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    Venda de remédios à base de cloroquina dispara, mesmo sem eficácia comprovada

    Comercialização de vitamina C também saltou, com crescimento de até 180%

    Pílilas de remédios com cloroquina e hidroxicloroquina na fórmula
    Pílilas de remédios com cloroquina e hidroxicloroquina na fórmula Foto: Chris Wattie - 12.jun.2019/ Reuters

    Enquanto as preocupações de autoridades da saúde em torno da pandemia de coronavírus no país aumentam, a venda de medicamentos sem eficácia comprovada disparou, com crescimento de até 180% em alguns casos. Entre eles, estão remédios à base de hidroxicloroquina, substância propagandeada pelo presidente Jair Bolsonaro, mesmo sem estudos sólidos sobre a droga, que tem efeitos colaterais perigosos, como parada cardíaca.

    É o que mostra uma pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). O estudo comparou a quantidade de comprimidos e cápsulas comercializados nas farmácias do país no primeiro trimestre de 2019 com a do mesmo período deste ano. As seis substâncias pesquisadas foram aquelas que, de alguma forma, apareceram em debates públicos.

    Entre janeiro e março de 2019 foram vendidas 231.546 unidades de medicamentos com hidroxicloroquina, ante 388.829 no mesmo período deste ano — um aumento de 67,93%. A maneira como Bolsonaro se referia ao remédio pode ter afetado as vendas, avaliou o farmacêutico Gerson Antônio Pianetti, doutor em Controle de Qualidade de Medicamentos.

    “Está tendo certa corrida inesperada e estamos tentando fazer com que o farmacêutico seja o elemento que não deixe isso acontecer. Mas realmente o aumento do consumo de medicamentos se deu a partir de inúmeras falas de pessoas com confiabilidade na população, como alguns médicos, empresários e, principalmente, o presidente”, disse.

    Em uma reunião com líderes do G20, em março, o presidente chegou a apresentar uma caixa de Reuquinol, medicamento que leva sulfato de hidroxicloroquina em sua fórmula. A substância, primeiramente, foi autorizada para pacientes com COVID-19 internados em estado moderado e grave. Mais tarde, o Conselho Federal de Medicina liberou a prescrição para pacientes com sintomas leves, mas com a ressalva de que essa decisão “não seguiu a ciência”, e foi tomada apenas para encerrar a polarização criada em torno do medicamento.

    Só em 20 de março a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu que remédios com hidroxicloroquina poderiam ser vendidos somente mediante receita especial. Profissionais do ramo, entretanto, admitem que é possível ter acesso a esse remédio sem prescrição em farmácias com menos estrutura ou na ausência de farmacêuticos.

    Além da cloroquina

    Segundo o estudo do CFF, o maior aumento em vendas foi registrado pelo ácido ascórbico, a vitamina C. Durante a pandemia, circularam informações sem respaldo científico sobre a capacidade de a substância prevenir o contágio pelo novo coronavírus. O total de comprimidos e cápsulas vendidos saltou de 9.327.016 para 26.116.340 de um trimestre a outro, crescimento de mais de 180%.

    Também foi identificado aumento de demanda por remédios com o colecalciferol como princípio ativo, a chamada vitamina D. Esse elemento também apareceu nas redes sociais como alternativa de prevenção, da mesma forma sem respaldo científico. O aumento nas vendas da substância foi de 35,56%.

    O único remédio que teve a venda arrefecida no período foi o ibuprofeno, com queda de 2,63%. O medicamento esteve no centro de um debate mundial sobre seu resultado contra o novo coronavírus. No início, um diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que esse anti-inflamatório não fosse usado em casos de COVID-19 por suspeitas de agravar a doença. Dois dias depois, a OMS informou oficialmente não haver restrições. Entidades médicas brasileiras, porém, mantiveram as ressalvas ao medicamento.

    Automedicação

    Uma das conclusões do estudo encomendado pelo CFF é a de que a crise sanitária expôs a influência do medo da população e o hábito da automedicação. Farmacêuticos alertam que todos os remédios oferecem riscos, mesmo os que independem de prescrição.

    “A nossa recomendação é de que os farmacêuticos continuem observando as recomendações da Anvisa e as boas práticas farmacêuticas para realizar as dispensações desses medicamentos, e orientem os usuários, pois a desinformação é um inimigo tão poderoso quanto o novo coronavírus”, afirmou o presidente do CFF Walter da Silva Jorge João.

    Riscos

    A depender da dose, o paracetamol pode causar hepatite tóxica. A dipirona, risco de choque anafilático. O ibuprofeno, por sua vez pode ocasionar tonturas e visão turva. O uso inadequado de vitamina C pode causar diarreias, cólicas, dor abdominal e dor de cabeça. Já o uso indiscriminado de vitamina D pode fazer com que o cálcio se deposite nos rins e provoque lesões permanentes. Entre os efeitos colaterais da hidroxicloroquina estão arritmia e parada cardíaca.