à base de corticoides e outros anti-inflamatórios, tecnologias como laser e fototerapia, além de cirurgia e transplante de melanócitos.

    “Com a ajuda médica, fazendo uso de medicamento e terapias reconhecidos cientificamente, alguns pacientes podem repigmentar a áreas afetadas ou mesmo despigmentar o corpo por inteiro”, afirma Castro.

    Além do tratamento, os pacientes devem seguir uma rotina de cuidados que envolve principalmente a prevenção à exposição das áreas afetadas ao sol. As orientações incluem o uso de protetor solar (com fator de proteção acima de 50), além de roupas e acessórios como chapéus e bonés que protejam a pele.

    “Os pacientes dessa condição têm uma maior tendência de envelhecimento na pele, em especial nas áreas despigmentadas, além de maior propensão a sentir os efeitos de ‘queimaduras’ no local por conta de exposição excessiva ao sol”, diz Castro.