Visão Responde: médico tira dúvidas sobre vacinas e tratamentos da Covid-19
Segundo o infectologista da Unesp, são necessários dois itens fundamentais para a comercialização de uma vacina: eficácia e segurança comprovadas
Alguns especialistas dizem que teremos uma vacina contra a Covid-19 em 2021. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por exemplo, tem anunciado a vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan — chamada Coronavac — para janeiro do ano que vem. Já a Rússia diz preparar uma campanha de vacinação em massa contra a doença a partir de outubro deste ano.
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (6), Alexandre Naime Barbosa, infectologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirmou que é preciso ter cautela antes de divulgar prazos. Segundo ele, são necessários dois itens fundamentais para a comercialização de uma vacina: eficácia e segurança comprovadas.
“Portanto, qualquer previsão de entrega de um produto com menos de seis meses a um ano é uma promessa que pode ser um discurso político ou ainda a possibilidade de colocar no mercado uma vacina sem que a eficácia e a segurança estejam garantidas”, explicou.
De acordo com o infectologista, ainda não se tem muito conhecimento sobre a vacina que a Rússia vem desenvolvendo. No entanto, afirmou que tanto a Coronavac quanto a que está sendo produzida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e conta com a parceria da farmacêutica AstraZeneca e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Brasil, vão seguir os tramites regulares de pesquisa clínica.
“E temos uma perspectiva que, mesmo que o processo esteja acelerado, em meados do ano que vem tenhamos uma resposta se vai funcionar”, falou.
Ozonioterapia
O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, recebeu na segunda-feira (3) defensores do uso do ozônio como forma de tratamento para o novo coronavírus.
O assunto veio à tona depois que o prefeito de Itajaí, em Santa Catarina, Volnei Morastoni (MDB), sugeriu a administração retal de ozônio como um novo tratamento contra a doença.
Barbosa explicou que a aplicação de ozônio vem sendo estudada para diferentes afecções, principalmente inflamatórias, além de ser muito pesquisada na área da veterinária. Porém, não há até o momento nenhum estudo que comprove a eficácia do procedimento para nenhum tratamento.
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“Agora surge essa novidade e, infelizmente, soma-se a diversas outras propostas terapêuticas para a Covid-19 que também não têm comprovação cientifica, como o uso da hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e cânfora”, disse.
E mais: esses tratamentos sem eficácia comprovada trazem uma consequência muito grave, mais do que efeitos colaterais, segundo o infectologista. Eles proporcionam uma falsa sensação de segurança para quem recebe o tratamento.