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    Viana (ES), que recebeu vacinação em massa, está há 42 dias sem mortes por Covid

    O projeto de pesquisa tem como objetivo avaliar a efetividade da vacina da AstraZeneca, administrada com meia dose, em um intervalo de oito semanas

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    O município de Viana, localizado na Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, está há 42 dias sem registrar mortes por Covid-19. Os índices positivos da situação epidemiológica da cidade podem ser apontados como reflexos do projeto de pesquisa que realizou a vacinação em massa da população, segundo especialistas consultados pela CNN.

    Iniciado em junho, o projeto “Viana Vacinada” é um estudo científico que tem como objetivo avaliar a capacidade da vacina da AstraZeneca, administrada com meia dose, em um intervalo de oito semanas, de reduzir o número de casos da doença. A partir do projeto, cerca de 20.500 pessoas entre 18 e 49 anos foram vacinadas com o imunizante.

    Os resultados preliminares de efetividade mostraram que, após a primeira meia dose (0,25 ml), administrada no dia 13 de junho, 88% dos participantes que não tiveram contato com o vírus produziram anticorpos neutralizantes, necessários para o combate à doença.

    Após a segunda meia dose, aplicada no dia 8 de agosto, a taxa de anticorpos neutralizantes foi de 99,8% dos indivíduos, semelhante à dose padrão (cada dose tem 0,5 ml).

    “Os efeitos colaterais observados foram leves, e a frequência geral foi semelhante com meia dose ou dose padrão. No entanto, a duração dos eventos adversos foi menor no grupo que recebeu meia dose”, afirmou a gerente de Atenção à Saúde do Hospital Universitário Cassiano de Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Valéria Valim, coordenadora do estudo.

    Segundo a especialista, ainda estão em andamento outros testes, que incluem a imunidade celular e as análises de efetividade. Os resultados devem ser apresentados até o mês de dezembro.

    “Os resultados apresentados de imunidade gerada por anticorpos são parciais e necessitam confirmação por um segundo teste chamado PRNT, bem como complementação com os dados de imunidade celular, que estão em andamento”, afirmou.

    A incidência de casos novos de Covid-19 foi semelhante entre os grupos que receberam meia dose e a dose padrão. De acordo com a pesquisadora, uma análise conclusiva será apresentada em dezembro, três meses após a segunda dose. “Se esses resultados se confirmarem, a aplicação de meia dose de AstraZeneca poderá ser uma estratégia a ser adotada pelos governos”, disse.

    De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Regional Espírito Santo, Lauro Neto, a vacinação em massa contribuiu para reduzir o número de casos e o índice de letalidade da doença.

    “Viana é o único município do estado que tem mais de 50 mil habitantes com esse comportamento. Todos os outros municípios do Espírito Santo com dimensão populacional semelhante contam com óbitos mais recentes. O último óbito em Viana, há mais de 42 dias, foi de uma pessoa não vacinada”, disse Neto.

    Segundo o especialista da SBIm, a curva de óbitos tem caído no Brasil devido ao avanço da vacinação e ao grande número de pessoas que foram expostas à doença. Para Neto, os resultados do estudo em Viana são promissores e poderão servir como base para a elaboração de estratégias de ampliação do acesso aos imunizantes.

    “A ideia de conseguir, com doses menores, uma logística de vacinar mais gente em menos tempo é muito significativa. No mundo em que ainda falta vacinar tanta gente, temos muitas nações pobres que não foram vacinadas e que podem ser celeiros de novas variantes, colocando em risco inclusive países que já avançaram na vacinação”, afirmou.

    Na avaliação do prefeito de Viana, Wanderson Bueno (Podemos), o projeto teve um papel importante na imunização da população em um período em que a disponibilidade de vacinas no país esteve menor.

    “Os resultados que temos são bastante consistentes e indicam que a meia dose é suficiente para o esquema vacinal que estamos utilizando e, inclusive, será suficiente para a dose de reforço. Isso vai contribuir muito, principalmente com países que ainda não conseguiram vacinar sua população. Esse estudo vai ajudar na estratégia de imunização considerando a pandemia em seu contexto global”, afirmou o prefeito.

    De acordo com o governo do Espírito Santo, foram registrados 9.158 casos e 270 óbitos por Covid-19 em Viana desde o início da pandemia, em março de 2020. A cidade tem uma população estimada de cerca de 80 mil habitantes.

    O projeto de pesquisa “Viana Vacinada” conta com a participação de especialistas do Hospital Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) e da Prefeitura de Viana.

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