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    Veja íntegra da entrevista de Pazuello à CNN sobre plano nacional de imunização

    Dentre os pontos abordados, ele disse que a vacinação contra a Covid-19 no Brasil com o imunizante da Pfizer/BioNTech pode começar entre dezembro e janeiro

    Kenzô Machida, da CNN, em Brasília , Da CNN

     

    O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, concedeu uma entrevista exclusiva à CNN nesta quarta-feira (9). Dentre os pontos abordados, ele disse que a vacinação contra a Covid-19 no Brasil com o imunizante desenvolvido pela Pfizer/BioNTech pode começar entre dezembro e janeiro. Ele garantiu que, se a Coronavac receber o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), será usada no plano nacional de imunização (PNI).

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    Confira abaixo a íntegra da entrevista

    Ministro, obrigado por nos receber neste momento tão oportuno.

    Estou à disposição e espero que a gente possa esclarecer para todo o povo brasileiro essas situações sobre as vacinas.

    O Plano Nacional de Imunização foi finalizado hoje. O que prioriza esse plano?

    O plano faz parte do Programa Nacional de Imunização e foi preparado e montado por vários grupos temáticos, é um [plano] de dois, três meses, que fizemos com todas as pessoas que trabalham na área. Ele está com seus grupos definidos: idosos, pessoas com comorbidade, profissionais da Saúde. Já existe uma sequência exata desses grupos, que está no plano. É um plano robusto, de 95 páginas, e tem tudo que interessa e que vai servir para mantermos o Brasil imune do coronavírus de uma forma nacional. Nosso país jamais será dividido.

    O plano conta com uma cronologia de como as vacinas serão distribuídas? Como será a logística de distribuição?

    Nosso PNI já é o maior programa de imunização do mundo. O SUS trabalha de forma tripartite, com estados e municípios, e cada um já tem sua função dentro desse programa. Hoje, estamos fechando essa malha de distribuição, em acordos com as companhias aéreas. A partir daí, os estados recebem, entram na sua etapa, fazem ações nas capitais e distribuição para o interior. Os municípios executam, efetivamente, a vacinação. O plano envolve os três níveis de governo e isso faz com que a velocidade das ações seja a mais rápida possível.

    O plano tem quatro fases. Na primeira, os profissionais da saúde, pessoas com mais de 60 anos. Na segunda, também idosos. Na terceira, pessoas com comorbidades. Na quarta, professores, profissionais de segurança e funcionários do sistema prisional. Os presos saíram dessa fase. Por quê?

    Por que eles serão vacinados dentro das suas faixas de comorbidades ou em outros grupos, como previsto para todos brasileiros.

    A imunização vai começar por qual vacina?

    Essa é a pergunta do milhão. Estamos fazendo tudo que pode ser feito para acelerar o processo. Isso envolve a prospecção do que está acontecendo. O que está acontecendo hoje? Nós não temos, de verdade, vacina registrada no mundo. A FDA [Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos] registrou a vacina da Pfizer para uso emergencial, não uso definitivo. Precisamos que as empresas concluam seus estudos de fase 3 e entrem com processo de registro nos órgãos reguladores: no caso do Brasil, na Anvisa, ou nos órgãos internacionais. Isso faz com que nós possamos ter autorização de uso.

    Já fizemos acordos de opção de compra, ou por transferência de tecnologia, ou participando de consórcio internacional de vacinas da seguinte quantidade: por meio da AstraZeneca/Oxford já contratamos 102 milhões de doses. Mas isso é por transferência de tecnologia. Incorporamos a tecnologia, recebemos os insumos e a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] produz as doses e fornece ao ministério. Isso no primeiro semestre [de 2021]. No segundo semestre, já com a tecnologia incorporada, recebemos os insumos e fabricamos até 160 milhões de doses. São 260 milhões de doses já nesse acordo com a AstraZeneca. Está na fase 3, vai ser concluída em dezembro e submetida à Anvisa para registro.

    A Anvisa já vem recebendo esses dados de forma automática, o que faz o processo ser mais acelerado que o normal. A Anvisa vai fazer o que puder para permitir que a gente tenha o registro na mão o mais rápido possível. As primeiras doses da AstraZeneca chegam para a gente em janeiro: 15 milhões. E mais 15 milhões em fevereiro. Além da AstraZeneca, entramos como sócios do consórcio da Covac Facility, conduzido pela ONU/OMS para dar equidade em quantidade e preço para todos os países. O governo fez um aporte de R$ 800 milhões para o desenvolvimento e temos os recursos separados para que, assim que a primeira vacina desse consórcio for registrada, comprarmos 42 milhões de doses. Não compramos ainda porque não há um registro. Se não há registro, o governo não pode comprar.

    Nós e cento e poucos países do mundo pagamos pelo desenvolvimento de nove vacinas. A partir da vacina registrada, fazemos um contrato de compra de 42 milhões de doses. Com as 260 milhões, vamos para 300 milhões de doses. Estamos fechando o memorando de entendimento com a Pfizer. É a vacina que está mais adiantada, mas mesmo ela ainda não tem registro. Está como uso emergencial. Essa vacina está sendo usada assim na Inglaterra. A Pfizer fechou conosco 70 milhões de doses, sendo entregues a partir de janeiro. A parte logística dessa vacina, já tem bastante coisa superada. Ela preparou um transporte já refrigerado que nos dá 30 dias mantendo a temperatura. Já estamos comprando freezers que chegam a -70ºC para capitais e cidades-polo.

    Essa logística está toda em paralelo, fechando hoje a malha viária aérea, a compra de freezers, de 300 milhões de seringas – já com processo aberto, o plano pronto, e agora esperamos que os registros se concluam para que a gente possa efetuar a compra. É a mesma coisa para qualquer vacina produzida no Brasil ou importada que haja o registro. Na quantidade, na segurança e no preço. Fechando essas condições, vamos comprar. Se você me perguntar: ‘mas e [a vacina] do Butantan, vai ser comprada’? Todas que forem registradas serão compradas.

    A primeira vacina que for registrada será comprada? Se a Coronavac for a primeira vacina registrada na Anvisa, será a vacina usada na imunização de todos os brasileiros?

    Eu coloco isso, como tem sido repetido pelo presidente da República. A vacina que estiver registrada na Anvisa, garantindo sua eficácia e segurança, será comprada e distribuída para todos os brasileiros. 
    Sim, essa é a resposta.

    A partir de quando o ministério prevê o início da imunização?

    Precisamos separar duas formas de iniciar o trabalho. Uma forma emergencial, o que está sendo feito hoje. Os riscos estarão a cargo de quem está recebendo a vacina. A Anvisa abriu esse precedente, de poder haver vacinação de uso emergencial na semana passada. Não havia essa previsão antes. Seguindo o que acontece no mundo, a Anvisa se colocou à disposição de autorizar o uso emergencial. Esse pedido parte da própria produtora, que solicita tendo em vista seu desenvolvimento.

    Não cabe ao governo A ou B, estado ou federal, fazer o pedido à Anvisa. Isso é emergencial. O uso emergencial pode acontecer agora em dezembro, por exemplo? Em hipótese, se tivéssemos as doses recebidas. Se fecharmos o contrato com a Pfizer. Isso pode acontecer no final de dezembro, em janeiro, em doses pequenas, em quantidades pequenas, que são de uso emergencial. Pode acontecer com a Pfizer, com o Butantan, com a AstraZeneca, mas isso é foro íntimo da desenvolvedora. Não é uma campanha de vacinação.

    As vacinas registradas, que é a outra etapa, quando conclui a fase 3 e submete para análise da Anvisa toda a documentação de produção, isso deve acontecer no final de dezembro. A Anvisa, na primeira oportunidade, vai apresentar o registro. Se ele chegar em janeiro, já teremos doses da Pfizer, doses da AstraZeneca entregues. Se o Butantan já tiver com esse registro, teremos do Butantan também.

    Os quantitativos dependem das entregas. Temos de previsão 15 milhões da AstraZeneca e temos a previsão de 500 mil doses da Pfizer, em janeiro. Com relação ao Butantan, ainda não tenho o número de disponibilidade em janeiro, mas se observarmos isso é bem provável que entre janeiro e fevereiro estejamos vacinando a população brasileira, já com registro.

    Ontem, na reunião, os governadores deixaram claro a preocupação de um PNI que fosse efetivo para todo o país. Essa comunicação deve aumentar com os governadores também?

    O governo federal, o SUS, são os responsáveis pelo PNI. Não haverá ação individualizada em estados. Isso nos enfraquece. Nós vamos trabalhar para que isso não aconteça. De que forma? Oferecendo a vacina. Garantindo que a vacina vá chegar e governadores e prefeitos tenham essa segurança. Não é por imposição, é por garantia. Vamos mostrar e apresentar todo o trabalho para que haja tranquilidade e segurança em todos estados da federação.

    Ontem o senhor falou que a previsão é que só tenha vacina no prazo de 60 dias e isso repercutiu muito. Estamos todos ansiosos. Esse prazo não seria muito longo?

    Temos que compreender que o que está acontecendo hoje de vacina no mundo é emergencial, não registrado. Quando eu falo dos prazos da Anvisa, são os prazos regulamentares. Enquanto tiver dia e luz, a Anvisa vai trabalhar para acelerar o processo, mas temos que compreender que isso é para segurança. Não podemos correr o risco de vacinar a população e, depois, descobrir que essa ou aquela vacina não teve essa avaliação de segurança. Repito, não há registro no mundo ou no Brasil. O que está acontecendo hoje tem também o lado midiático.

    Na reunião, o senhor teve um embate com o governador João Doria, de São Paulo. Isso mostra que estamos longe do consenso pela vacina?

    Quanto à conversa com o governador João Doria na reunião com os governadores, foi uma conversa muito polida e cortês, mesmo com as diferenças de ideias. Acredito que o que está acontecendo hoje em São Paulo faz parte da própria apreensão. Nossa comunicação precisa ser bastante clara de que sim, vamos comprar as vacinas registradas, que não há impedimento. Temos um memorando de entendimento, não vinculante, claro, mas em vigor com o Butantan. Então não mudamos nada no nosso modelo.

    Continuamos falando com o Butantan naturalmente, é nosso fornecedor de vacinas para o SUS. Setenta e cinco porcento do que se vacina no Brasil vem do Butantan. Não há qualquer tipo de atrito, pelo contrário. Estamos trabalhando junto com o Butantan para o reforço de seu parque fabril para o desenvolvimento de vacinas como um todo.

    E assim que tivermos as vacinas produzidas e registradas em segurança será feito o contrato de compra.

    Enquanto tivermos 210 milhões de brasileiros precisando de vacina, que representam quatrocentos e não sei quantos milhões de doses, temos que comprar vacinas. Compraremos todas que estiverem registradas e em condições de serem compradas.

    Acredito que faz parte da discussão. Em momento algum houve desrespeito ao governador ou a mim, mas são posições que ele coloca e eu rebato e faz parte do momento

    Que tipo de discussões?

    Discussões sobre “vamos comprar, não vamos comprar”, “pode fazer o contrato agora”, “por que que faz transferência de tecnologia?”. Então, os modelos que estamos usando são para cada caso.

    No caso do Butantan nós achamos que o modelo ideal seria o memorando de entendimento e a aquisição quando disponibilizada.

    No caso da da AstraZeneca o modelo que encontramos foi o da transferência de tecnologia. No caso da Covac Facility o que encontramos foi a participação no consórcio e só comprar quando estiver registrado. No caso da Pfizer é só comprar quando estiver registrado, como o Butantan.

    O quanto esse embate político em torno da vacina pode ser prejudicial para termos uma imunização em todo o país?

    O Ministério é executivo. Com relação à vacina do Butantan, nós não tratamos com o governo de São Paulo. A parte política não nos diz respeito. Nós tratamos de vacina, de prática e tratamos de não deixar o país se dividir. Vamos vacinar todos os brasileiros com [a vacina] do Butantan, da AstraZeneca, da Pfizer ou com a Covac Facility.

    Como o senhor avalia a situação da pandemia hoje no país? 

    Temos uma elevação no número de casos e óbitos. A gente, claro, acompanha todas as cidades do país, todas as curvas e essa é uma realidade.

    Que fatores motivaram a mudança da curva? Relaxamento de medidas, eleições, aglomerações? As curvas elas podem ter subidas e descidas, não só uma senoide. 

    Só teremos o final disso, controlado, quando tivermos a vacina para todos os brasileiros – e isso será muito em breve — e o antivírus desenvolvido para essa doença. Enquanto não tivermos isso, estamos sujeitos a subidas e descidas.

    O que precisamos compreender? Ter um aumento de contaminação não reflete, obrigatoriamente, no aumento de óbitos. Já aprendemos a lidar com a pandemia, com a doença.

    Desde a compreensão de que o diagnóstico e o tratamento ao paciente é definido pelo médico o mais rápido possível, e isso evita que agrave e evita os óbitos.

    Essa compreensão aconteceu para nós de maio para junho, quando trabalhamos para mudar essa compreensão.

    Mas temos vistos os números crescerem de novo. Estamos vivendo uma segunda onda da doença? O senhor já falou em repique. O que isso quer dizer?

    O que eu quero dizer com repique é a oscilação da onda, a oscilação de subida é um repique e normalmente [precede] uma descida. 

    Você pode chamar o repique de uma segunda onda, de uma elevação da primeira onda? Pode chamar de várias maneiras, mas como não chegamos no final, se você pegar a senóide ela começa a subir de novo. 

    Isso que chamamos no ministério de aumento da contaminação ou repique da onda que estamos vivendo.

    É importante que vamos ter consequências e reflexos dessa pandemia. Na literatura, chamam de ondas, mas podemos entender como consequências e reflexos.

    Estamos enfrentando o acúmulo de doenças de pessoas que não se trataram, que agravaram, que podem e estão vindo a óbito. Isso é uma segunda consequência.

    Temos a terceira e a quarta diretamente ligada diretamente à perda da capacidade econômica, como aumento da violência doméstica, dos feminicídios, dos estupros.

    E a quarta consequência, a mais dolorosa, que é a automutilação e o suicídio. Essas consequências serão inevitáveis e o Ministério tem trabalhado com estados e municípios para combater.

    Sobre a oscilação da curva, pode chamar de repique, nova onda. Sim, estamos com uma oscilação de subida, estamos acompanhando, reforçando com estados e municípios, com leitos, com equipamentos, com tudo, com recursos, com tudo aquilo que nos é solicitado para que eles se preparem e tratem da melhor forma possível a população.

    O senhor é ministro desde maio, foi efetivado em setembro. Ganhou apreço pelo cadeira?

    Olha, a missão é muito boa, mas é uma posição de nomeação do presidente da República e não existe estar com o cargo à disposição. O cargo está à disposição todos os dias.

    Então, a visão do presidente para eu estar aqui hoje, permanecer por mais algum tempo, depende da visão do presidente da República.

    Trabalhar com a equipe que eu tenho aqui, ter feito resultado ao país ou estar dando algum resultado que eu acredito ser positivo ao país, é uma honra.

    Eu acredito que é a posição correta, tenho honra de estar na posição que estou, me sinto honrado pelo presidente e por outros ministros confiarem no trabalho e espero que a gente apresente ao país o melhor resultado possível.

    Uma mensagem final aos brasileiros, ministro.

    Acredito que precisamos confiar que todos no Executivo, no governo federal, estadual, municipal, estão reunidos e trabalhando juntos para encontrar a melhor resposta.

    Confiem, nós trabalhamos todos os dias e estamos atentos ao que acontece no mundo e no Brasil. A missão é grande, mas precisamos ser um só, um só país, uma só posição. 

    Todos os brasileiros não podem ser separados por estado, por classes. Tem que ser tratados iguais em relação a essa pandemia.

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